Antiga escola.Aberturas feitas por Nani Zan |
A ORGANIZAÇÃO NAS
COLÔNIAS
Lembro de uma época em que os nossos
colonos precisavam se bastar tanto quanto possível. Então, no meio da
população, espontaneamente, brotavam talentos dos mais diversos. Assim, meu pai
e o Giocondo Chies sabiam fazer gamelas, balaios e vassouras. Eram verdadeiros
artistas no manuseio do enxó, machado, serrote e outras ferramentas para
trabalhar a madeira. Para fazer gamelas usavam, principalmente, a timbaúva e o
cedro, madeiras macias e, ao mesmo tempo, resistentes. Lembro que meu pai, ao
invés de lixas usava cacos de vidro para dar o acabamento final.
O Vilibaldo Käfer era o arrumador de
ossos. Quando alguém quebrava um braço, uma perna ou outro osso chamavam o
“Wili”. Depois de colocado no lugar, enrolava um pano, depois uma camada de
clara de ovo, taquinhos de bambu, outro pano e assim por diante. Isso, depois
de seco, substituía o gesso de hoje. Wili entendia do ofício. Examinava o
paciente e para cada caso sabia o que fazer. Trabalhava sem anestesia e os
pacientes tinham que suportar a dor, muitas vezes, dilacerante.
Havia também o Nani Zan que fazia
portas e janelas. Era um verdadeiro artista e, ainda hoje, muitas casas, em Arroio
Canoas, tem aberturas feitas por ele. Um exemplo é a casa de Pedro Käfer filho,
hoje de Plinio Schneider e da antiga escola da comunidade que foi reconstruída
em Salvador do sul.
Tínhamos, por aqui, também, o Alberto
Kochhan “Kofeschen”. Ele fabricava foguetes. Não havia festa nos arredores sem
os foguetes do “kofetschen”. Ele era, também, um artista no trabalho da
madeira. Muitas pessoas, ainda hoje tem obras dele como Baús, mesinhas,
porta-cuias etc.
Mas alguns ofícios não tínhamos por
aqui. Então vinham de fora da comunidade para atender as necessidades da população.
Assim, Quando um animal adoecia, os colonos chamavam o Otávio Becker. “Beka”,
como era conhecido por aqui, era o veterinário e morava em Campestre. Edmundo
Wolfart morava em Boa Vista e era, também, veterinário.
Também, vinha de fora, de São Pedro,
o castrador de porcos. Bohdt Marcus passava uma ou duas vezes por ano pela
comunidade e castrava todos os porcos. Na época costumava-se castrar, também,
as fêmeas por que eram engordadas somente depois de terem, pelo menos, um ano.
Com essa idade as fêmeas já entravam em cio o que atrapalhava a engorda. Hoje
não se castra mais as fêmeas porque são abatidas antes dos seis meses. Quem
conheceu Marcus diz que ele tinha dedos muito compridos próprios para a função
pois tinha que abrir as fêmeas e extirpar o ovário. Contam as más línguas que
certa feita lhe apresentaram um porquinho. Sem perceber que era macho cortou o
ventre e com seus longos dedos ficou procurando o ovário do coitado. O fato foi
motivo de muitas gargalhadas.
Hoje falei de Arroio Canoas mas em
todas as comunidades desse nosso interior as coisas funcionavam mais ou menos
assim. Não se precisava de governo ou de qualquer outro órgão para regular
profissões, defensores de animais, direitos humanos e tantas outras coisas. Os
colonos sabiam se organizar e viviam em paz.
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