domingo, 21 de fevereiro de 2021

CHÁ DE MARCELA ou macela


 

 CHÁ DE MARCELA

ou macela

 

 

É da nossa tradição, na Sexta Feira Santa, colhermos Chá de Marcela. No começo, entre os descendentes alemães e italianos, não havia esse costume. Hoje, muitos já aderiram à prática. A tradição diz que o chá necessariamente precisa ser colhido na Sexta Feira Santa antes do nascer do sol. Nas manhas de outono sempre há muito sereno e alguns chamam isso de lágrimas de Cristo.

 Então podemos ver muitas pessoas pelas estradas e campos procurando marcela.

 Eu era cético em relação ao costume e brincava com os adeptos da crença com certo ar de deboche. Achava que tudo não passava de uma crença infundada e que a data da colheita nada tinha a ver com a qualidade do chá.

Então, um dia, minha soberba caiu por terra. Foi quando conversei com Silvestre Thums justamente a respeito deste assunto. Argumentei que a data nada poderia influir na maturação do chá porque a Sexta Feira Santa é uma data “móvel” e por isso, algumas vezes, ocorria, ainda, em março e outras, já vários dias abril a dentro. Tentei justificar que a natureza segue seu curso independente do calendário religioso. Então o Vesto me disse que não sabe explicar o porquê, mas que durante anos vem observando o desenvolvimento daquela erva. Se for colhida antes, as flores, com as quais se faz o chá, não estão maduras. E que, invariavelmente, depois da páscoa, a planta regride, perde a cor e a qualidade, independente se a páscoa ocorre cedo ou tarde. O Vesto não me convenceu por inteiro, mas respeitei seu depoimento porque ele é um homem que sempre viveu em meio à natureza e como a maioria dos homens do campo é muito observador.

 Dias depois, fiquei sabendo que a Sexta Feira Santa acontece conforme as fases da lua. Que a primeira Lua Cheia do outono determina esta data. Sabemos que muitos vegetais sofrem a influência das fases da lua no seu desenvolvimento. Com certeza a maturação da flor da marcela é influenciada pela lua cheia das Sextas Feiras Santas.

A sabedoria popular, em geral, não tem comprovação científica. É fruto de anos de observação e passada de geração a geração.

Cabe aos homens das ciências olharem com respeito para os ditos populares, crenças e medicina caseira, porque durante anos, seus acertos são comprovados e que se não fosse assim tais crenças não vingariam e cairiam no esquecimento.

 Muitas vezes, podemos encontrar preciosidades entre as pessoas simples do interior por que elas ainda têm um bom ambiente para observar a natureza dedicarem algum tempo a reflexões e assim adquirirem verdadeira sabedoria.

Hoje quero cumprimentar a grande família Thums que são de origem suíça e imigraram para Arroio Canoas vindos de São Vendelino.

 

 

 

 

 

                                                                         


 

domingo, 14 de fevereiro de 2021

O ENCAIXE Um simples “psiu”


 


 

 

O ENCAIXE

Um simples “psiu”

 

Há pessoas que não precisam de grandes discursos. Muitas vezes, um gesto é suficiente para revelar o que lhes vai na alma.

O que significa um “psiu” para você? Provavelmente, nada mais que um “psiu”.

O poeta se vale de rimas e palavras que, estrategicamente, colocadas num texto se tornam arte, emocionam e causam enlevo. O músico usa a melodia, a harmonia e o ritmo para encantar plateias e despertar sentimentos. O artista precisa destes instrumentos para se expressar.

Você precisa de nada mais que um “psiu”. Um simples e onomatopaico “psiu”.

 A tua simplicidade me encanta e me comove. Ela denota a grandeza da tua alma. A tua arte não está no verbo nem no requinte; está no coração. Não precisas de grandes obras. Um simples “psiu” pode ser música, poesia, ressurreição. Pode ser um ato de amor, pode ser salvação, levar às lágrimas. Pode levantar quem está prostrado, aniquilar preconceitos.

