segunda-feira, 28 de julho de 2014

CAMILA LENK "Menina"

Camila Lenk




Camila Lenk é uma moça de dezenove anos mora no Espírito Santo e, também, escreve. É minha amiga na internet e publica seus textos num blog.  Gostei de “Menina” e estou repassando para vocês.


Menina

Eu sei que tem tempo que não escrevo uma crônica e ainda estou devendo a do meu aniversário. Mil perdones!
Mas a inspiração é algo especial, contraditória, mais humana que superficial. E me vem no meio de uma noite insone quando eu menos espero e quero.

O Artista não é inspirado o dia todo. Senão, não existiriam as grandes obras que marcaram época. A inspiração é um dom preservado e íntimo. Ela é autoritária e independente. Ora, seria clichê se todas as obras fossem perfeitas. Não existiriam as melhores exceções.

A inspiração é uma intuição. Tem dia que o sol nasce lindo e perfeito, mas não consigo criar uma letrinha pra contar história. Em outros dias nublados e tristes e solitários, lá estou escrevendo as crônicas mais sentimentais possíveis à todo vapor. Uma atrás da outra.

Uma inspiração deve querer dar prazer aos outros. Escrever para mim? Que há de nexo nisto!? Uma obra não deve ser auto-satisfatória. Tem que ser dedicada. Mesmo que não se saiba para quem.

Ao tempo que, inspiração não é acaso. Tem momento e vivência. Nós é que devemos estar atentos. O ambiente interior é a essência. É preciso mergulhar nas profundezas da nossa intimidade para descobrir como expressar o que descobrimos. O que há dentro de mim que me leva escrever agora?  O desejo de me desculpar, me redimir. Não quero deixar de ser lida. A minha alma foi comprada pelas palavras, todo mundo sabe.
Seria lamentável não ter leitores.

Com isto, quero além de pedir perdão... Pedir compreensão.

Não sou artista. Nem escritora. Nem musa. Sou menina.



terça-feira, 22 de julho de 2014

CINEMA, A SÉTIMA ARTE.

Antigo projetor de filmes

Antigo projetor de fitas tocado a manivela











CINEMA, A SÉTIMA ARTE



Porque o cinema é chamado de “SÉTIMA ARTE”? Porque até a descoberta do cinema havia a liste de Hegel, de seis artes: arquitetura, escultura, pintura, música, dança e poesia. Em 1912, o intelectual italiano Ricciotto Canudo, propôs que se incluísse o cinema nesta lista como a sétima.

Basicamente, o cinema é uma ilusão. Na verdade, o que vemos é uma sucessão de fotografias que por ser muito rápida nos dão a impressão de movimento. Este princípio é o mesmo desde os primeiros filmes até as máquinas modernas. Sempre é uma sucessão de fotografias. Quando você filma alguma coisa no seu celular está utilizando esse mesmo principio. O que mudou é a forma de registrar as fotografias: do analógico para digital.

O cinema é um recurso importante para o entretenimento, educação e informação. Foi, por exemplo, utilizado por Hitler para difundir suas ideias, entre o povo alemão, e assim consolidar o “TERCEIRO REICH”.

Entre a nossa gente o cinema também causou impacto. Lá pelos anos cinquenta e sessenta eram exibidas fitas nas nossas colônias. Algumas vezes, em salões ou ao ar livre, pois as pessoas, sempre, acorriam em grande número. Era uma novidade impressionante.
 A Norma lembra que era uma menininha quando viu cinema pela primeira vez. Foi no Salão do “Fridchen”. Era uma fita que orientava os colonos no seu ofício de cultivar batatinha. Lembra que mostrava o cuidado que se deveria ter na escolha da semente, no distanciamento e armazenamento. Claudino Käfer lembra da fita “JACINTA FRANCISCO E LÚCIA”. Claudio contou que ficou muito impressionado e que as pessoas se baixavam quando na tela mostrava um avião que parecia iria passar por sobre a cabeça delas. Disse que também se impressionou quando ouviu um cachorro falando.

 Renato Chies contou que nos anos cinquenta e sessenta tinha um amigo no Consulado Alemão e através dele conseguiu emprestado todo o equipamento, inclusive uma combi, para passar fitas por todo o interior de Salvador do Sul.

