domingo, 2 de novembro de 2014

A DIARREIA DA VACA

Então Aristides, muito prestativo, se ofereceu para fazer o meu trabalho




Tia Clara e de pé ao lado Aristides.

Então o ônibus parou em frente a nossa casa.





A DIAREIA DA VACA



Era verão e época de férias. Estávamos ansiosos porque Tia Clara viria nos visitar  e traria o Aristides, um dos filhos da família que morava na frente do terreno onde ela comprara os fundos e se construíra uma casinha. Ela morava lá há muito tempo e viu os filhos daquele casal crescerem. Ela os amava como se fossem seus próprios filhos.
Então o ônibus parou em frente a nossa casa. O Getúlio desceu primeiro para tirar as malas do bagageiro e, em seguida, o Aristides e, por fim, Tia Clara.  Subimos correndo para abraçá-los e ajudar com as malas onde, com certeza, a Tia também estaria trazendo presentes, coisa que ela jamais esquecia.

Naquele dia tivemos pouco tempo para brincar com o nosso amigo. Somente alguns chutes com a bola que fora um dos presentes da Tia. Nós não tínhamos muita habilidade com a bola, mas o Aristides era um craque. Fazia jogadas incríveis, nos driblava do jeito que bem entendia e empilhava gols um em cima do outro numa goleirinha que improvisamos no pátio da nossa casa. De noite a Tia nos contou que ele estava frequentando a Escolinha do Grêmio e tinha potencial para se tornar um craque e dar muitas alegrias à torcida tricolor.
 Tia Clara era gremista. Nós não sabíamos bem o que significava ser gremista, mas como ela era, então devia ser uma coisa boa e por isso todos nos tornamos, também, gremistas.
De manhã, levantamos cedo e, a pedido do amigo, fomos com a nossa irmã para a estrebaria onde ela tiraria o leite das vacas. Aí o Aristides, na sua ignorância de menino da cidade, queria saber o que era aquilo ali. Então lhe expliquei que era o banquinho para tirar leite. Por um momento ele ficou pensativo e então perguntou como fazíamos para sentar a vaca num banquinho tão pequeno. Rimos até não poder mais deixando o nosso amigo constrangido.
Mas a desgraça maior ainda estava por acontecer. Eu já ia me postar atrás da vaca para segurar o rabo dela para que ela não atrapalhasse minha irmã enquanto tirava leite. Então Aristides, muito prestativo, se ofereceu para fazer o meu trabalho porque isso era uma novidade para ele. De repente, a vaca deu dois passos para frente, com as  patas traseiras, encurvou a coluna e tentou levantar o rabo que Aristides segurava. Para o azar e a desgraça do menino a vaca estava com diarreia. O desfecho do episódio não vou contar porque o prezado leitor pode imaginar o que aconteceu. O nosso amigo estava desesperado. Foi despindo suas roupas melecadas e, enquanto corria para o banheiro, vomitou todo o café que acabara de tomar. Durante meia hora, ficou em baixo do chuveiro se esfregando com sabonete e passando perfume para tentar tirar o cheiro horrível que impregnava sua pele.
A desgraça do menino foi motivo para muitas risadas durante toda a semana. No começo Aristides se incomodava com as brincadeiras, mas, depois, levou na esportiva e ria também da experiência inusitada que vivenciara.
Na nossa infância nunca tivemos mordomias nem luxos e nem confortos. Trabalhávamos na roça desde pequenos e tudo era conseguido com muito trabalho e sacrifício. Porém, foram anos felizes e recordo, com saudades, deste e muitos outros fatos que ilustram a maneira saudável como fomos criados.

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