OS BOIS FUJÕES DO REMO
De tardezinha, o ônibus parou na frente da nossa casa
Gabriel, com seu rifle, matou os dois com um só tiro.
E Tia Clara desembarcou. |
Eram dois bois enormes. |
Gabriel, com seu rifle, matou os dois com um só tiro.
OS
BOIS FUJÕES
De
tardezinha, o ônibus parou na frente da nossa casa e a Tia Clara desembarcou. Era
o aniversario de papai, data que ela jamais esquecia. Saímos correndo para recebê-la.
Papai não gostava dela porque ela se metia nas coisas que não lhe
diziam respeito. Mas nós a adorávamos. Sempre nos trazia presentes da cidade.
Quando
entrou, foi logo cumprimentar papai e, de presente de aniversário, lhe deu uma
lima triangular para afiar o serrote.
Antes de dormir, combinamos que, no dia
seguinte, iríamos apanhar bergamotas numa bergamoteira velha lá no morro, no
meio da roça.
Depois do
café, a Tia, meu irmão mais novo e eu saímos para pegar as bergamotas. Meu pai
aconselhou que a tia não fosse, pois mancava devido à sequela de um tombo de
bicicleta. Antes de sairmos de casa, mamãe lembrou-se dos bois que tinham
fugido do açougue do Remo. Ficou preocupada, pois se falava que eram brabos.
Mas papai nos tranquilizou dizendo que o açougue ficava “Lá Fora” e, certamente,
os bois não teriam fugido para cá.
Na subida
do morro Tia Clara se convenceu que papai tinha razão. Desistiu de nos
acompanhar e que fôssemos sozinhos apanhar as bergamotas.
Quando
chegamos perto da bergamoteira ouvimos um berro atrás de nós. Eram os bois
fujões do Remo. Por sorte estávamos perto, e quando iam nos alcançar, já
estávamos a salvo em cima da árvore. Eram dois bois enormes. Berravam, mugiam e
cavavam com as patas dianteiras.
E agora,
o que fazer? Pelo menos aqui no alto não corríamos riscos. Então, meu irmão
disse que precisava fazer pipi. Falei para fazer daí mesmo.
- Vou “mijar”
em cima do boi, disse.
Tomou posição num galho e mirou bem na fuça.
Quando o animal sentiu o gosto salgado da urina, levantou a cabeça e pôs os
dentes a mostra. Deu um berro e saiu correndo, dando coices no ar,
simultaneamente, com as duas patas traseiras. O outro, não sabendo o que
acontecera, saiu correndo também.
Foi o que
nos salvou. Descemos, e numa corrida só, fomos até em casa.
No dia seguinte, soubemos que o Gabriel, com
seu rifle, matou os dois com um só tiro. A bala atravessou o crânio do primeiro
e ficou alojada na cabeça do outro. Estavam lá em Coblens refugiados num mato.
O Remo, o Gambon, o Artêmio, o Djoanim, o Rodrigues, o Lauro e mais alguns
homens corajosos acompanharam o Gabriel na caçada.
Quando a
Tia embarcou no ônibus lamentou não poder levar para casa um saco cheio de
bergamotas deliciosas. Porém deu graças a Deus por ter desistido de nos
acompanhar.
Lembranças sempre bem vindas.
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