terça-feira, 29 de novembro de 2022

HISTÓRIAS DA NOSSA HISTÓRIA – Arroio Canoas



 


 

 

 

HISTÓRIAS DA NOSSA HISTÓRIA – Arroio Canoas

 

Em geral, os nomes das localidades surgem informalmente. Através do uso, aos poucos, vão se tornando populares até que sejam reconhecidos oficialmente.

Assim, aconteceu com Arroio Canoas.

Quem me contou foi Pedro Käfer que, mesmo antes da ocupação, esta localidade já tinha o seu nome. Contou-me Pedro que alguns moradores da região de Linha Clara, hoje município de Teotônio, descobriram que por estas paragens havia uma enorme Timbaúva. A madeira da timbaúva é leve e resistente, própria para construir canoas. Resolveram apossar-se daquela árvore, (as terras ainda não tinham dono), para fazer canoas. Como seria impraticável levar a enorme árvore para casa, resolveram construir, aqui mesmo, as canoas. Com certeza, vinham trabalhar e pernoitavam por aqui durante algumas noites. Então, quando queriam se referir a este local diziam: “lá nas canoas”. Aos poucos, ficou só Canoas e o Arroio foi-lhe acrescentado, talvez, porque, realmente, aqui existe um arroio e provavelmente foi por esse arroio que escoaram as canoas.

 Aldo Migot, no seu livro História de Carlos Barbosa,cita Jean Roche que no seu livro “A Colonização Alemã no Rio Grande do Sul” reproduz um mapa sobre as terras particulares no vale do Rio Caí, em que a “Linha Canoas” aparece como tendo sido fundada em 1878 por Einloft.

 Portanto o nome de Arroio Canoas “Linha Canoas” é anterior à chegada dos primeiros colonos, pois Pedro Käfer, o pioneiro, chegou somente em 1895.

O nome científico da timbaúva é “Enterolobium Contortisiliquum”. Fornece uma madeira muito leve, portanto própria para a fabricação de pequenas embarcações como Caicos e canoas. Lembro que meu pai, Giocondo Chies e outros faziam gamelas com cedro ou com timbaúva.

A timbaúva ocorre desde o Pará até o Rio grande do Sul. Suas sementes estão alojadas em vagens que se parecem com orelhas de macacos e por isso, popularmente, a árvore é conhecida, em alguns lugares, como orelha de macaco. Quando criança lembro que juntávamos estas “orelhas de macaco” para brincar.

Esta é mais uma história que devemos ao Pedrinho que morreu com 102 anos e ficou lúcido até alguns meses antes de morrer. Visitava-o seguidamente e muitas das histórias de “antigamente” foram-me contadas por ele.

 

 

quarta-feira, 16 de novembro de 2022

O SÓTÃO 2




 

 

O SÓTÃO 2

 

 

Já era junho e o inverno prometia ser rigoroso naquele ano. Por várias manhãs os potreiros amanheceram brancos. Lembro que em alemão dizíamos:

- “te xímel hot sich kewenzelt”. O que significa:- “O tordilho branco rolou na grama do potreiro”.

Foi numa semana assim que tia Clara veio passear.

A casa onde moro, antes, pertencia a meu pai e, antes ainda, a Pedro Käfer o pioneiro de Arroio Canoas. Havia três quartos. Meus pais ocupavam um, as meninas outro, e mais um para os guris.

 Quando alguma visita vinha pousar aqui em casa, os guris, tinham que ceder seu quarto. Foi o que aconteceu na semana da visita da Tia Clara. A mãe espalhou alguns colchões de palha de milho “xtrosak” no sótão e foi lá que tivemos que nos alojar. Em geral não gostávamos desta situação, mas como era para a Tia Clara, ninguém reclamou. Somente um detalhe preocupava a nossa mãe. O irmão mais velho estava com conjuntivite.

 - “Vai que ele passa frio naquele sótão e a doença piora!”, pensava ela. Menos mal que tínhamos várias cobertas de penas de ganso sobejando de modo que todos ficaram bem protegidos do frio.

Meu irmão mais velho sempre levantava mais cedo pois tinha como compromisso tratar toda a bicharada. Naquela manhã a conjuntivite estava mais aguda e as pálpebras estavam grudadas de tal modo que ele nada     enxergava. Levantou assim mesmo para se desincumbir da sua tarefa com os bichos. Quando chegasse na cozinha lavaria os olhos. Como nada enxergava, foi tateando à procura da escada para descer do sótão. Confiava na sua intuição pois já descera aquela escada tantas vezes! Imaginando que já estivesse posicionado para pisar no primeiro degrau, deu o passo, mas seu pé não achou o degrau e foi rolando escada abaixo provocando um grande alvoroço. Todos acordaram e vieram correndo para saber o que tinha acontecido.