Para perceber a beleza das coisas pequenas do mundo que nos rodeia é necessário ficarmos atentos pois é nos pequenos detalhes da vida que está o segredo da felicidade. É preciso desarmar o espírito e educar a alma para que se torne sensível.

Não interprete a curva da estrada como um obstáculo, mas que seja motivo para atiçar a curiosidade. Para ver o que há no outro lado da parede, além da montanha.

 As grandes obras nascem na simplicidade.

Texto um tanto enigmático? Poucos o entenderão em toda a sua extensão.  Porém, por mais ficcionista que pareça, com certeza, algum aspecto há de encaixar-se na realidade da sua vida. E o encaixe é algo maravilhoso. A paz é o encaixe. Quando as coisas se encaixam então você está na paz. Uma noite bem dormida revela que as coisas estão bem. Então, quando acordar na manhã seguinte, ficará surpreso ao se dar conta que nem precisou do seu comprimido para dormir.

 Isso é a paz.

domingo, 7 de fevereiro de 2021

O TEMPO Um paradoxo




O TEMPO

Um paradoxo

 

É muito comum as pessoas alegarem falta de tempo para qualquer atividade fora de sua rotina.

No entanto, é absolutamente certo que todos temos vinte e quatro horas por dia à nossa disposição. A questão é se organizar. Provavelmente, quem sempre alega falta de tempo, se tivesse várias horas a mais por dia ainda assim continuaria com falta de tempo.

A natureza foi generosa com o ser humano. Pertencemos a uma espécie privilegiada. Temos atributos que, de longe, nos diferenciam de qualquer outra criatura que habita esse planeta.

 Fazendo uso de nossas aptidões procuramos, na natureza, quem nos pudesse facilitar a vida e a sobrevivência. Desde as cavernas aos dias de hoje a caminhada foi longa. Neste tempo todo, a humanidade foi acumulando conhecimentos passados de geração a geração que, no início, tinham que ser guardados na memória. Depois inventamos a escrita, os livros, e hoje, equipamentos virtuais que armazenam os conhecimentos de toda a humanidade podendo ser acessados por qualquer pessoa usando um pequeno aparelho que carregamos no bolso e que chamamos de celular.

Os avanços, no começo, eram lentos, porém, atualmente, adquiriram uma velocidade tal que fica difícil acompanhar as inovações constantes. Mal nos acostumamos com uma tecnologia e já uma nova bate em nossa porta.

Eu me lembro de um tempo em que se colhia milho a mão. Arroz, feijão, lentilha e trigo eram trilhados com mangual.

 Assim poderíamos citar centenas de situações que exigiam muita mão de obra o que, em poucos anos, se modificou radicalmente.

A máquina nos libertou de tarefas penosas, arriscadas e insalubres substituindo, com vantagem, a mão de obra humana. Imagine quantas pessoas seriam necessárias para colher as enormes plantações de soja ou trigo. O homem, se valendo da inteligência e dos conhecimentos acumulados por gerações, fabrica máquinas com as quais um trabalhador sozinho faz mais do que centenas de camponeses fariam com foicinhas, arados de boi, enxadas etc.

A agricultura é somente um exemplo onde a máquina substitui a mão de obra humana. Consideremos a indústria, o comércio, o transporte, o armazenamento de dados. Quantas pessoas seriam necessárias fazendo cálculos, redigindo documentos e contratos, manuscrevendo livros.

Mas, apesar de as maquinas fazerem grande parte das nossas tarefas, vivemos correndo. A vida moderna é agitada e nunca temos tempo. Os antigos se davam ao luxo de um papo com o vizinho, um diálogo com a esposa ou com os filhos, um encontro com amigos.

Parece que quanto mais as máquinas nos substituem nas nossas atividades profissionais mais atribuições a vida nos impõe. Se elas fazem o nosso trabalho então mais tempo deveria sobrar para as atividades extraprofissionais. No entanto, o que acontece é justamente o contrário. Isso é um paradoxo.