O MISTÉRIO DAS FERRADURAS Fogo-fátuo
Em certa época havia por aqui um negro corcunda que fazia taipas. Os colonos o contratavam para cercar os potreiros. Certa noite meu irmão mais velho entrou em casa e disse que lá em baixo, no potreiro, estava acontecendo algo estranho. Umas bolas de fogo pairavam no ar e se moviam de um lado pro outro. Todos saímos para observar o fenômeno. Até o negro corcunda, que estava de visita, foi também. Nós o chamávamos de “Schwarz Mónuel”, “Manuel o Preto”. Quando ele viu aquilo disse que sabia o que era:
-Isso são ferraduras enterradas no banhado.
De fato, havia, no local da aparição um banhado.
A pesar de respeitar a sabedoria popular que, em geral, encerra muita filosofia, sou cético em relação a fatos extraordinários. Custo acreditar em milagres, crendices, fantasmas, magias, forças do além e etc. Porém, o nosso folclore está cheio dessas crenças que se fôssemos citá-las encheríamos várias páginas de um livro. Acreditamos no poder da arruda, no “treze” como o número do azar, não passamos por debaixo de uma escada, colhemos o chá de macela na Sexta Feira Santa antes do nascer do sol, e assim por diante. Acho que a maioria das coisas “extraordinárias” que acontecem em nosso entorno não resistem a uma investigação séria. Por isso fui ao Google tentar achar uma explicação para o fato e, achei o seguinte:
(Fogo-fátuo (ignis fatuus em latim), também chamado de Fogo tolo ou, no interior do Brasil, Fogo corredor ou João-galafoice, é uma luz azulada que pode ser avistada em pântanos, brejos etc. É a inflamação espontânea do gás dos pântanos (metano), resultante da decomposição de seres vivos, animais ou vegetais.)
É a explicação científica. Essa versão do google pôs fim as discussões até que Eitor, que é o atual proprietário, resolveu fazer daquele banhado um açude. Duas máquinas trabalharam vários dias e removeram centenas de metros cúbicos de lama. Então ele veio me contar que achou uma ferradura em meio aquela lama toda. Logo me lembrei das três bolas de luz, da história do negro corcunda. Mas alguma coisa não estava batendo. Eram três luzes e uma ferradura.
Pasmem os prezados leitores que dois dias depois o Eitor me perguntou se, antigamente, tínhamos um filhote de cavalo porque tinha achado mais duas ferraduras e uma delas bem menor. Senti um calafrio perpassar o meu corpo. Será que a versão do negro corcunda tinha algum fundamento? Tudo se encaixava perfeitamente, a não ser um pequeno detalhe: a origem da ferradura menor. Filhote de cavalo não usa ferradura. Então os mais antigos me disseram que, uma vez, o Padre Alfredo Bley vinha de São Pedro atender os fiéis da nossa comunidade montada no lombo de um burrico. Ficava hospedado na nossa casa e o asinino era solto no nosso potreiro. O enigma estava resolvido. A menor era uma ferradura do burrico do Padre Bley.
Sei que é difícil, acreditar numa história dessas, mas quem duvida deve procurar o Eitor Hentz. Inclusive ele me disse que vai mandar fazer uma moldura onde ficarão expostas as três ferraduras. Quem sabe esteja nascendo, aí, uma lenda: A “Lenda das Três Ferraduras”. E talvez elas tragam sorte ao Eitor e a quem vier prestar-lhes sua homenagem.
Mas eu continuo não acreditando em fantasmas.
Texto muito bom vô parabéns achei interessante a história
ResponderExcluirMuito fascinante como sempre. Quando começou com as explicações científicas via Google, eu cá, sedenta do algo mais que sempre encontro nos seus textos, soltei um :" Ahhhhhhh,nããão!"
ResponderExcluirMas, para meu deleite, logo a história deitou-se novamente no trilho do mistério, e manteve-ve cativa até o ponto final. Amei! Amo mistérios! E adorei seu modo de tornar mistérios ainda mais misteriosos. Gratidão por partilhar