 Depois de exaustivamente examinado pela Tia concluiu-se que nada de mais grave havia acontecido. Somente uma bola se formou na testa em consequência de uma batida num dos degraus da escada. Daí meu irmão se deu conta que, mesmo sem se lavar, os olhos estavam abertos.

Naquela manhã todos levantaram cedo pois ninguém quis voltar para a cama. Papai fez fogo no fogão a lenha e todos nos aconchegamos no seu entorno. Mamãe colocou vários punhados de pinhão na chapa e enquanto a cuia passava de mão em mão comemos os pinhões que papai abria com um martelo próprio para isso que ele mesmo fabricara.

 

O assunto naquele dia foi o tombo do meu irmão.  

 

 

domingo, 6 de novembro de 2022

UMA CAÇADA NA PIMENTA 2


 


Ilo Becker e Vilma Abel Becker


Ilo Beker
 

 

 

UMA CAÇADA NA PIMENTA 2

 

Ilo Becker e Vilma Abel Becker moram na Pimenta. Eu fiquei sabendo que ele é um bom contador de histórias e eu queria saber, principalmente, de caso onde seu amigo Hugo Patzlaf pegou uma lebre enfincando o cano da espingarda na coitada da lebre.

Quando me viram chegando ele disse para a mulher:

- Este é aquele homem.

- Que homem? Perguntou ela.

- Aquele que te falei, que escreve aquelas histórias no jornal.

Sentamos na cozinha e enquanto Vilma preparava o chimarrão ele falou que sempre lia as histórias que escrevo no jornal. Disse que lê todas, mas que não gosta muito quando escrevo aquelas bobagens de amor. E deu uma gargalhada. Então Vilma me entregou a cuia com o primeiro chimarrão e disse que, ele gostava sim dos textos românticos. - Aliás, quando era mais novo, ele também, era mais romântico. Agora virou um velho que nem pensa mais naquelas coisas, e deu uma gargalhada enquanto foi abraçar Ilo pelas costas.

Então perguntei se aquela história que contou para o Claudio era verdadeira. Disse que sim e que ele mesmo viu a lebre espetada no cano da espingarda. Tudo começou assim, disse:

- Hugo Patzlaf, hoje falecido, sabia do esconderijo de uma lebre. Era, lá em cima na minha roça, onde se via, todas as manhãs, esterco fresco de lebre.

 Isso faz, pelo menos, trinta anos, disse Ilo, quando, num sábado de noite, tinha baile no salão de Pimenta. Hugo veio falar comigo me convidando para uma caçada no domingo de manhã. Quem é daquele tempo sabe que para caçar lebre o recomendável é sair a campo muito cedo porque as pegadas, nas primeiras horas, são frescas e facilmente percebidas pelo faro dos cachorros lebreiro.

-Ao clarear do dia, Hugo já estava na frente da minha casa. Subimos para o local combinado e aí ele escolheu um lugar estratégico e ficou esperando a caça.

Todo caçador sabe que a lebre sempre foge morro acima. Por isso se postou numa estrada, com sua espingarda, esperando a vítima. Agora, pelo latir dos cachorros, sabia que, sem demora, ela apontaria aí na curva da estrada. De fato, aí vinha ela perseguida pelos cachorros. Quando estava a uma distância ideal para o tiro, Hugo disparou. Mas a arma negou fogo. Disparou de novo e nada. Então, sem uma alternativa mais plausível, procurou atingir a lebre com o cano da espingarda. Por incrível que pareça acertou-a, de modo que ficou espetada no cano da arma.

 Ilo disse que quando chegou, Hugo estava com a arma levantada tentando proteger sua caça, pois os cachorros queriam pegar a vítima espetada no cano.

Depois, examinando a arma, descobrimos que ela falhou porque Hugo havia esquecido de por um cartucho na arma.

Se alguém duvida da veracidade desta história deve procurar o Senhor Ilo Becker que mora na Pimenta, próximo à capelinha, na estrada que vai par Vila Rica. Ele e sua esposa Vilma são muito hospitaleiros e farão questão de recebê-lo para contar esta, e muitas outras histórias que sabem.

Um abraço a toda a comunidade de Pimenta.