Então Aristides, muito prestativo, se ofereceu para fazer o meu trabalho |
Tia Clara e de pé ao lado Aristides. |
Então o ônibus parou em frente a nossa casa. |
A DIAREIA DA VACA
Era verão e época de férias. Estávamos ansiosos porque Tia Clara
viria nos visitar e traria o Aristides,
um dos filhos da família que morava na frente do terreno onde ela comprara os
fundos e se construíra uma casinha. Ela morava lá há muito tempo e viu os
filhos daquele casal crescerem. Ela os amava como se fossem seus próprios
filhos.
Então o ônibus parou em frente a nossa casa. O Getúlio desceu
primeiro para tirar as malas do bagageiro e, em seguida, o Aristides e, por fim,
Tia Clara. Subimos correndo para
abraçá-los e ajudar com as malas onde, com certeza, a Tia também estaria
trazendo presentes, coisa que ela jamais esquecia.
Naquele dia tivemos pouco tempo para brincar com o nosso amigo.
Somente alguns chutes com a bola que fora um dos presentes da Tia. Nós não
tínhamos muita habilidade com a bola, mas o Aristides era um craque. Fazia
jogadas incríveis, nos driblava do jeito que bem entendia e empilhava gols um
em cima do outro numa goleirinha que improvisamos no pátio da nossa casa. De
noite a Tia nos contou que ele estava frequentando a Escolinha do Grêmio e
tinha potencial para se tornar um craque e dar muitas alegrias à torcida
tricolor.
Tia Clara era gremista.
Nós não sabíamos bem o que significava ser gremista, mas como ela era, então
devia ser uma coisa boa e por isso todos nos tornamos, também, gremistas.
De manhã, levantamos cedo e, a pedido do amigo, fomos com a
nossa irmã para a estrebaria onde ela tiraria o leite das vacas. Aí o
Aristides, na sua ignorância de menino da cidade, queria saber o que era aquilo
ali. Então lhe expliquei que era o banquinho para tirar leite. Por um momento
ele ficou pensativo e então perguntou como fazíamos para sentar a vaca num
banquinho tão pequeno. Rimos até não poder mais deixando o nosso amigo constrangido.
Mas a desgraça maior ainda estava por acontecer. Eu já ia me
postar atrás da vaca para segurar o rabo dela para que ela não atrapalhasse
minha irmã enquanto tirava leite. Então Aristides, muito prestativo, se
ofereceu para fazer o meu trabalho porque isso era uma novidade para ele. De
repente, a vaca deu dois passos para frente, com as patas traseiras, encurvou a coluna e tentou
levantar o rabo que Aristides segurava. Para o azar e a desgraça do menino a
vaca estava com diarreia. O desfecho do episódio não vou contar porque o
prezado leitor pode imaginar o que aconteceu. O nosso amigo estava desesperado.
Foi despindo suas roupas melecadas e, enquanto corria para o banheiro, vomitou
todo o café que acabara de tomar. Durante meia hora, ficou em baixo do chuveiro
se esfregando com sabonete e passando perfume para tentar tirar o cheiro
horrível que impregnava sua pele.
A desgraça do menino foi motivo para muitas risadas durante toda
a semana. No começo Aristides se incomodava com as brincadeiras, mas, depois,
levou na esportiva e ria também da experiência inusitada que vivenciara.
Na nossa infância nunca tivemos mordomias nem luxos e nem
confortos. Trabalhávamos na roça desde pequenos e tudo era conseguido com muito
trabalho e sacrifício. Porém, foram anos felizes e recordo, com saudades, deste
e muitos outros fatos que ilustram a maneira saudável como fomos criados.
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