segunda-feira, 24 de junho de 2019

ÉRAMOS TRÊS

nossa irmã indo buscar água

balde antigo para tirar água do poço


trilha para ir ao poço

balde antigo

guanxuma



                      O texto da semana passada escrito em alemão hunsrik hoje está reprisado em português.





ÉRAMOS TRÊS


Éramos três. O mais novo, Claudio, tinha seis anos. Eu era o mais velho e o do meio, Plínio, era o mais velhaco. Um dia me disse:
- Vamos pregar uma peça para as nossas irmãs?
- Qual é o plano?
- Um “xlop”.
Xlop pene é uma expressão que usamos na língua alemão hunsrik. Algumas expressões e vocábulos são de difícil tradução. Em todos os idiomas existe disso.
Na época não tínhamos, ainda, água encanada. Sempre, antes do meio-dia, minhas irmãs iam pegar dois baldes de água num poço que ficava a uns 50 metros da casa. De tanto passar por aí formou-se uma trilha e dos dois lados crescia uma vegetação mais alta. Então, para amarrar o “xlop”, pegamos dois pés de guanxuma, um de cada lado da trilha, e amarramos um ao outro. Quando as irmãs passassem por aí tropeçariam no “xlop” e o tombo seria inevitável.
- Vamos amarrar dois “xlop”, disse Plínio, vai que consigam se equilibrar e não caiam.
Por isso, a uns dois passos pra frene, amarramos mais um.
Um pouco adiante da trilha havia umas capoeirinhas e foi lá que nos escondemos para apreciar o desfecho da nossa maldade.
Mas eis que o “tiro saiu pela culatra”. Ao invés das irmãs, neste dia o nosso pai foi buscar água. Se fugíssemos estaríamos nos incriminando. Estávamos em maus lençóis.
Não foi nem necessário o segundo “xlop” e o nosso pai despencou no chão. Os dois baldes rolaram até perto do poço. Então o pai perguntou para o nosso irmão menor que ficou ali sem saber o que estava acontecendo:
- Quem fez isso?
- Foi o Plínio e o Laurindo.
Era hora de dar no pé. Nosso pai quis nos pegar, mas já estávamos longe subindo o morro em direção a roça. Ainda conseguimos ouvi-lo dizendo:
- De noite pego vocês!
Já era escuro e ao entrar vi uma vara de marmelo num canto a cozinha.
Ainda hoje me arrepio todo lembrando daquela surra. Duas semanas depois ainda podiam ser vistas as marcas que a vara de marmelo deixou nas nossas costas.
  



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