segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

BARCO À DERIVA




MEU BARCO ESTÁ À DERIVA

MENSAGEM DE NATAL


Meu barco está à deriva. Navego por navegar, em águas que não são as minhas. Sem rumo, sem data para chegar, sem destino e sem norte.
Tu eras o meu norte, a minha inspiração.
E agora, o que faço com as minhas palmas com a minha coroa de louros?
Havia um sol generoso e fiel. Havia uma luz que guiava meus passos. Um farol. Havia um farol agora encoberto pela névoa densa e cruel.
Tudo eu suportaria, mas não a tua indiferença.
Acostumei-me com a doce magia da esperança, acreditei em promessas, mas tiraste o coração de campo. A tua razão fria e calculista está no comando.
Navego sem pressa sem direção ao sabor da maré ou da correnteza. Abandonei-me nos braços do destino. Entreguei-lhe o leme. Não tenho mais alternativas nem forças e nem lágrimas. Tentei caminhos, trilhas, veredas...
 Então ainda grito com todas as forças:
 - Onde estás? Em que esconderijo?
Como resposta, somente o eco da minha própria voz. Teu coração emudeceu.

Que cada um dos meus queridos leitores encontre seu norte em 2015. Que haja um farol e um sol para aquecer-te e iluminar teu caminho. E que os braços do destino aonde vais te abandonar se chame Jesus. Entrega-lhe o leme. Ele conhece os atalhos ele saberá enxugar tuas lágrimas. Ele conduzirá teu barco ao porto seguro e lá haverá alguém te esperando, talvez na forma de um anjo, de um príncipe, de uma mulher, ou de uma flor.



 

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

MIRAMAR FORJADO NA DIFICULDADE





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MIRAMAR FORJADO NA DIFICULDADE


A família de Domingos Chies era numerosa, como, aliás, a maioria naquela época. O dinheiro sempre era escasso e isso atrapalhava os planos de  Marialdo que queria comprar uma gaita. Certo dia, depois de uma chuvarada, ele e o Rico foram pescar lambari no arroio Canoas. Voltando para casa, fizeram uma parada no Arsênio que tinha uma fábrica de queijo. Naquela época as queijarias produziam um subproduto, muito valioso, o soro, utilizado para engordar porcos.
 Justamente naquele dia uma das porcas do Arsênio veio com cria. Para a sorte do Marialdo a porca que, tinha somente doze tetas, pariu treze filhotes. Um porquinho ficaria sem teta. Então Marialdo se ofereceu para criá-lo com chupeta. Pôs o porquinho debaixo do braço e, apesar dos protestos, o filhotinho foi arrancado do convívio da sua família e levado para o morro onde morava o rapaz.
Demorou alguns dias para que o porquinho se adaptasse a sua nova mãe, o Marialdo. Logo, porém, se familiarizou e então entendeu que aquilo que parecia uma desgraça não era tão ruim assim. Recebia carinho e atenção de todos; ele era um porquinho feliz. 
Agora já comia restos de comida, cascas, milho, mandioca e demais sobras da casa.  Foi crescendo saudável e depois de um ano e meio já era enorme. Pelos cálculos do Marialdo, se o vendesse, ainda não daria dinheiro suficiente para comprar a tão sonhada gaita.
Mas, finalmente chegou a hora de vendê-lo. A balança do Urbano Rauber, que comprava os porcos por aqui, registrou trezentos e cinquenta quilos. Um porco fora do comum.  Com o dinheiro da venda, finalmente o sonho do rapaz virou realidade. Até sobrou um dinheirinho para ir a um baile em Boa Vista onde uma linda alemoa havia enfeitiçado o coração do mancebo.
Agora, o Miramar tinha duas gaitas. A do Vilmar e a do Marialdo.
Rapidamente, o Irani e o Verealdo aprenderam a tocar.
Assim nasceu o Miramar. Forjado na dificuldade, cresceu impulsionado pela determinação daquela família e pelo talento dos três meninos que muito cedo aprenderam a lutar pela vida.  
O Miramar ainda está em atividade, porém, hoje, nenhum dos fundadores continua na banda a não ser o Marialdo, não como músico mas como proprietário. Quem sabe, seria hora de reunir os primeiros músicos para um momento de confraternização.
Um abraço muito especial para a família de Domingos e Angelina Chies que durante muito tempo foi, também, a minha segunda família.



segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

COMO NASCEU O MIRAMAR

Foto de Verealdo Chies. O início do Miramar. Na foto Irani e Verealdo na gaita e Marialdo na bateria

Escola onde nos reuniamos para os ensaios





foto de 1965 a 1970


COMO NASCEU O  MIRAMAR


      No início não tinha nome, e nem data de nascimento. Nasceu como normalmente nascem os grandes empreendimentos, isto é, pequeno. Pesquisando, concluiu-se que deve ter iniciado no ano de 1963. Portanto, lá se vão mais de cinquenta anos. Arroio Canoas é sua Terra Natal, mais precisamente a Comunidade do Sagrado.           Entre as manifestações culturais de Arroio Canoas o Miramar é um marco importante.
           Começou com três meninos tocando gaita: Vilmar, Irani e Verealdo. Saíam por ai tocando em festas, casamentos e aniversários. As pessoas se encantavam vendo e ouvindo aquelas crianças tocando. Cobravam somente um valor simbólico. Quando tocavam aí por perto, os irmãos mais velhos carregavam as gaitas e os meninos andavam a pé. Algumas vezes caminhavam quilômetros para não gastar com viagens. Eram tempos difíceis e a grana sempre era curta. Um dia foram tocar mais longe e contrataram o “Basei para levá-los”. A apresentação rendera somente R$250,00 e a viagem custou R$ 300,00.
           Aos poucos, outros instrumentos foram se juntando às duas gaitas. Por volta de 1966 comecei a participar tocando trompete. Aprendi a tocar na Escola Normal Rural “Estrela da Manhã”.  Eu tocava na banda do colégio. Logo o Verealdo comprou, também, um trompete e fazíamos dupla. O Negrim comprou uma bateria usada. Era tão alta que mal se via a cabeça dele apontando por cima dos pratos. Então resolveu colocá-la na frente, pois não se conformava em ficar escondido lá atrás. O Irani e o Verealdo eram os mais novos, porém donos de um bom senso apurado. Tanto brigaram até que a bateria voltou para o seu lugar. Mas o Negrim, inconformado, mandou fazer um estrado para colocar seu instrumento e dessa maneira ele também podia ser visto.              Aos poucos mais instrumentos foram sendo agregados. O Irani passou a tocar guitarra, o Lalo teclado e o Lori, contrabaixo. O Verealdo trocou o trompete por um trombone. Com essa formação a banda tocou durante vários anos. Fazíamos sucesso por tudo principalmente na região alemã de Estrela, Teutônica e Poço das Antas.
            Na próxima edição vou contar como o Negrim arrumou dinheiro para comprar a primeira gaita.
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                              

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

IL BO DEL REMO

 Il ze caduto stirá in terra.
 Ben, questo lo gavemo prendesto a muche.
Siamo partiti domenega de matina bem bonora



