SE EU AMASSE A MINHA NAMORADA E ELA A MIM
Sobre um banco duas garrafas de conteúdo tinto e seco. |
Pelas ruas, sem rumo, passos em descompasso. |
De repente, lá em cima, uma luz na janela. |
Duas garrafas vazias sobre a mesa. |
A saideira? Você pergunta erguendo o copo ainda pela metade. |
SE EU AMASSE A MINHA NAMORADA
Se eu
amasse muito a minha namorada e ela, também, a mim jamais deixaria que voltasse
sozinha de madrugada.
Gastaria
um litro de gasolina ou em noite enluarada, voltando, contaríamos as estrelas. Eu
escolheria uma e você outra para dar de presente.
Pelas ruas,
sem rumo, passos em descompasso. Numa das mãos o vinho, a outra de mãos dadas
ou num abraço, um beijo carinhoso na face molhada, orvalhada.
Ainda, é madrugada na praça vazia da cidade.
Sobre um banco, duas garrafas de conteúdo tinto e seco.
Trabalho? Faculdade? Ora, ninguém é de ferro, diacho!
Embriaguez,
aos poucos, evidente.
Conversas,
brincadeiras, risadas já quase gargalhadas.
- Mais baaaixo!!!
Suplico.
De
repente, lá em cima, uma luz na janela.
-
Vagabundos!!! Xinga a voz de um homem. E a mulher:
- Cadela!!!
Fuga
apressada. Desordenada.
Passos
trôpegos, desconcertantes, bêbados.
Mais
risadas. Porém, agora, contidas, nasais, abafadas.
Adiante,
já longe da área conflitada, um beijo apaixonado.
Enfim, em
casa, cansados e ofegantes.
- A
saideira? Você pergunta erguendo o copo ainda pela metade.
Último
conteúdo tinto e seco.
Despertador: desativado.
Duas
garrafas vazias sobre a mesa.
Dois
corpos entrelaçados no chão transformado em leito.
Embriaguez de sexo e vinho.
Paz, relax,
sem dor, sem pecado, sem culpa no peito.
Nada no
mundo precisa mudar.
Tudo está
perfeito.
Se eu
amasse muito a minha namorada jamais deixaria que ela voltasse sozinha de
madrugada. Compreender este texto em toda sua dimensão, somente a Cláudia.
Amo a literatura. A língua portuguesa é fantástica. Parabéns pela magia do texto.
ResponderExcluirFoi escrito para almas sensíveis. O teu depoimento me envaidece.
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