Vejam, são cinquenta ou sessenta anos quando a nossa gente viu, pela primeira vez, cinema. Nas colônias, foi um acontecimento tão grande que deixou muitas pessoas impressionadas a ponto de ainda hoje lembrarem, com detalhes, o que foi mostrado. Hoje, qualquer criança com seu celular, é capaz de produzir um filme.Como tudo, também a “A SÉTIMA ARTE”, evoluiu muito rapidamente.
 Creio que essa rapidez com que as coisas mudam tenha uma implicância no comportamento da sociedade moderna. Sempre precisamos de novidades. E quando não podemos tê-las constantemente, nos frustramos. Talvez, seja essa a principal causa de depressão que acomete grande parte da população de hoje.

terça-feira, 15 de julho de 2014

UM INCÊNDIO NA CASA DE KOFETSCHEN

Alberto kohhan (Kofetschen) por volta de 1968


provavel localizaçao da casa de Alberto
Professor Pedro Kohhan, pai de Alberto
Fazia de tudo: artesanato... Bau feito por alberto.Pertence a Arsenio Royer
                        Observem a perfeiçao dos encaixes.
Amalia, esposa de Alberto








UM INCÊNDIO NA CASA DO KOFETSCHEN

O nome dele era Alberto kohhan e era casado com a Amália Henzel kohhan(das mohlschen). Não eram anões, mas tinham uma estatura muito baixa, talvez um metro e meio. Se considerarmos a altura dos dois poderíamos dizer que foram feitos um para o outro.
Quem me contou a história foi Arsênio Käfer que esteve em Arroio a convite de Amélia Käfer Royer que fez uma festa para comemorar seus oitenta anos. Disse Arsênio que estava na roça quando viu as labaredas e a fumaça subindo. Quando chegou o fogo já havia consumido quase toda a casinha, uma barraquinha velha cheia de frestas. Os dois haviam saído e deixaram as crianças em casa. Ninguém se feriu, graças aos mais velhos que tiraram os pequenos de dentro de casa deixando-os a salvo. A comunidade, generosamente, construiu uma nova casinha agora melhor e mais confortável.
Alberto era um homem excepcionalmente hábil e inteligente. Fazia de tudo: artesanato, cantava no coral do seu pai, trabalhava na roça, mas a atividade que lhe dava destaque era os foguetes que fabricava. Aprendera o oficio do seu pai, Pedro Kohhan, que era professor na comunidade. Pedro não foi bom professor apesar de ter sido um homem muito inteligente. Ele era muito preguiçoso, disse Arsênio. Na verdade não era preguiça, era falta de vocação para o magistério. Foi dele que Alberto herdara a inteligência. Quando Pedro faleceu deixou para seu filho Alberto a fórmula de fabricar foguetes. O incêndio que destruiu sua humilde casinha destruiu, também, todo o material da fabriqueta e a fórmula que Alberto recebera do pai. Por isso, teve que reinventar uma nova fórmula. Quando D. Vicente Scherer, nosso Bispo, veio visitar a capela foram largados os primeiros foguetes feitos a partir da nova fórmula. Conta Arsênio que os foguetes não subiam. Davam voltas entre o povo até que explodiam. Quando perceberam as falhas suspenderam os foguetes antes de a comunidade ter de passar pelo vexame de algum deles atingir o bispo.
Alberto morava onde hoje passa a estrada que vai do Sagrado até Cobléns, próximo a divisa dos municípios de Barão e Carlos Barbosa. Fui até o local para procurar vestígios da casa mas nada mais pude encontrar.
Assim como Alberto, muitos talentos se perdem por aí por falta de oportunidade. O princípio que fazia os foguetes do (Kofetschen) subirem era o mesmo que mais tarde foi utilizado para enviar foguetes para o espaço e para a lua. Somente o combustível utilizado era diferente.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