                                   
IL BO DEL REMO
La vero storia

In un certo giorno il Joanim le vegnesto trovarmi. Lui a portato ensieme il giornale, dove il Laurindo haveva scrito sora i bo che i gera scampadi de la sogue del Remo. Lui ha deto ghe ledesse il artículo sora i bo, par lu.
 Intanto che mi ledea lu gera molto atento. Quando ho fenito de leder el artícolo lui ha detto:
- Una bela storia, ma tutte bugie.
- Alora sei drio chiamare il professore Laurindo de bugiaro?
- O lei, o chi le ha contato la storia. La storia dei bo la ze tutta sbagliata. I contadori de storie i inventa sempre cose per la storia esser piu bella.
- E alora come a sucedesto tutto?
- Per scominciare, no i gera due bo, ma cinqüe! Uno piu cativo del altro. I ze scampadi un venerdi vanti notte, e nessun li a piu visti. Al sábato i a cercato per tutto e gniente de trovarli.
- Alora chi ha prendesto i bo?
- Alora te conto: Como nessuni trovava i bo sono andato parlare col mio fratello, il Gambon,  par veder se il gavea coragio de venger insime.
Siamo partiti domenega de matina bem bonora. Se gavea due cavai valenti. Se gavea insimi sol i lassi e niente altro.
Intanto che se andea a caval il Gambon me ga dito che la su a Coblens i gera tutti spaventadi com certe bestie selvaregue in tel mato. Mi me piceria andare fina la, per veder che bestie che le ze.
Quando siamo arivatti a Coblens la populacion ne ha ricevesto come i salvatori. Gera arivato i homini che i andea caciar le bestie che spaventava la populacion.
Pena dentro del mato li abimo visto suito che i gero proprio il bo del Remo che i gera nascosti li nel mato nella terra de un tal de Salvi.
Il Gambon ga arma il laço e nella prima laçada ne ha prendesto uno. Lo govemo liga in una pianta e siamo andati in cerca dei altri. Alora uno le vengesto contra nantri e mi go atirá il laço e go prendesto anca cuelo. Dopo ne ho prendesto naltro e il Gambon naltro anca lu. E alora il Remo ze vengesto torli con un camion de cuei che carga bo. Ma scolta Joanin se non sono sbagliato, ai parlato de cinque bo. Cosa ha sussedesto con quel altro? A questo punto il Joanin ha dato una tossida, ha ciapato il paiero che il gaveva su la recia, ha penssato un poco fece una pose de importante e dice:
- Ben, questo lo gavemo prendesto a muche. Mi lo go prendesto per la coa e il Gambon per i corni. Io ho conta fina tre e insieme ne abiamo dato un colpo seco al bestiol. Questo lera al pio cativo de tutti. Il ze caduto stirá in terra. Quando son andato per prenderlo com la corda ho visto che il gera belche morto. Il Gambon  ghe ha dato un colpo tropo forte che lo ha desnucá. Per sorte gavea incieme la faca e ghe ho cavá il sangue la propio.
- Questa la vera storia. Mi penso che il Laurindo necessita essere piu atento con i contadori de storie e frotole. Tante volte il popolo conta storie mentirose sol per aparecere nel giornale.
Obrigado, Elio, pela ajuda.

               


segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

CAÇA AO TICO-TICO

 Perseguíamos um tico-tico

FUNDA COM TIRAS DE BORRACHA

Todo o guri, na época, tinha que ter uma funda;

 para se salvar refugiou-se numa moita espinhenta no meio do nosso potreiro.






