segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

BARCO À DERIVA




MEU BARCO ESTÁ À DERIVA

MENSAGEM DE NATAL


Meu barco está à deriva. Navego por navegar, em águas que não são as minhas. Sem rumo, sem data para chegar, sem destino e sem norte.
Tu eras o meu norte, a minha inspiração.
E agora, o que faço com as minhas palmas com a minha coroa de louros?
Havia um sol generoso e fiel. Havia uma luz que guiava meus passos. Um farol. Havia um farol agora encoberto pela névoa densa e cruel.
Tudo eu suportaria, mas não a tua indiferença.
Acostumei-me com a doce magia da esperança, acreditei em promessas, mas tiraste o coração de campo. A tua razão fria e calculista está no comando.
Navego sem pressa sem direção ao sabor da maré ou da correnteza. Abandonei-me nos braços do destino. Entreguei-lhe o leme. Não tenho mais alternativas nem forças e nem lágrimas. Tentei caminhos, trilhas, veredas...
 Então ainda grito com todas as forças:
 - Onde estás? Em que esconderijo?
Como resposta, somente o eco da minha própria voz. Teu coração emudeceu.

Que cada um dos meus queridos leitores encontre seu norte em 2015. Que haja um farol e um sol para aquecer-te e iluminar teu caminho. E que os braços do destino aonde vais te abandonar se chame Jesus. Entrega-lhe o leme. Ele conhece os atalhos ele saberá enxugar tuas lágrimas. Ele conduzirá teu barco ao porto seguro e lá haverá alguém te esperando, talvez na forma de um anjo, de um príncipe, de uma mulher, ou de uma flor.



 

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

MIRAMAR FORJADO NA DIFICULDADE





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MIRAMAR FORJADO NA DIFICULDADE


A família de Domingos Chies era numerosa, como, aliás, a maioria naquela época. O dinheiro sempre era escasso e isso atrapalhava os planos de  Marialdo que queria comprar uma gaita. Certo dia, depois de uma chuvarada, ele e o Rico foram pescar lambari no arroio Canoas. Voltando para casa, fizeram uma parada no Arsênio que tinha uma fábrica de queijo. Naquela época as queijarias produziam um subproduto, muito valioso, o soro, utilizado para engordar porcos.
 Justamente naquele dia uma das porcas do Arsênio veio com cria. Para a sorte do Marialdo a porca que, tinha somente doze tetas, pariu treze filhotes. Um porquinho ficaria sem teta. Então Marialdo se ofereceu para criá-lo com chupeta. Pôs o porquinho debaixo do braço e, apesar dos protestos, o filhotinho foi arrancado do convívio da sua família e levado para o morro onde morava o rapaz.
Demorou alguns dias para que o porquinho se adaptasse a sua nova mãe, o Marialdo. Logo, porém, se familiarizou e então entendeu que aquilo que parecia uma desgraça não era tão ruim assim. Recebia carinho e atenção de todos; ele era um porquinho feliz. 
Agora já comia restos de comida, cascas, milho, mandioca e demais sobras da casa.  Foi crescendo saudável e depois de um ano e meio já era enorme. Pelos cálculos do Marialdo, se o vendesse, ainda não daria dinheiro suficiente para comprar a tão sonhada gaita.
Mas, finalmente chegou a hora de vendê-lo. A balança do Urbano Rauber, que comprava os porcos por aqui, registrou trezentos e cinquenta quilos. Um porco fora do comum.  Com o dinheiro da venda, finalmente o sonho do rapaz virou realidade. Até sobrou um dinheirinho para ir a um baile em Boa Vista onde uma linda alemoa havia enfeitiçado o coração do mancebo.
Agora, o Miramar tinha duas gaitas. A do Vilmar e a do Marialdo.
Rapidamente, o Irani e o Verealdo aprenderam a tocar.
Assim nasceu o Miramar. Forjado na dificuldade, cresceu impulsionado pela determinação daquela família e pelo talento dos três meninos que muito cedo aprenderam a lutar pela vida.  
O Miramar ainda está em atividade, porém, hoje, nenhum dos fundadores continua na banda a não ser o Marialdo, não como músico mas como proprietário. Quem sabe, seria hora de reunir os primeiros músicos para um momento de confraternização.
Um abraço muito especial para a família de Domingos e Angelina Chies que durante muito tempo foi, também, a minha segunda família.



segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

COMO NASCEU O MIRAMAR

Foto de Verealdo Chies. O início do Miramar. Na foto Irani e Verealdo na gaita e Marialdo na bateria

