segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

PARTIREI. Mensagem de Natal.


PARTIREI


Sem rumo, sem destino navego em águas que não são as minhas. Sem data, sem norte. Tu eras meu norte!
E agora, o que faço com as minhas palmas com a minha coroa de louros?
Havia um sol generoso e fiel. Havia uma luz que me guiava. Um farol. Havia um farol...
Navego por navegar. Sem pressa sem direção ao sabor da maré ou da correnteza. Abandonei-me nos braços do destino. Entreguei-lhe o leme. Não tenho mais alternativas nem forças e nem lágrimas. Tentei caminhos, trilhas, veredas...
 Tudo eu suportaria, mas não a indiferença. Acostumei-me com o céu da esperança, acreditei em promessas, mas tiraste o coração de campo. A tua razão fria e calculista está no comando.
Grito com todas as forças:
 - Onde estás? Em que esconderijo? Como resposta, somente o eco da minha própria voz.

Que cada um dos meus queridos leitores encontre seu norte em 2012. Que haja um farol e um sol para aquecer-te e iluminar teu caminho. E que os braços do destino aonde vais te abandonar se chame Jesus. Entrega-lhe o leme. Ele conhece os atalhos ele saberá secar tuas lágrimas. Ele conduzirá teu barco ao porto seguro e lá haverá alguém te esperando, talvez na forma de um anjo, de um príncipe, de uma mulher, ou de uma flor, quiçá, amarela.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

CAFUNDÓ







CAFUNDÓ
A festa de Cafundó
Quem fizer seu julgamento sobre essa localidade baseado no nome poderá pensar que se trata de um lugar horrível, na gíria, “onde o diabo perdeu as botas”, “ o fim do mundo” ou expressões equivalentes. No entanto, é um lugarejo aprazível exibindo uma natureza exuberante cercado de morros verdejantes que encantam o visitante.
Em épocas passadas, era uma comunidade próspera com muitos colonos cultivando as terras que, a pesar de íngremes, possuíam um solo fértil de modo que onde se plantasse um pé de milho, com certeza, a colheita era garantida. Lembro que havia uma expressão popular que dizia que os colonos de Cafundó plantavam o milho com a espingarda carregando as sementes num cartucho.
  A situação de Cafundó mudou porque a agricultura moderna foi descartando aquelas encostas acidentadas, por que não permitiam a mecanização. Daí o êxodo rural foi inevitável tirando os moradores da localidade que foram procurar trabalho nas cidades próximas como Carlos Barbosa, Canoas, Porto Alegre e outras. Hoje somente duas ou três famílias permanecem aí exercendo atividades compatíveis como, por exemplo, um alambique que já se tornou famoso pela qualidade do seu produto.
Quem visita Cafundó hoje não percebe mais sinais dos tempos em que aquelas encostas eram utilizadas para a agricultura. A localidade é um belo exemplo da capacidade da natureza em se recompor. Isso vale tanto para a flora como para a fauna. Tenho uma teoria, de que a fauna ainda não está equilibrada, pois os predadores demoram mais que os outros animais para voltarem. Então se criam enormes bandos de quatis, macacos e outros que procuram alimentação nas roças dos colonos. Mas se dermos o devido tempo esse equilíbrio também irá se estabelecer.
Cafundó faz, todos os anos, no segundo domingo de dezembro, a sua festa que é tradicional e já famosa. Desde há muito tempo é realizada, porém depois do êxodo rural, houve dificuldades para mantê-la e durante alguns anos foi suspensa. Porém, o Padre Ademar, quando vigário de Poço das Antas, conseguiu retomá-la e hoje é um evento consagrado no calendário regional. A igrejinha encanta pela sua simplicidade e bom gosto. Foi construída em madeira e está deteriorando sendo necessário um investimento para preservá-la. É uma festa onde ainda se conserva costumes tradicionais como casais que compram um espeto e na sombra das árvores almoçam num clima descontraído onde a simplicidade é a tônica.
Saúdo o povo de Cafundó, os moradores locais e os de outras localidades que se dispõem a ajudar na organização do evento. Sem eles a festa não seria viável.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Padre Ademar José Ströher


PADRE ADEMAR JOSÉ STRÖHR




Padre Ademar.

