segunda-feira, 10 de setembro de 2012

OS BOIS FUJÕES DO REMO





OS BOIS FUJÕES DO REMO


De tardezinha, o ônibus parou na frente da nossa casa



 E Tia Clara desembarcou.
 Eram dois bois enormes. 

 Gabriel, com seu rifle, matou os dois com um só tiro.




OS BOIS FUJÕES


De tardezinha, o ônibus parou na frente da nossa casa e a Tia Clara desembarcou. Era o aniversario de papai, data que ela jamais esquecia. Saímos correndo para recebê-la. Papai não gostava dela porque ela se metia nas coisas que não lhe diziam respeito. Mas nós a adorávamos. Sempre nos trazia presentes da cidade.
Quando entrou, foi logo cumprimentar papai e, de presente de aniversário, lhe deu uma lima triangular para afiar o serrote.
 Antes de dormir, combinamos que, no dia seguinte, iríamos apanhar bergamotas numa bergamoteira velha lá no morro, no meio da roça.
Depois do café, a Tia, meu irmão mais novo e eu saímos para pegar as bergamotas. Meu pai aconselhou que a tia não fosse, pois mancava devido à sequela de um tombo de bicicleta. Antes de sairmos de casa, mamãe lembrou-se dos bois que tinham fugido do açougue do Remo. Ficou preocupada, pois se falava que eram brabos. Mas papai nos tranquilizou dizendo que o açougue ficava “Lá Fora” e, certamente, os bois não teriam fugido para cá.
Na subida do morro Tia Clara se convenceu que papai tinha razão. Desistiu de nos acompanhar e que fôssemos sozinhos apanhar as bergamotas.
Quando chegamos perto da bergamoteira ouvimos um berro atrás de nós. Eram os bois fujões do Remo. Por sorte estávamos perto, e quando iam nos alcançar, já estávamos a salvo em cima da árvore. Eram dois bois enormes. Berravam, mugiam e cavavam com as patas dianteiras.
E agora, o que fazer? Pelo menos aqui no alto não corríamos riscos. Então, meu irmão disse que precisava fazer pipi. Falei para fazer daí mesmo.
- Vou “mijar” em cima do boi, disse.
 Tomou posição num galho e mirou bem na fuça. Quando o animal sentiu o gosto salgado da urina, levantou a cabeça e pôs os dentes a mostra. Deu um berro e saiu correndo, dando coices no ar, simultaneamente, com as duas patas traseiras. O outro, não sabendo o que acontecera, saiu correndo também.
Foi o que nos salvou. Descemos, e numa corrida só, fomos até em casa.
   No dia seguinte, soubemos que o Gabriel, com seu rifle, matou os dois com um só tiro. A bala atravessou o crânio do primeiro e ficou alojada na cabeça do outro. Estavam lá em Coblens refugiados num mato. O Remo, o Gambon, o Artêmio, o Djoanim, o Rodrigues, o Lauro e mais alguns homens corajosos acompanharam o Gabriel na caçada.
Quando a Tia embarcou no ônibus lamentou não poder levar para casa um saco cheio de bergamotas deliciosas. Porém deu graças a Deus por ter desistido de nos acompanhar.


  
   



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