CAÇA AO TICO-TICO

Houve época em que eu sentava junto aos mais velhos para ouvi-los falar de antigamente. Os anos passaram e hoje os papéis se inverteram. Cá estou eu contando histórias reais e fictícias sobre coisas que ouvi, e das vivências próprias de épocas passadas.
Considero-me um privilegiado por ter ao meu dispor a tribuna do jornal Ação e, assim, alcançar um grande número de pessoas para divulgar ensinamentos, levar diversão e, resgatar alguns aspectos da cultura de nossa gente.
Nos últimos anos, as coisas mudaram muito rapidamente. Mesmo pessoas mais novas, vinte ou trinta anos, viveram experiências hoje já ultrapassadas. Quem ainda utilizaria o vídeo gama que há bem pouco tempo era um símbolo de modernidade. Nossos avós e bisavós nasceram e morreram sem terem vivenciado mudanças sociais, tecnológicas e culturais significativas.
Venho de um tempo em que não tínhamos energia elétrica na nossa casa. Eram tempos em que fabricávamos os nossos próprios brinquedos. Ainda que as crianças de hoje não consigam entender isso, mas éramos felizes. Era divertido e educativo.
Todo o guri, na época, tinha que ter uma funda; uma forquilha cuidadosamente colhida numa capoeira, um couro tirado de algum chinelo velho e duas tiras de borracha cortadas de alguma câmara de automóvel. As câmaras, na época, eram feitas de puro látex diferente das de hoje fabricadas com borracha sintética e, por isso, sem elasticidade, imprópria para fazer fundas.
Naquele domingo de tarde, como de costume, saímos para caçar pelos potreiros. Perseguíamos um tico-tico que para se salvar refugiou-se numa moita espinhenta no meio do nosso potreiro. Cercamos a moita e disparamos fundadas de todos os lados tentando acertar o coitado. Então o Flavio espichou sua funda e com toda força disparou o tiro que atravessou a moita indo acertar a cabeça de Marialdo Chies no outro lado da moita. A pedra fez um estrago significativo no supercílio deixando o rosto dele todo ensanguentado. Nós todos ficamos apavorados. O Erno, que não podia ver sangue, desmaiou. Marialdo mal podia caminhar. Meio cambaleando levamos o guri para cima. Estávamos preocupados com a explicação que daríamos á nossa mãe. Então ela tratou de lavar o ferimento com água oxigenada e fez um curativo usando o kit de primeiros socorros que Tia Clara deixara lá em casa na última vez que esteve nos visitando.
-Hora, disse ela, amarrar os ferimentos com um paninho! É a total falta de higiene! Ela era enfermeira no Hospital Santa Casa.

 Por sorte, ao atravessar a moita, a pedra perdeu força abrindo, somente, um pequeno corte. Por ter sido na sobrancelha sangrou muito dando a impressão de um ferimento sério. Marialdo, ainda hoje, tem uma pequena marca acima do olho esquerdo. Um desavisado nada percebe, mas quem olhar com atenção vai perceber uma cicatriz muito discreta encoberta parcialmente com os pelos da sobrancelha.

domingo, 23 de novembro de 2014

ENGAIOLADOS

Olhar pro céu e pensar em nada

Pra poder sentar na areia da praia sem ninguém por perto

E tem que ter espaço para balancinhos

balancinhos, que meu pai vai fazer. Desses de madeira, pendurados entre duas árvores.

 Aprender a suportar a nossa própria solidão.
Camila Lenk


Este texto é de Camila Lenk uma amiga do face e que publica seus escritos no seu blog

