O SÓTÃO 2
Já era junho e o inverno prometia ser rigoroso naquele ano. Por várias manhãs os potreiros amanheceram brancos. Lembro que em alemão dizíamos:
- “te xímel hot sich kewenzelt”. O que significa:- “O tordilho branco rolou na grama do potreiro”.
Foi numa semana assim que tia Clara veio passear.
A casa onde moro, antes, pertencia a meu pai e, antes ainda, a Pedro Käfer o pioneiro de Arroio Canoas. Havia três quartos. Meus pais ocupavam um, as meninas outro, e mais um para os guris.
Quando alguma visita vinha pousar aqui em casa, os guris, tinham que ceder seu quarto. Foi o que aconteceu na semana da visita da Tia Clara. A mãe espalhou alguns colchões de palha de milho “xtrosak” no sótão e foi lá que tivemos que nos alojar. Em geral não gostávamos desta situação, mas como era para a Tia Clara, ninguém reclamou. Somente um detalhe preocupava a nossa mãe. O irmão mais velho estava com conjuntivite.
- “Vai que ele passa frio naquele sótão e a doença piora!”, pensava ela. Menos mal que tínhamos várias cobertas de penas de ganso sobejando de modo que todos ficaram bem protegidos do frio.
Meu irmão mais velho sempre levantava mais cedo pois tinha como compromisso tratar toda a bicharada. Naquela manhã a conjuntivite estava mais aguda e as pálpebras estavam grudadas de tal modo que ele nada enxergava. Levantou assim mesmo para se desincumbir da sua tarefa com os bichos. Quando chegasse na cozinha lavaria os olhos. Como nada enxergava, foi tateando à procura da escada para descer do sótão. Confiava na sua intuição pois já descera aquela escada tantas vezes! Imaginando que já estivesse posicionado para pisar no primeiro degrau, deu o passo, mas seu pé não achou o degrau e foi rolando escada abaixo provocando um grande alvoroço. Todos acordaram e vieram correndo para saber o que tinha acontecido.
Depois de exaustivamente examinado pela Tia concluiu-se que nada de mais grave havia acontecido. Somente uma bola se formou na testa em consequência de uma batida num dos degraus da escada. Daí meu irmão se deu conta que, mesmo sem se lavar, os olhos estavam abertos.
Naquela manhã todos levantaram cedo pois ninguém quis voltar para a cama. Papai fez fogo no fogão a lenha e todos nos aconchegamos no seu entorno. Mamãe colocou vários punhados de pinhão na chapa e enquanto a cuia passava de mão em mão comemos os pinhões que papai abria com um martelo próprio para isso que ele mesmo fabricara.
O assunto naquele dia foi o tombo do meu irmão.
Bom dia laurindo, parabéns pelo texto, sempre leio. Abs
ResponderExcluirOi,bem legal o texto
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