CHÁ DE MARCELA
ou macela
É da nossa tradição, na Sexta Feira Santa, colhermos Chá de Marcela. No começo, entre os descendentes alemães e italianos, não havia esse costume. Hoje, muitos já aderiram à prática. A tradição diz que o chá necessariamente precisa ser colhido na Sexta Feira Santa antes do nascer do sol. Nas manhas de outono sempre há muito sereno e alguns chamam isso de lágrimas de Cristo.
Então podemos ver muitas pessoas pelas estradas e campos procurando marcela.
Eu era cético em relação ao costume e brincava com os adeptos da crença com certo ar de deboche. Achava que tudo não passava de uma crença infundada e que a data da colheita nada tinha a ver com a qualidade do chá.
Então, um dia, minha soberba caiu por terra. Foi quando conversei com Silvestre Thums justamente a respeito deste assunto. Argumentei que a data nada poderia influir na maturação do chá porque a Sexta Feira Santa é uma data “móvel” e por isso, algumas vezes, ocorria, ainda, em março e outras, já vários dias abril a dentro. Tentei justificar que a natureza segue seu curso independente do calendário religioso. Então o Vesto me disse que não sabe explicar o porquê, mas que durante anos vem observando o desenvolvimento daquela erva. Se for colhida antes, as flores, com as quais se faz o chá, não estão maduras. E que, invariavelmente, depois da páscoa, a planta regride, perde a cor e a qualidade, independente se a páscoa ocorre cedo ou tarde. O Vesto não me convenceu por inteiro, mas respeitei seu depoimento porque ele é um homem que sempre viveu em meio à natureza e como a maioria dos homens do campo é muito observador.
Dias depois, fiquei sabendo que a Sexta Feira Santa acontece conforme as fases da lua. Que a primeira Lua Cheia do outono determina esta data. Sabemos que muitos vegetais sofrem a influência das fases da lua no seu desenvolvimento. Com certeza a maturação da flor da marcela é influenciada pela lua cheia das Sextas Feiras Santas.
A sabedoria popular, em geral, não tem comprovação científica. É fruto de anos de observação e passada de geração a geração.
Cabe aos homens das ciências olharem com respeito para os ditos populares, crenças e medicina caseira, porque durante anos, seus acertos são comprovados e que se não fosse assim tais crenças não vingariam e cairiam no esquecimento.
Muitas vezes, podemos encontrar preciosidades entre as pessoas simples do interior por que elas ainda têm um bom ambiente para observar a natureza dedicarem algum tempo a reflexões e assim adquirirem verdadeira sabedoria.
Hoje quero cumprimentar a grande família Thums que são de origem suíça e imigraram para Arroio Canoas vindos de São Vendelino.
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