O Padre Ademar Ströher é o vigário da paróquia de São Pedro da Serra desde o início deste ano. Nós, o povo desta paróquia, lhe queremos muito bem. Aos poucos foi tomando pé e hoje ele mora em nossos corações. Sua simplicidade, seus sermões sempre pertinentes, suas virtudes e seus exemplos fazem dele um verdadeiro pastor e guia espiritual.
Neste fim de semana Padre Ademar completou 25 anos de sacerdócio. Foi homenageado com uma grande festa que iniciou com uma missa solene na igreja matriz e depois um almoço comemorativo no salão paroquial. Muitos colegas padres estiveram presentes e a igreja estava lotada de fiéis vindos de recantos diversos do Rio Grande do Sul, localidades onde ele havia exercido o seu ministério pastoral.
Nos últimos anos, tivemos a ventura de termos dois excelentes vigários na nossa paróquia: atualmente Padre Ademar e antes Padre Asabido. Cada um tem um estilo diferente de trabalhar. Padre Asabido procura evangelizar através de solenidades, representações e atividades concretas com as quais tentava sensibilizar os corações dos seus fiéis. Padre Ademar tem um estilo mais introspectivo e contemplativo, e se vale da compenetração, reflexões, e da oração. Os dois perseguem o mesmo objetivo somente usam métodos diferentes.
A nossa capela, Sagrado Coração de Jesus, participou ativamente da solenidade com doações e trabalho e na missa as crianças cantaram um canto de paz.
A igreja estava ornamentada com lindas flores multicoloridas e entre elas havia uma especial que mexeu com a minha fantasia e em suas asas voei para muito, muito longe. Ela era de cor amarela.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Entrvista para Juremir Machado.


ENTREVISTA PARA JUREMIR MACHADO DA SILVA

Parte 1/10 Esta entrevista foi gravada no dia 21/11/2011 e foi ao ar pela UNITV CANAL 15 no programa "LIVRO ABERTO" DE JUREMIR MACHADO DA SILVA

 
                                                              Parte 2/10
Nos fundos o sino de Arroio Canoas com as "Ave Marias" vespertinas

Parte 3/10Parte 4/10Parte 5/10Parte 6/10Parte 7/10Parte 8/10Parte9/10Parte 10/10

domingo, 27 de novembro de 2011

SAO BERNARDINO















SAUDADE E AVENTURA
Conheci São Bernardino em 1968. Algumas choupanas e uma rua empoeirada no verão e barrenta nos dias de chuva. Naquele tempo, ninguém podia dar-se ao luxo de cultivar um jardim ou pintar sua casinha. A ordem era trabalhar. As dívidas precisavam ser pagas. Não havia qualquer tipo de incentivo governamental. Cada vintém tinha que ser arrancado da roça. E aí no meio do mato, afastado de tudo, os colonos precisavam se bastar. O homem tinha sobre seus ombros o peso da responsabilidade de fazer prosperar o seu empreendimento. Ele viera atrás de um sonho e impulsionado pelo espírito aventureiro embrenhara-se neste mundo selvagem onde não havia um mínimo de conforto.
Mas, as mulheres foram as mais sacrificadas, por que eram arrancadas do seu mundo para acompanhar o sonho do marido que nem sempre era o seu. Ela precisava esquecer o conforto, a segurança, a vaidade natural de toda mulher, anular seus anseios para se amalgamar ao projeto do marido. E além de toda a lida doméstica ajudava na roça porque era necessário produzir, produzir e produzir.
Visitei algumas famílias e em cada rosto desses pioneiros pude ver a marca da dureza daqueles primeiros anos, e no olhar a saudade das “velhas colônias” que ficaram para trás. E então a visita, que deveria ser rápida, se estendia porque queriam saber de tudo e de todos.      
No início a localidade era conhecida como “Vila Scheid” porque Aldino Leo Scheid foi o pioneiro e colonizador da região. Ele mesmo, em determinada ocasião, mudou essa denominação para São Bernardino por que o seu aniversario coincidia com o dia dedicado a São Bernardino.
Os primeiros colonos vieram em 1958 e em 1968 já 90 alunos frequentavam a escola. Algumas coisas, lá no início, eram importantes para a comunidade: casa comercial, escola, igreja e uma serraria. Nelson contou-me que Friedhold Joao Walker teve uma serraria. Ele foi um homem importante na comunidade a ponto de merecer uma homenagem. O ginásio de esportes recebeu seu nome. Ele é pai do atual prefeito, Waldir Walker, o quarto desde a criação do município.
Esses pioneiros, muitos ainda vivos, são os verdadeiros heróis de São Bernardino. Eles, em trinta anos transformaram humildes choupanas em mansões, estradas empoeiradas e lamacentas em ruas asfaltadas e um aglomerado de vinte casinhas humildes numa cidade encantadora. Vi jardins com flores multicoloridas e entre elas uma amarela a mais linda de todas.  A população é educada e simpática e ao andar pelas ruas as pessoas me cumprimentavam com um cortês “bom dia” ou “boa tarde”.
Alguns pioneiros: Schneider, Riffel Krindges, Wolfard, Fusinger, Ludwig, Fritzen, Weschenfelder, Haupentahl, Walker e muitos outros.
Contei um pouco da história de São Bernardino. Se mudássemos, somente, os nomes ela caberia em centenas de localidades espalhadas por esse Brasil afora. E em cada coração desses aventureiros ainda palpita o amor pelo Rio Grande presente no chimarrão, Grêmio e Colorado, CTGs e na música tradicionalista.
Minha homenagem ao povo de São Bernardino e especialmente, à minha Flor Amarela.
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quinta-feira, 17 de novembro de 2011

