segunda-feira, 11 de agosto de 2014

UM XIXI SALVADOR

 Era uma bergamoteira velha, no meio da roça, e dava umas frutas doces e saborosas.

 Era uma bergamoteira velha, no meio da roça, e dava umas frutas doces e saborosas.
Tia Clara, meu irmão e eu
Joanin
Quando o ônibus parou, nós, a gurizada, saímos correndo para receber a Tia. 
Eram os bois fujões do Remo. Vinham em nossa direção para nos atacar. 

UM XIXI SALVADOR


Era tempo das bergamotas. Tia Clara gostava de vir porque nesta época sempre tinha frutas em abundância aqui em casa. Levava sacolas de laranjas e bergamotas porque, dizia ela, que as frutas daqui são melhores e lá em Porto Alegre custavam caro.
Quando o ônibus parou, nós, a gurizada, saímos correndo para receber a Tia. Papai não gostava dela. Dizia que ela se metia nas coisas que não lhe diziam respeito. Mas nós adorávamos a Tia. Ela sempre trazia presentes, coisas da cidade.
Papai e mamãe conversaram longamente com a Tia naquela noite. Antes de dormir, combinou conosco que, no dia seguinte, iríamos apanhar bergamotas lá no morro. Era uma bergamoteira velha, no meio da roça, e dava umas frutas doces e saborosas.
Depois do café, minha Tia, meu irmão mais novo e eu saímos para pegar as bergamotas. Meu pai aconselhou que a tia não fosse, pois ela mancava devido a uma sequela que ficara quando levou um tombo tentando aprender a andar de bicicleta. Antes de sairmos de casa mamãe nos alertou sobre os bois que tinham fugido do açougue do Remo. Ficou preocupada, pois se falava que eram bois brabos. Então papai disse que não era para se preocupar porque o açougue ficava “Lá Fora” e certamente os bois não teriam fugido para cá.
Na subida do morro Tia Clara se convenceu que papai tinha razão. Disse que ia voltar e que fôssemos sozinhos pegar as bergamotas.
Quando chegamos perto da bergamoteira ouvimos um berro forte atrás de nós. Eram os bois fujões do Remo. Vinham em nossa direção para nos atacar. Por sorte estávamos perto da bergamoteira e quando os bois chegaram, já estávamos a salvo em cima da árvore. Eram dois bois enormes. Berravam, mugiam e cavavam com as patas dianteiras.
E agora, o que fazer? Pelo menos aqui no alto não corríamos riscos. Depois de algum tempo meu irmão disse que precisava fazer xixi. Então falei para ele fazer dali mesmo.
- Vou mijar em cima do boi, disse ele. Tomou posição num galho e mirou bem na fuça do bicho. Quando o animal sentiu o gosto salgado da urina, soltou um berro e saiu correndo dali dando coices no ar com as duas patas traseiras ao mesmo tempo. O outro, não sabendo o que acontecera, saiu correndo também.
Foi o que nos salvou. Descemos e numa corrida só, fomos até em casa.
    No dia seguinte, soubemos que o Gabriel, com o seu rifle, matou os dois bois com um tiro certeiro na cabeça.
Estavam lá em Coblens refugiados num mato. O Remo, o Gambon, o Artêmio, o Djoanim, o Rodrigues, o Lauro da Costa e mais alguns homens corajosos acompanharam o Gabriel na caçada.
Quando Tia Clara embarcou no ônibus lamentou não poder levar para casa uma sacola cheia de bergamotas.



Nenhum comentário:

Postar um comentário