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MIRAMAR FORJADO NA DIFICULDADE
A família de Domingos Chies era numerosa, como, aliás, a maioria
naquela época. O dinheiro sempre era escasso e isso atrapalhava os planos de Marialdo que queria comprar uma gaita. Certo
dia, depois de uma chuvarada, ele e o Rico foram pescar lambari no arroio Canoas. Voltando para
casa, fizeram uma parada no Arsênio que tinha uma fábrica de queijo. Naquela
época as queijarias produziam um subproduto, muito valioso, o soro, utilizado para engordar porcos.
Justamente naquele dia uma
das porcas do Arsênio veio com cria. Para a sorte do Marialdo a porca que, tinha
somente doze tetas, pariu treze filhotes. Um porquinho ficaria sem teta. Então Marialdo
se ofereceu para criá-lo com chupeta. Pôs o porquinho
debaixo do braço e, apesar dos protestos, o filhotinho foi arrancado do
convívio da sua família e levado para o morro onde morava o rapaz.
Demorou alguns dias para que o porquinho se adaptasse a sua nova mãe, o
Marialdo. Logo, porém, se familiarizou e então entendeu que aquilo que parecia
uma desgraça não era tão ruim assim. Recebia carinho e atenção de todos; ele
era um porquinho feliz.
Agora já comia restos de comida, cascas, milho, mandioca e demais
sobras da casa. Foi crescendo saudável e
depois de um ano e meio já era enorme. Pelos cálculos do Marialdo, se o
vendesse, ainda não daria dinheiro suficiente para comprar a tão sonhada
gaita.
Mas, finalmente chegou a hora de vendê-lo. A balança do Urbano
Rauber, que comprava os porcos por aqui, registrou trezentos e cinquenta quilos.
Um porco fora do comum. Com o dinheiro
da venda, finalmente o sonho do rapaz virou realidade. Até sobrou um dinheirinho para ir a um baile em Boa Vista onde uma linda alemoa havia enfeitiçado o
coração do mancebo.
Agora, o Miramar tinha duas gaitas. A do Vilmar e a do Marialdo.
Rapidamente, o Irani e o Verealdo aprenderam a tocar.
Assim nasceu o Miramar. Forjado na dificuldade, cresceu impulsionado
pela determinação daquela família e pelo talento dos três meninos que muito
cedo aprenderam a lutar pela vida.
O Miramar ainda está em atividade, porém, hoje, nenhum dos
fundadores continua na banda a não ser o Marialdo, não como músico mas como proprietário.
Quem sabe, seria hora de reunir os primeiros músicos para um momento de
confraternização.
Um abraço muito especial para a família de Domingos e Angelina
Chies que durante muito tempo foi, também, a minha segunda família.
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