domingo, 24 de maio de 2020

UMA BRINCADEIRA COM LINDOLFO












UMA BRINCADEIRA COM LINDOLFO II


Há muitos anos, quando eu ainda era criança, muitas coisas eram diferentes. Por exemplo, naquele tempo não havia restrição à caça.
 Nas nossas colônias, praticamente, todas famílias, tinham, em casa, uma arma de caça. As armas são classificadas pelo calibre. Em geral os colonos tinham armas de calibre 36 ou 32. Alguns, porém, tinham armas mais poderosa como calibre 28, 20 e até de calibre 12. Havia, também armas de cano duplo mas essas eram mais raras.
Certo dia, Lindolfo Käfer foi visitar o Alvis. Lindolfo tinha fama de bom atirador. Para mexer com ele Alvis disse que iria por sua fama à prova.
Eis que, na época, os Bergonsi tinham um bando enorme de pombas domésticas. O bando crescia a cada ano. Já não havia como controlar a proliferação dessas aves. Como em casa não havia comida para tantas pombas, elas, em enormes bandos, voavam para as roças na vizinhança procurando restos de cultura ou algum inseto.
 O Alvis acabara de fazer a colheita de um pedaço de arroz. Como é normal, sempre se perde algum grão durante a colheita. E as pombas descobriram isso. Enormes bandos vinham para a roça do Alvis.
- Hoje eu quero ver se tu é realmente bom no tiro como dizem por aí, disse Alvis. Quero ver quantas pombas tu consegues pegar com um só tiro.
Como as pombas andavam muito próximas uma da outra Lindolfo avaliou que pelo menos dez ele mataria com um tiro.
Mas, naquele dia, o Alvis estava mesmo afim de brincar com Lindolfo. Foi pro quarto e carregou um cartucho até a boca mas só com pólvora. Não colocou chumbo. Lindolfo esgueirou-se por entre a plantação de milho para chegar o mais próximo possível do bando. Quando já estava a uma distância que ele julgava ideal, mirou e disparou. O tiro saiu poderoso. Formou-se uma grande confusão. As pombas levantaram voo batendo umas nas outras. Era um reboliço, um bater de asas, uma confusão total. Então foram ver. Nenhuma pomba morta. Todas haviam fugido.
Lindolfo hoje é falecido. Fazia de tudo na nossa comunidade. Era construtor, encanador, eletricista, agricultor e tinha um salão de bailes. Chegou a construir casas mas era mais solicitado para construções mais simples como paióis chiqueiros e etc. Lindolfo era muito prestativo. Estava sempre pronto para prestar pequeno trabalhos no salão da comunidade, na igreja e na escola. Provavelmente não há morador na nossa comunidade que não tenha uma obra de Lindolfo. Seja uma casa, uma ligação elétrica ou hidráulica, um forno de pão, um galinheiro, estrebaria ou um banheiro. Munido com uma forquilha de pessegueiro sabia localizar veios d’água.

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