Escola onde nos reuniamos para os ensaios





foto de 1965 a 1970


COMO NASCEU O  MIRAMAR


      No início não tinha nome, e nem data de nascimento. Nasceu como normalmente nascem os grandes empreendimentos, isto é, pequeno. Pesquisando, concluiu-se que deve ter iniciado no ano de 1963. Portanto, lá se vão mais de cinquenta anos. Arroio Canoas é sua Terra Natal, mais precisamente a Comunidade do Sagrado.           Entre as manifestações culturais de Arroio Canoas o Miramar é um marco importante.
           Começou com três meninos tocando gaita: Vilmar, Irani e Verealdo. Saíam por ai tocando em festas, casamentos e aniversários. As pessoas se encantavam vendo e ouvindo aquelas crianças tocando. Cobravam somente um valor simbólico. Quando tocavam aí por perto, os irmãos mais velhos carregavam as gaitas e os meninos andavam a pé. Algumas vezes caminhavam quilômetros para não gastar com viagens. Eram tempos difíceis e a grana sempre era curta. Um dia foram tocar mais longe e contrataram o “Basei para levá-los”. A apresentação rendera somente R$250,00 e a viagem custou R$ 300,00.
           Aos poucos, outros instrumentos foram se juntando às duas gaitas. Por volta de 1966 comecei a participar tocando trompete. Aprendi a tocar na Escola Normal Rural “Estrela da Manhã”.  Eu tocava na banda do colégio. Logo o Verealdo comprou, também, um trompete e fazíamos dupla. O Negrim comprou uma bateria usada. Era tão alta que mal se via a cabeça dele apontando por cima dos pratos. Então resolveu colocá-la na frente, pois não se conformava em ficar escondido lá atrás. O Irani e o Verealdo eram os mais novos, porém donos de um bom senso apurado. Tanto brigaram até que a bateria voltou para o seu lugar. Mas o Negrim, inconformado, mandou fazer um estrado para colocar seu instrumento e dessa maneira ele também podia ser visto.              Aos poucos mais instrumentos foram sendo agregados. O Irani passou a tocar guitarra, o Lalo teclado e o Lori, contrabaixo. O Verealdo trocou o trompete por um trombone. Com essa formação a banda tocou durante vários anos. Fazíamos sucesso por tudo principalmente na região alemã de Estrela, Teutônica e Poço das Antas.
            Na próxima edição vou contar como o Negrim arrumou dinheiro para comprar a primeira gaita.
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                              

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

IL BO DEL REMO

 Il ze caduto stirá in terra.
 Ben, questo lo gavemo prendesto a muche.
Siamo partiti domenega de matina bem bonora



                                   
IL BO DEL REMO
La vero storia

In un certo giorno il Joanim le vegnesto trovarmi. Lui a portato ensieme il giornale, dove il Laurindo haveva scrito sora i bo che i gera scampadi de la sogue del Remo. Lui ha deto ghe ledesse il artículo sora i bo, par lu.
 Intanto che mi ledea lu gera molto atento. Quando ho fenito de leder el artícolo lui ha detto:
- Una bela storia, ma tutte bugie.
- Alora sei drio chiamare il professore Laurindo de bugiaro?
- O lei, o chi le ha contato la storia. La storia dei bo la ze tutta sbagliata. I contadori de storie i inventa sempre cose per la storia esser piu bella.
- E alora come a sucedesto tutto?
- Per scominciare, no i gera due bo, ma cinqüe! Uno piu cativo del altro. I ze scampadi un venerdi vanti notte, e nessun li a piu visti. Al sábato i a cercato per tutto e gniente de trovarli.
- Alora chi ha prendesto i bo?
- Alora te conto: Como nessuni trovava i bo sono andato parlare col mio fratello, il Gambon,  par veder se il gavea coragio de venger insime.
Siamo partiti domenega de matina bem bonora. Se gavea due cavai valenti. Se gavea insimi sol i lassi e niente altro.
Intanto che se andea a caval il Gambon me ga dito che la su a Coblens i gera tutti spaventadi com certe bestie selvaregue in tel mato. Mi me piceria andare fina la, per veder che bestie che le ze.
Quando siamo arivatti a Coblens la populacion ne ha ricevesto come i salvatori. Gera arivato i homini che i andea caciar le bestie che spaventava la populacion.
Pena dentro del mato li abimo visto suito che i gero proprio il bo del Remo che i gera nascosti li nel mato nella terra de un tal de Salvi.
Il Gambon ga arma il laço e nella prima laçada ne ha prendesto uno. Lo govemo liga in una pianta e siamo andati in cerca dei altri. Alora uno le vengesto contra nantri e mi go atirá il laço e go prendesto anca cuelo. Dopo ne ho prendesto naltro e il Gambon naltro anca lu. E alora il Remo ze vengesto torli con un camion de cuei che carga bo. Ma scolta Joanin se non sono sbagliato, ai parlato de cinque bo. Cosa ha sussedesto con quel altro? A questo punto il Joanin ha dato una tossida, ha ciapato il paiero che il gaveva su la recia, ha penssato un poco fece una pose de importante e dice:
- Ben, questo lo gavemo prendesto a muche. Mi lo go prendesto per la coa e il Gambon per i corni. Io ho conta fina tre e insieme ne abiamo dato un colpo seco al bestiol. Questo lera al pio cativo de tutti. Il ze caduto stirá in terra. Quando son andato per prenderlo com la corda ho visto che il gera belche morto. Il Gambon  ghe ha dato un colpo tropo forte che lo ha desnucá. Per sorte gavea incieme la faca e ghe ho cavá il sangue la propio.
- Questa la vera storia. Mi penso che il Laurindo necessita essere piu atento con i contadori de storie e frotole. Tante volte il popolo conta storie mentirose sol per aparecere nel giornale.
Obrigado, Elio, pela ajuda.