CRUELDADE COM UM MACACO

Correntinha que Alvis ainda guarda. Estava encrustada na forquilha da árvore

Veja a natureza. O cipó foi envolvido pela árvore

Crueldade com o bichinho

A correntinha que prendia o macaco, depois de mais de cinquenta anos










CRUELDADE COM UM MACACO


Quando o Alvis ainda era um piá, os Gräf, de Coblens, tinham um macaco domesticado. Ele fora capturado ainda filhote quando sua mãe foi morta por um caçador. E para que ele não fugisse mantinham-no preso a uma corrente. Deram-lhe leite com mamadeira e ele se criou forte e saudável. 
Certo dia, o macaco, quando já adulto, fugiu com a corrente presa no pescoço. Procuraram pelos matos da redondeza durante vários dias e nada mais puderam encontrar.
Muitos anos depois, num domingo de manhã,  o Alvis, quando já adulto e casado, foi caçar pombas. Na época, as pessoas não tinham, ainda, a consciência ecológica como hoje e era muito natural caçarem-se pombas e outros passarinhos pelos matos da redondeza. De repente, viu algo inusitada. Presa na forquilha de uma árvore e já incrustada no tronco uma correntinha. O Alvis conta que, quando viu a correntinha, lembrou-se, imediatamente, do macaco fujão que havia acontecido há tantos anos. Certamente, pulando de galho em galho, a corrente ficou presa naquela forquilha e o macaco morreu enforcado.
Segundo o meu entendimento, toda a domesticação é um ato de violência. Seja um passarinho preso numa gaiola, um boi puxando o arado, um cachorro, um gato ou qualquer animal. Retiramo-lo do ambiente para o qual fora criado. Muitos animais estão tão condicionados que já não sobreviveriam sozinhos na natureza.
Quando o Alvis viu aquela correntinha incrustada naquela forquilha, imediatamente, o passado distante veio à tona.
A natureza nos presenteou com esse dom maravilhoso que é vital para a nossa sobrevivência.
A nossa memória é algo fantástico.  


terça-feira, 1 de julho de 2014

DER GESCHETSMANN ( o comerciante)



 
Antes dele, a casa comercial pertencia a seu sogro que construíra um belo prédio para esta finalidade.

Balcão e prateleiras, ainda, em bom estado de conservação.

Balcão e prateleiras, ainda, em bom estado de conservação.

Escada para o sóton

Oito leiteiros que recolhiam o leite para o fabrico de queijo

Casa comercial de Jacó Edmundo Klein, sogro de Celso.1927



DER GESCHEFTSMANN


 Em todos os idiomas existem palavras que encerram uma força de expressão própria. São vocábulos intraduzíveis. Assim, é a palavra “GESCHETSMANN” no alemão. A tradução literal é “homem de Negócios”, mas o “Geschetsmann” era muito mais do que isso. Geralmente, tinha mais instrução que os colonos, sabia falar bem o português e, muitas vezes, possuía o único automóvel na comunidade, portanto, também, taxista para as emergências. Havia uma relação de confiança entre ele e seus fregueses. Não titubeava em vender a prazo, pelo tempo que fosse necessário, quando um colono passava por dificuldades. Esses comerciantes desempenhavam um papel importante nas suas comunidades porque, além da relação comercial, eram, também, conselheiros, intérpretes, avalistas e até advogados. Em geral, eram homens honrados e vistos como exemplos de retidão e honestidade. Claro que em troca disso ganhavam muito dinheiro, o que não incomodava os colonos por que sabiam que um Gescheftshaus (casa comercial) forte também os beneficiava por que lhes garantia um bom sortimento de produtos para comprar e oportunidade de venda das suas colheitas.
 Em Arroio Canoas, tivemos um homem assim. Chamava-se Celso Mombach. Antes dele, a casa comercial pertencia a seu sogro que construíra um belo prédio para esta finalidade. A propriedade, hoje, pertence aos herdeiros de Vitório Chies e serve de moradia a Lenita.
Celso herdara de Klein, seu sogro, um comércio próspero. A casa comercial crescia de modo que quem quisesse comprar, lá encontrava um sortimento muito grande de produtos, desde material de construção até miudezas.
Conversei com algumas pessoas para confirmar a imagem positiva que eu tenho de Celso. Helma Hänich falou assim:
-Ele foi um bom homem. Lembro dele com saudade. Jamais deixou de acudir alguém necessitado. Nelcido disse:
- “Ele foi um homem nota dez. Claro que era muito cuidadoso com seu negócio, mas jamais foi desonesto.”Alério Bassegio me contou que eles, “a família Basei”, eram vizinhos dele. Após o meio dia vinha tomar chimarrão na sombra das árvores. Adorava contar histórias e ria às gargalhadas. Fumava palheiros, mas sempre tinha fumo amarelinho, e fazer seu cigarro obedecia a um ritual e seu palheiro era uma verdadeira obra de arte.
Infelizmente, para Arroio Canoas, foi chamado para Barão para substituir seu sogro que foi morar em Porto Alegre.
 Morreu muito cedo, com 50 anos, porém, tempo suficiente para nos deixar um legado de trabalho, honestidade e alegria. Era casado com Irma Klein Mombach e tiveram quatro filhos: Amadeu, Marisa, José Alberto e Vera Terezinha.