Ilo Beker UMA CAÇADA NA PIMENTA 2
Ilo Becker e Vilma Abel Becker moram na Pimenta. Eu
fiquei sabendo que ele é um bom contador de histórias e eu queria saber,
principalmente, de caso onde seu amigo Hugo Patzlaf pegou uma lebre enfincando
o cano da espingarda na coitada da lebre.
Quando me viram chegando ele disse para a mulher:
- Este é aquele homem.
- Que homem? Perguntou ela.
- Aquele que te falei, que escreve
aquelas histórias no jornal.
Sentamos na cozinha e enquanto Vilma
preparava o chimarrão ele falou que sempre lia as histórias que escrevo no
jornal. Disse que lê todas, mas que não gosta muito quando escrevo aquelas bobagens
de amor. E deu uma gargalhada. Então Vilma me entregou a cuia com o primeiro
chimarrão e disse que, ele gostava sim dos textos românticos. - Aliás, quando
era mais novo, ele também, era mais romântico. Agora virou um velho que nem
pensa mais naquelas coisas, e deu uma gargalhada enquanto foi abraçar Ilo pelas
costas.
Então perguntei se aquela história
que contou para o Claudio era verdadeira. Disse que sim e que ele mesmo viu a
lebre espetada no cano da espingarda. Tudo começou assim, disse:
- Hugo Patzlaf, hoje falecido, sabia
do esconderijo de uma lebre. Era, lá em cima na minha roça, onde se via, todas
as manhãs, esterco fresco de lebre.
Isso faz, pelo menos, trinta
anos, disse Ilo, quando, num sábado de noite, tinha baile no salão de Pimenta.
Hugo veio falar comigo me convidando para uma caçada no domingo de manhã. Quem
é daquele tempo sabe que para caçar lebre o recomendável é sair a campo muito
cedo porque as pegadas, nas primeiras horas, são frescas e facilmente percebidas
pelo faro dos cachorros lebreiro.
-Ao clarear do dia, Hugo já estava na
frente da minha casa. Subimos para o local combinado e aí ele escolheu um lugar
estratégico e ficou esperando a caça.
Todo caçador sabe que a lebre sempre
foge morro acima. Por isso se postou numa estrada, com sua espingarda,
esperando a vítima. Agora, pelo latir dos cachorros, sabia que, sem demora, ela
apontaria aí na curva da estrada. De fato, aí vinha ela perseguida pelos
cachorros. Quando estava a uma distância ideal para o tiro, Hugo disparou. Mas
a arma negou fogo. Disparou de novo e nada. Então, sem uma alternativa mais plausível,
procurou atingir a lebre com o cano da espingarda. Por incrível que pareça
acertou-a, de modo que ficou espetada no cano da arma.
Ilo disse que quando chegou, Hugo estava com a
arma levantada tentando proteger sua caça, pois os cachorros queriam pegar a
vítima espetada no cano.
Depois, examinando a arma,
descobrimos que ela falhou porque Hugo havia esquecido de por um cartucho na
arma.
Se alguém duvida da veracidade desta
história deve procurar o Senhor Ilo Becker que mora na Pimenta, próximo à
capelinha, na estrada que vai par Vila Rica. Ele e sua esposa Vilma são muito
hospitaleiros e farão questão de recebê-lo para contar esta, e muitas outras histórias
que sabem.
Um abraço a toda a comunidade de
Pimenta.
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