segunda-feira, 18 de outubro de 2021

FENO SAGRADO



iam aos campos recolher tufos antes do sol nascer

 

 

 

 FENO SAGRADO

 

Há muitos e muitos anos, um grupo de pastores vivia numa região onde o inverno era rigoroso. Durante a primavera e o verão, havia pastagens em abundância, e os animais engordavam e eram saudáveis. Porém, na estação fria, apareciam doenças, e com a desnutrição muitos, morriam.

 Um homem sábio, líder da tribo, quis ensinar aos pastores a se prevenirem, armazenando feno. Assim, haveria alimento, também, no inverno para os animais. Os pastores resistiram a essa novidade porque, diziam, que viveram bem até agora e precisavam de ninguém para lhes ensinar a lidar com o rebanho. Diante da atitude hostil e da ignorância dos pastores o “Sábio Líder” entendeu ser necessária uma nova estratégia.  Sugeriu às autoridades transformar o recolhimento do feno em prática religiosa. Quanto mais alguém recolhesse, mais santo e virtuoso se tornava e proporcionalmente haveria recompensa ou castigo na outra vida.

A estratégia funcionou e, a não ser pequenos desvios, todos os anos, durante o outono, os pastores recolhiam feno de acordo com suas necessidades.

Aquela tribo, agora, já era um pequeno povo e o recolhimento de feno passou a ser uma coisa sagrada entre seus membros. A maioria deles já não era mais pastores, mas continuava recolhendo porque queria garantir seu bem estar após a morte. Tudo andava bem e aquele preceito religioso mantinha a ordem, e o povo vivia feliz.

 Foi estabelecido um dia para o início da colheita do feno e aos poucos, esse dia se tornou o mais importante do calendário. As pessoas se presenteavam e comemoravam a data com muita festa.

As autoridades aprenderam que para lidar com o povo e torná-lo submisso o preceito religioso funcionava muito bem. Então instituíram várias normas, todas visando o bem estar e a convivência fraternal.

Um dia um pastor fez uma viagem e trouxe sementes de uma forrageira que viçava no inverno, e em vez de feno, passou a tratá-la na estação fria passando a não mais recolher o feno. Divulgou sua descoberta que rapidamente se espalhou entre os pastores. Quando as autoridades souberam do fato condenaram-no como herege e o subversivo pastor foi queimado em praça pública. Receavam perder o controle sobre o povo e por isso a desobediência devia ser castigada exemplarmente. Foi lançada uma maldição sobre aquela forrageira e mediante uma “Campanha Santa”, tentaram erradicá-la.

 Mas não conseguiram. Aos poucos, as sementes se espalharam e, também durante o inverno, os campos verdejavam.

  Muito mais tarde, apesar da repressão, as autoridades perderam o controle sobre a situação e não puderam mais impedir que os pastores usassem a “Forragem Maldita” em substituição ao “Feno Sagrado”.

 Agora, já se passaram muitos e muitos anos, e as pessoas vivem em cidades. Continuam, porém, a festejar o “Dia do Feno” e o seu recolhimento tornou-se uma tradição popular. No “Dia do Feno Sagrado”, de manhã antes de o sol nascer, vão aos campos e recolhem pequenos tufos de feno que são amarrados, artisticamente, com uma fita especial. O tufo é pendurado em algum lugar bem visível da casa e quando há alguma ameaça, queimam uma porção do “Feno Sagrado”. Acreditam que isso ajuda a afastar qualquer infortúnio. 

As autoridades fizeram uma releitura da história e pediram perdão ao pastor injustiçado.

 Seu nome era Galileu.

 

 

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