Engaiolados
Sempre achei estranha essa gente que tem medo do amor.
Daí que tenho observado muitos casos de gente que não quer se entregar, gente que se diz frustrada com os antigos relacionamentos,  ou que quer ser livre, ou ainda que tem  medo ou receio dos seus próprios sentimentos.
E, afinal, o que é ser livre?
Eu já fui livre tantas vezes estando vinculada à alguém.
E já me senti presa tantas vezes estando “sozinha”.
Ouço gente dizendo: "Quero ser solteiro, estou preocupado em ganhar dinheiro". Há controvérsias. Conheço histórias de pessoas bem sucedidas  que casaram precocemente. Souberam domar as artimanhas desse desafio.
E que graça teria uma casa  grande e linda, sem alguém pra dividir essa mansidão?
Ah claro, precisamos das nossas particularidades. E também do momento solitário. Só nosso. Pra poder sentar na areia da praia sem ninguém por perto. Olhar pro céu e pensar em nada. Aprender a suportar a nossa própria solidão.
Mas ter alguém que nos liberte de nós mesmos pode ser encantador.
Sempre imaginei num futuro, uma casa baixa (odeio apartamento que me prive do sabor da liberdade), com um terreno cheio de plantinhas e árvores. Árvores que eu plantarei junto com meu parceiro e filhinhos. Com um lago, de água cristalina. Sem peixinhos. Só a água purificada.  E patinhos em volta.
E a casa deve ser grande, sim, porque eu quero ter cachorros e dois filhos. E tem que ter espaço para balancinhos, que meu pai vai fazer. Desses de madeira, pendurados entre duas árvores. A casa será sempre cheia de sobrinhos. 
No entanto, os momentos a dois são necessários, revigorantes.  Uma taça de vinho e uma conversa saudável no final de um dia cansativo.
Há quem não tem planos de amor. Esses planos de viajar juntos, morar juntos, de viver juntos, de beijos no elevador, discussões fulminantes, mas sem quebrar quadros. Quebrando raivas, apenas.
Nenhum relacionamento vai ser igual ao outro. Cada pessoa, mesmo que parecida, é única. Comparações são equivocadas.
 O medo de amar é o pior dos medos! Não ama porque quebrou a cara no relacionamento anterior?  Não ama porque tem medo do replay ? Não ama porque ficou frustrado com a última psicopata que apareceu na sua vida? Não ama porque ele te traiu? Covardia!
O Medo pelo menos reage, mesmo que ofuscado e receoso. A Covardia tem essa maneira só dela de dar um passo e voltar. De voar sem cair. De aterrissar e não sair do lugar.
Quero viver numa gaiola aberta. Uma gaiola que caibam dois. Uma gaiola com a placa: "Seja livre, mas volte sempre que quiser".   
Odeio gaiolas fechadas. Odeio tudo que engaiola o vento e o sentimento.
 A liberdade é meu refúgio. Mas o amor é quem me acorrenta!

Camila


Quero viver numa gaiola aberta.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

VALORIZANDO NOSSAS RAÍZES

Elas são proprietárias do “Restaurante e Buffet da Zali”

Carine e Terezinha são filhas de Arvedo

Angst tinha uma casa comercial e uma queijaria em Cafundó. 

Angst tinha uma casa comercial e uma queijaria em Cafundó. 

Elas são proprietárias do “Restaurante e Buffet da Zali”

Elas são proprietárias do “Restaurante e Buffet da Zali”





VALORIZANDO AS NOSSAS RAÍZES
Cafundó.

Quem julgar essa localidade baseado no seu nome poderá pensar que se trata de um lugar horrível, na gíria, “onde o diabo perdeu as botas”, “ o fim do mundo” ou expressões equivalentes. No entanto, é um lugarejo aprazível que exibe uma natureza exuberante e é cercado por morros verdejantes que encantam o transeunte.
Em épocas passadas, era uma comunidade próspera com muitos colonos cultivando as terras que, a pesar de íngremes, possuíam um solo fértil de modo que onde se plantasse um pé de milho, com certeza, a colheita seria garantida. Lembro que havia uma expressão popular que dizia que os colonos de Cafundó plantavam o milho com a espingarda carregando as sementes num cartucho.
  A situação de Cafundó mudou porque a agricultura moderna foi descartando aquelas encostas acidentadas, por não permitirem a mecanização. Daí o êxodo rural foi inevitável tirando os moradores da localidade que foram procurar trabalho nas cidades próximas.
Por mais que queiramos fugir do nosso berço jamais nos livraremos das influências do meio onde nascemos e nos criamos.
 Em geral, as comunidades desse nosso interior são celeiros de indivíduos ilibados, graças à educação que receberam nas famílias e no meio onde aprenderam a serem pessoas de caráter e honradas.
De Cafundó saíram muitas famílias valorosas porém, hoje, quero me referir, de um modo especial, à família de Arvedo Angst. Angst tinha uma casa comercial e uma queijaria em Cafundó. Quando percebeu a inviabilidade econômica da localidade tratou de buscar novos horizontes. Vendeu sua propriedade em Cafundó e comprou a Rodoviária de Barão onde, também, mantinha um restaurante. 
Carine e Terezinha são filhas de Arvedo e herdaram do pai a vocação pelo ramo. Elas são proprietárias do “Restaurante e Buffet da Zali”, localizado na Rua Leonardo Celso Mombach 137, Barão, RS · Centro (51) 3696-2281.
O restaurante da Zali é o novo patrocinador desta coluna. Fico grato e, com certeza, será um investimento que trará bons resultados.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

TIA CLARA E O VEXAME

A palha era descartada num local da propriedade
e durante muitos dias era motivo de brincadeiras e diversão para a gurizada.