MINHA FLOR AMARELA











Parte superior do formulário
Parte inferior do formulário




MINHA FLOR AMARELA


Na época da primavera, há certa beleza impalpável suspensa no ar. Quem não presta atenção nada percebe. Mas para quem tiver sensibilidade suficiente verá jardins multicoloridos ornamentando os lares desse nosso interior.
 Em geral as mulheres se dedicam a essa arte, mas, muitas vezes, os homens também prestam sua colaboração fornecendo esterco, construindo muros ou aparando cercas vivas e gramados. Essa tradição do jardim na frente de casa veio dos nossos imigrantes. Os alemães, originalmente, se dedicavam mais a essa arte e era muito raro encontrar-se um lar sem o seu jardim por mais humilde que fosse a casa onde moravam. Hoje, o costume se difundiu e nas colônias italianas e de outras origens encontram-se lindos jardins que encantam o transeunte e deixam mais alegres as nossas comunidades.
As cidades também enfeitam suas praças com flores. Essa atividade tomou tal dimensão que hoje existem empresas especializadas que se dedicam exclusivamente ao ajardinamento. Especialistas criam novas espécies de flores cada vez mais lindas e delicadas.
 Se visitarmos a serra gaúcha, nessa época ficamos encantados com as cidades exibindo toda essa beleza multicolorida. Há, porém, um encanto especial nos jardins do nosso interior. Enquanto nas cidades partimos para a sofisticação, planejamento e artificialismo nas nossas colônias o jardim é espontâneo misturando-se todos os tipos de flores e cultivando-se espécies antigas trazidas até nós pelas gerações que nos antecederam. Muitas vezes, as flores criadas em laboratórios são tão perfeitas que nos deixam na dúvida se são naturais ou de plástico.
Tenho, também, um jardim. Nele cultivo uma só flor. Ela é única no mundo e é a mais linda entre todas. E ela é amarela. Não vou revelar seu nome por que as flores mais bonitas são humildes e não quero deixá-la constrangida. Mas ela sabe quem é a minha flor. Aliás, somente ela sabe e isso é o nosso segredo.
 Se tiveres um jardim na frente de tua casa alegra-te com ele. Cuida dele com muita ternura e carinho. Mas se puderes cultivar uma flor no teu coração então sentirás a magia tocar o teu ser. As esperanças retornarão e tudo vai fazer sentido. Novamente valerá apena viver.
 O que faríamos sem a fantasia que pode nos levar até as estrelas? Como seria possível enfrentar a dura realidade sem uma dose de ópio? Eu achei a minha flor. Ela é amarela e não há outra igual no mundo. Prepara, também, o teu coração para receber a tua por que as flores não avisam quando vão desabrochar.