               


segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

CAÇA AO TICO-TICO

 Perseguíamos um tico-tico

FUNDA COM TIRAS DE BORRACHA

Todo o guri, na época, tinha que ter uma funda;

 para se salvar refugiou-se numa moita espinhenta no meio do nosso potreiro.






CAÇA AO TICO-TICO

Houve época em que eu sentava junto aos mais velhos para ouvi-los falar de antigamente. Os anos passaram e hoje os papéis se inverteram. Cá estou eu contando histórias reais e fictícias sobre coisas que ouvi, e das vivências próprias de épocas passadas.
Considero-me um privilegiado por ter ao meu dispor a tribuna do jornal Ação e, assim, alcançar um grande número de pessoas para divulgar ensinamentos, levar diversão e, resgatar alguns aspectos da cultura de nossa gente.
Nos últimos anos, as coisas mudaram muito rapidamente. Mesmo pessoas mais novas, vinte ou trinta anos, viveram experiências hoje já ultrapassadas. Quem ainda utilizaria o vídeo gama que há bem pouco tempo era um símbolo de modernidade. Nossos avós e bisavós nasceram e morreram sem terem vivenciado mudanças sociais, tecnológicas e culturais significativas.
Venho de um tempo em que não tínhamos energia elétrica na nossa casa. Eram tempos em que fabricávamos os nossos próprios brinquedos. Ainda que as crianças de hoje não consigam entender isso, mas éramos felizes. Era divertido e educativo.
Todo o guri, na época, tinha que ter uma funda; uma forquilha cuidadosamente colhida numa capoeira, um couro tirado de algum chinelo velho e duas tiras de borracha cortadas de alguma câmara de automóvel. As câmaras, na época, eram feitas de puro látex diferente das de hoje fabricadas com borracha sintética e, por isso, sem elasticidade, imprópria para fazer fundas.
Naquele domingo de tarde, como de costume, saímos para caçar pelos potreiros. Perseguíamos um tico-tico que para se salvar refugiou-se numa moita espinhenta no meio do nosso potreiro. Cercamos a moita e disparamos fundadas de todos os lados tentando acertar o coitado. Então o Flavio espichou sua funda e com toda força disparou o tiro que atravessou a moita indo acertar a cabeça de Marialdo Chies no outro lado da moita. A pedra fez um estrago significativo no supercílio deixando o rosto dele todo ensanguentado. Nós todos ficamos apavorados. O Erno, que não podia ver sangue, desmaiou. Marialdo mal podia caminhar. Meio cambaleando levamos o guri para cima. Estávamos preocupados com a explicação que daríamos á nossa mãe. Então ela tratou de lavar o ferimento com água oxigenada e fez um curativo usando o kit de primeiros socorros que Tia Clara deixara lá em casa na última vez que esteve nos visitando.
-Hora, disse ela, amarrar os ferimentos com um paninho! É a total falta de higiene! Ela era enfermeira no Hospital Santa Casa.

 Por sorte, ao atravessar a moita, a pedra perdeu força abrindo, somente, um pequeno corte. Por ter sido na sobrancelha sangrou muito dando a impressão de um ferimento sério. Marialdo, ainda hoje, tem uma pequena marca acima do olho esquerdo. Um desavisado nada percebe, mas quem olhar com atenção vai perceber uma cicatriz muito discreta encoberta parcialmente com os pelos da sobrancelha.