segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

MIRAMAR FORJADO NA DIFICULDADE





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MIRAMAR FORJADO NA DIFICULDADE


A família de Domingos Chies era numerosa, como, aliás, a maioria naquela época. O dinheiro sempre era escasso e isso atrapalhava os planos de  Marialdo que queria comprar uma gaita. Certo dia, depois de uma chuvarada, ele e o Rico foram pescar lambari no arroio Canoas. Voltando para casa, fizeram uma parada no Arsênio que tinha uma fábrica de queijo. Naquela época as queijarias produziam um subproduto, muito valioso, o soro, utilizado para engordar porcos.
 Justamente naquele dia uma das porcas do Arsênio veio com cria. Para a sorte do Marialdo a porca que, tinha somente doze tetas, pariu treze filhotes. Um porquinho ficaria sem teta. Então Marialdo se ofereceu para criá-lo com chupeta. Pôs o porquinho debaixo do braço e, apesar dos protestos, o filhotinho foi arrancado do convívio da sua família e levado para o morro onde morava o rapaz.
Demorou alguns dias para que o porquinho se adaptasse a sua nova mãe, o Marialdo. Logo, porém, se familiarizou e então entendeu que aquilo que parecia uma desgraça não era tão ruim assim. Recebia carinho e atenção de todos; ele era um porquinho feliz. 
Agora já comia restos de comida, cascas, milho, mandioca e demais sobras da casa.  Foi crescendo saudável e depois de um ano e meio já era enorme. Pelos cálculos do Marialdo, se o vendesse, ainda não daria dinheiro suficiente para comprar a tão sonhada gaita.
Mas, finalmente chegou a hora de vendê-lo. A balança do Urbano Rauber, que comprava os porcos por aqui, registrou trezentos e cinquenta quilos. Um porco fora do comum.  Com o dinheiro da venda, finalmente o sonho do rapaz virou realidade. Até sobrou um dinheirinho para ir a um baile em Boa Vista onde uma linda alemoa havia enfeitiçado o coração do mancebo.
Agora, o Miramar tinha duas gaitas. A do Vilmar e a do Marialdo.
Rapidamente, o Irani e o Verealdo aprenderam a tocar.
Assim nasceu o Miramar. Forjado na dificuldade, cresceu impulsionado pela determinação daquela família e pelo talento dos três meninos que muito cedo aprenderam a lutar pela vida.  
O Miramar ainda está em atividade, porém, hoje, nenhum dos fundadores continua na banda a não ser o Marialdo, não como músico mas como proprietário. Quem sabe, seria hora de reunir os primeiros músicos para um momento de confraternização.
Um abraço muito especial para a família de Domingos e Angelina Chies que durante muito tempo foi, também, a minha segunda família.



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