Mais tarde, a prefeitura de Montenegro forneceu máquinas modernas tocadas a motor,
 facilitando a vida dos colonos.



 TIA CLARA E O VEXAME



Em épocas passadas, por todo este interior, os colonos, além de muitas outras coisas, também, semeavam trigo. As propriedades precisavam bastar-se tanto quanto possível. Hoje, ninguém mais pensa em cultivar este cereal. Os agricultores compram a farinha e muitas vezes, até o pão.
Lá no início da colonização, o trigo era trilhado com mangual. Depois, surgiu uma máquina tocada à força humana. Dois homens fortes giravam um equipamento que debulhava as espigas. O trigo saía junto com a palha sendo necessário, depois, separar a sujeira dos grãos. Era, ainda, um processo primitivo, trabalhoso e árduo.
Mais tarde, a prefeitura de Montenegro forneceu máquinas modernas tocadas a motor, facilitando a vida dos colonos. Mas a evolução não parou por ai.  Hoje, um único homem sentado com todo o conforto em sua ceifadeira faz o trabalho de centenas de trabalhadores braçais.
 Depois do trigo recolhido nas roças, a máquina passava pela comunidade e, mediante o pagamento de uma taxa, cada colono podia trilhar seu trigo. A palha era descartada num local da propriedade e durante muitos dias era motivo de brincadeiras e diversão para a gurizada.
Quando Tia Clara soube em que dia a trilhadeira passaria em nossa casa, deu um jeito de vir.
 Ela adorava estas ocasiões e sempre se mostrava muito prestativa.  Recolhia algumas espigas que os trabalhadores deixavam cair e recomendava que tivessem mais cuidado. Também, abria o saco para despejar o trigo debulhado.
 Na trilhadeira havia um ventilador que sugava o ar para produzir uma correnteza que separava os grãos da palha. Tia Clara, num momento de descuido, passou perto do ventilador que, juntamente com o ar, sugou, também, seu vestido e a saia de baixo (una rock) deixando-a só em trajes íntimos. Ela tinha muito pudor e ficou extremamente vexada com a situação. Todos tínhamos um grande carinho pela Tia, mas ninguém conseguiu segurar-se e a gargalhada foi geral. Diante da atitude de todos, ela saiu daí o mais rápido que pode. Não conseguia correr porque estava manca devido a uma sequela que ficara de um tombo que levou quando ia aprender a andar de bicicleta. Minha mãe acudiu-a e a conduziu para dentro de casa.
Depois de muito trabalho meu pai conseguiu desvencilhar o vestido do ventilador, porém não sem deixá-lo todo despedaçado. Tia Clara não saiu mais de dentro de casa naquele dia. Mais tarde nós, gurizada, fomos consolá-la. Dissemos que foi uma fatalidade. Que ela não teve culpa e que não ficasse aborrecida. Dissemos que a amávamos muito e que aquilo para nós significava nada.
 –Pois é, disse ela, mas todos riram de mim. Então pedimos desculpas.
 No dia seguinte ela já esquecera o fato e voltou a ser a Tia de sempre. O vestido que mamãe teve de emprestar-lhe ficou apertado nela, mas não houve outro jeito.
Quando embarcou no ônibus meu pai disse que ela deveria fazer um regime por que seu vestido estava apertado. Ela ainda quis responder, mas o ônibus já estava partindo e a porta fechada. Papai esperou o momento certo para mexer com ela. Nós só vimos o dedinho dela apontando na direção de papai, mas não pudemos mais ouvir os seus impropérios.
Quando o ônibus já havia partido tivemos que rir. Mamãe disse:
-Coitada!


domingo, 2 de novembro de 2014

A DIARREIA DA VACA

Então Aristides, muito prestativo, se ofereceu para fazer o meu trabalho




Tia Clara e de pé ao lado Aristides.