domingo, 13 de novembro de 2011

TUDO É RELATIVO

 

NADA É ABSOLUTO, TUDO É RELATIVO


1-Em quinta Coluna do Sul nem tudo é absoluto. Por exemplo, lá mora Parte superior do formulárioalguém que adora ouvir os arrotos de certa mulher. Pode alguém gostar de ouvir um arroto barulhento? Ele gosta. Diz que aquilo, para ele, é poesia.
2-Sei de outro que diz que o “pum” da sua amada tem cheiro de perfume. Pode?!
3-Uma moça me confessou que gosta do cheiro forte de homens que não tomam banho. Isso lhe traz uma sensação de convívio familiar, de segurança, de paz. Na sua infância, seu pai que lhe dava colo, não era adepto do banho diário
.
4-Numa tarde insuportavelmente quente, num banco de praça, dois namorados se curtiam abraçados. Quando todos fugiam da temperatura abrasadora, eles procuravam, no aconchego, o calor que seus corpos ardentes emanavam.
 5-As mulheres adoram receber flores. Assisti uma, receber um lindo buquê, e jogá-lo no lixo. Tudo isso em Quinta Coluna do Sul.

 6-Conheço uma Argentina que ama Barão. Virgínea escreveu que achava maravilhoso respirar o ar empoeirado da estrada de chão que leva para Arroio Canoas. Pode alguém gostar de respirar a poeira que levanta quando se passa por um carro? A Virginia lembra com saudade. Ela morava por aqui, mas as circunstâncias fizeram com que voltasse para a Argentina.
“E muito sensual, aquela terra activa os sentidos, eu nao podere esqueser, A natureza e tam grandiosa la, o cheiro da poeira das ruas vermelhas serpenteantes pra sima pra baijo, entre os morros verdes de mais. O ceu e mais azul, a lua mais branca, as estrelas tam perto tam brilhantes. O cheiro da natureza, do paon feito na casa, os crostolis o sagu ,o quentom, a pipoca. E lindo tudo aquelo, O veraom quente, O inverno com issa gelada que pinta o paisajem de branco, a lembransa a saudade, ainda entre as pedras teim vegetacion . E Lindo de mais fica no coracaom da gente. muita saudade pra minha filhia, muita saudade pra meu, me lembro do barao, e de arroio canoas cuando ficaba na casa da nelci, dos morros tan verdes, das ruas vermelhas empoeiradas respirando aquele ar com cheiro de natureza, das tardes a la, o sol escondiendose detras dos morros,e do cheiro do pan feito em casa.”
Veja como tudo é relativo! Muitas vezes, o que parece ser não é. E o que parece impossível ser, é!
 E não só em Quinta Coluna do Sul!

 