Então o ônibus parou em frente a nossa casa.





A DIAREIA DA VACA



Era verão e época de férias. Estávamos ansiosos porque Tia Clara viria nos visitar  e traria o Aristides, um dos filhos da família que morava na frente do terreno onde ela comprara os fundos e se construíra uma casinha. Ela morava lá há muito tempo e viu os filhos daquele casal crescerem. Ela os amava como se fossem seus próprios filhos.
Então o ônibus parou em frente a nossa casa. O Getúlio desceu primeiro para tirar as malas do bagageiro e, em seguida, o Aristides e, por fim, Tia Clara.  Subimos correndo para abraçá-los e ajudar com as malas onde, com certeza, a Tia também estaria trazendo presentes, coisa que ela jamais esquecia.

Naquele dia tivemos pouco tempo para brincar com o nosso amigo. Somente alguns chutes com a bola que fora um dos presentes da Tia. Nós não tínhamos muita habilidade com a bola, mas o Aristides era um craque. Fazia jogadas incríveis, nos driblava do jeito que bem entendia e empilhava gols um em cima do outro numa goleirinha que improvisamos no pátio da nossa casa. De noite a Tia nos contou que ele estava frequentando a Escolinha do Grêmio e tinha potencial para se tornar um craque e dar muitas alegrias à torcida tricolor.
 Tia Clara era gremista. Nós não sabíamos bem o que significava ser gremista, mas como ela era, então devia ser uma coisa boa e por isso todos nos tornamos, também, gremistas.
De manhã, levantamos cedo e, a pedido do amigo, fomos com a nossa irmã para a estrebaria onde ela tiraria o leite das vacas. Aí o Aristides, na sua ignorância de menino da cidade, queria saber o que era aquilo ali. Então lhe expliquei que era o banquinho para tirar leite. Por um momento ele ficou pensativo e então perguntou como fazíamos para sentar a vaca num banquinho tão pequeno. Rimos até não poder mais deixando o nosso amigo constrangido.
Mas a desgraça maior ainda estava por acontecer. Eu já ia me postar atrás da vaca para segurar o rabo dela para que ela não atrapalhasse minha irmã enquanto tirava leite. Então Aristides, muito prestativo, se ofereceu para fazer o meu trabalho porque isso era uma novidade para ele. De repente, a vaca deu dois passos para frente, com as  patas traseiras, encurvou a coluna e tentou levantar o rabo que Aristides segurava. Para o azar e a desgraça do menino a vaca estava com diarreia. O desfecho do episódio não vou contar porque o prezado leitor pode imaginar o que aconteceu. O nosso amigo estava desesperado. Foi despindo suas roupas melecadas e, enquanto corria para o banheiro, vomitou todo o café que acabara de tomar. Durante meia hora, ficou em baixo do chuveiro se esfregando com sabonete e passando perfume para tentar tirar o cheiro horrível que impregnava sua pele.
A desgraça do menino foi motivo para muitas risadas durante toda a semana. No começo Aristides se incomodava com as brincadeiras, mas, depois, levou na esportiva e ria também da experiência inusitada que vivenciara.
Na nossa infância nunca tivemos mordomias nem luxos e nem confortos. Trabalhávamos na roça desde pequenos e tudo era conseguido com muito trabalho e sacrifício. Porém, foram anos felizes e recordo, com saudades, deste e muitos outros fatos que ilustram a maneira saudável como fomos criados.