segunda-feira, 7 de novembro de 2011

SUBMISSAO SOCIAL



 CONTROLE SOCIAL


Há um ditado popular que diz: “O cavalo não passa encilhado duas vezes.” Como quase sempre, também este dito contém muita filosofia.
Na nossa vida, seguidamente, acontecem momentos bons. Em geral, os melhores não são planejados. Por acaso, se reúnem as condições, e o universo conspira a favor de uma noite maravilhosa, um encontro, um baile ou uma festa divertida. Então procuramos reprisar o evento, mas isso não é possível.
Por isso, aproveite o que a vida lhe dá de presente. Não espere o próximo momento para se divertir ou fazer uma obra boa. Não espere o amanhã para começar a sua faculdade. Não perca a ocasião para declarar o seu amor. O universo prepara o momento certo. Se o deixar passar ele não voltará. Nunca mais. Poderá haver outro, mas aquele nunca mais.
 Aproveite ao máximo os seus dezoito anos ou a idade que tem. Nunca mais você os terá novamente. Se os seus filhos são pequenos curta-os agora porque depois eles estarão crescidos. Se estiverem com você curta-os também porque criarão asas, voarão. Aproveite a ventura da companhia do pai, da mãe da família. Alegre-se com os amigos que, com certeza, tens maravilhosos, porque amanhã, talvez, não possa mais fazê-lo.
Não se sinta culpado pelas alegrias e as coisas boas da vida. Você as merece. Aprenda tudo o que puder e ensine quando for possível.
Tenho uma amiga que escreveu: “Sou como pareço; louca, mas feliz.” Uma outra, quando a cumprimentei pelo sucesso, disse: “Só se sucesso significa ser polêmica, fazer as coisas sem ter medo do  julgamento social, ser estrela e não planeta”. Conheci alguém pela internet que apesar de jovem tem sua vida resolvida. A sociedade lhe impôs uma situação e ela não tem forças nem coragem para sair do pré-estabelecido. Sente uma necessidade absoluta de buscar novos horizontes, mas a rebeldia e a tomada de atitude esmorecem diante do paredão social que exige dela coerência, juízo e bom senso. Assim como essas três, o mundo está cheio de pessoas cujos ideais e desejos mais íntimos são tolhidos e o que dizem, escrevem ou fazem, expressa muito mais o que gostariam de ser do que o que são. Ser “louca”, “polêmica” e sair do marasmo exige enfrentamento, e ainda que no início haja tentativas de impor seu ideal, as pessoas acabam se acovardando, e abdicam dos seus anseios mais profundos em troca de segurança, conforto e aceitação social. E o que se diz ou escreve fica para depois... e depois... até que o tempo de reação passou. As pessoas se conformam... mas felicidade!!!...

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

ARLINDO FLACH E SEUS GURIS ARTEIROS




 ARLINDO FLACH E SEUS GURIS ARTEIROS


O Arlindo Flach (Flach Lind) morava em Canoinhas e tinha uma tropinha de guris como, aliás, todos os casais naquele tempo. Eles iam para a aula de manhã e, de tarde, para a roça. Nos sábados de tarde e domingos não tinha aula e nem roça e a tropinha ficava desocupada.  
O cavalo de Arlindo já era um matungo velho e, também, muito assustado. Quando alguma coisa o espantava, corria, a todo galope, para um refúgio nos fundos do potreiro que confrontava com um precipício. Para dar acesso ao refúgio havia uma trilha estreita entre o precipício e uma enorme pedra atrás da qual o cavalo se escondia. Aparentemente aquela passagem era perigosa, mas o animal, de tantas vezes que já passara por aí, vencia, sem dificuldade, aquele estreitamento.  Num sábado de tarde, o capeta estava solto em Canoinhas. A gurizada, por si só, já era medonha imaginem então com a ajuda do “coisa-ruim”. A maldade que planejaram era dar um susto no matungo.
 Todos os guris do interior conhecem, e sabem fabricar certo instrumento com o talo da folha da abobreira que, assoprando nele, emite um som grave e rouco. (Em alemão Pova Thudz).
Debulharam uns grãos de milho num cocho para atrair o cavalo e então, o Juca, que era o mais velho, contou até três e todos, ao mesmo tempo, assopraram no seu instrumento provocando um verdadeiro pânico no coitado do animal que, fugiu numa disparada descontrolada, dando coices no ar, em busca do seu refúgio. Os guris, ainda não contentes, perseguiram o matungo dando gritos, risadas e aquelas buzinadas. O Agostinho, que era o mais velhaco se postou em cima da pedra que tinha que ser contornada e quando o cavalo apareceu assoprou no seu instrumento. Com o novo susto o coitado do animal não venceu a curva e caiu no precipício ficando pendurado em cima de uma árvore. Daí, deram-se conta da maldade que cometeram. Foram procurar o pai que queria saber como isso havia acontecido. Todos tentaram culpar o Agostinho que dera o último susto no animal de cima daquela pedra, mas ele se defendeu e acabou incriminando os demais irmãos de modo que o pai ficou sabendo de toda verdade.
Por castigo, no domingo, os guris, em vez de jogar futebol, tiveram que cavar um buraco no fundo do precipício para enterrar o animal que durante a noite caiu, de cima da árvore, quebrando o pescoço. O castigo foi merecido e os meninos aprenderam a lição. De noite, já na cama, o Dionísio comentou com os irmãos:
-Passamos barato! Eu achava que o “veio” ia pegar mais pesado!
As crianças daquele tempo tinham uma infância saudável a pesar de não conhecerem luxo e nem conforto. E essa vida cheia de dificuldades e limitações foi forjando seu caráter fazendo deles homens de bem.

domingo, 30 de outubro de 2011

LADISLAU.






UMA ATROCIDADE


Hoje vou falar sobre Ladislau. Para os íntimos, o Ládis. Ele era um cachorro absolutamente preto. Preto como breu. Você conhece breu? Eu, também, não. Mas sei que o “dito” é usado quando queremos referir-nos a alguma coisa absolutamente preta. Pois, assim, era Ladislau.
 O destino lhe reservou uma vida bonita, em meio à natureza, numa propriedade rural com espaço para correr atrás de lebres, gambás, gatos de mato, preás e muitos outros bichos selvagens.
Apesar de ser um guaipeca sem raça definida, era amado por todas as pessoas da família.
Quando, na comunidade, uma cadela entrava em cio, ou quando não queriam que ele corresse pelas roças estragando as plantações amarravam-no com uma corda.
Certo dia, Henrique soube que uma das cadelas de Mateus estava “naqueles dias”. Então Enedir, a dona de Ladislau, tratou logo de prendê-lo, amarrando-o na traseira da caminhonete, para poupar que sofresse agressões porque nestas ocasiões a cachorrada toda se reunia e a cadela era disputada ferozmente.
Aí aconteceu uma emergência e Enedir foi atendê-la com a caminhonete onde o Ládis estava amarrado. Ninguém se lembrou do guaipeca que foi levado de arrasto estrada afora. Somente a vó Natalia, que estava na janela, viu a terrível cena do Ladislau sendo arrastado. Correu para o telefone e ligou para a Lúcie, mas a caminhonete já havia passado. Então ligou para a Pelácia que, finalmente, se postou na estrada em tempo de parar o veículo. Quando foram ver o que tinha sobrado do cachorro, só encontraram a corda.
 De noite, Ladislau voltou para casa, mas não sem antes ter passado no Mateus onde a cadela estava em cio.
 Mais tarde, concluiu-se que naquela noite ele conquistou o coração dela, pois vários filhotes nasceram com a cara, ou melhor, com o focinho dele.
 Nos bastidores da família Schommer, desconfia-se, ainda hoje, que Enedir planejara aquela ação para se livrar de Ladislau. Sou vizinho dela e a conheço suficientemente bem para ter certeza que ela seria incapaz de uma atitude com tais requintes de crueldade.
Ladislau viveu, ainda, vários anos, tempo suficiente, para conhecer e curtir seus filhotes, netos e bisnetos.
Meu abraço especial vai à Grande Família Schommer. A família que Hugo nos deixou engrandece a nossa comunidade.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

O Contraditório

          O CONTRADITÓRIO

          Como seria a beleza se tudo fosse belo?
Se só conhecêssemos a alegria, nem nome ela teria.
Que nome daríamos à honestidade se todos fossem sempre honestos. Não é verdade?
E a felicidade, como seria se fossemos sempre felizes? Dia após dia.
 E a saúde, se sempre fôssemos saudáveis?
Que nome levaria a virtude se todos fossem sempre virtuosos?
Como tudo seria?

          Por isso é que precisamos do inimigo, da traição, e da desonestidade.
 Do perigo, e da teia.
Da seca, da dor, e da mulher feia.
 Da escuridão, da falsidade, do barulho e da fome...
          Como a luz precisa da escuridão. O alívio da dor de dente. O calor, do frio. A gentileza precisa do estúpido. A ventura, da desgraça. O rico, do pobre. A bonança, da tempestade. O “fundamental” precisa da “sétima dissonante.” O lado de cá, do lado de lá. O criador, da criatura. A paz da desavença.
          O que seria de Bento sem Caxias? Lajeada sem Estrela? São Leopoldo sem Novo Hamburgo? Do Azul sem o vermelho? Do Copa sem o Gaúcho? Do Chimango sem o Maragato? Da mulher sem o homem? E vice versa? Aliás, o que seria do vice sem o versa? Do céu sem o inferno?
          A propósito, como será que é o céu?