domingo, 29 de agosto de 2021

JAIR ROYER O piloto

REX

 

 

JAIR ROYER

 O piloto

 

Aconteceu numa época em que os casais tinham muitos filhos. Na família de Arsênio Royer e Norma também foi assim. Era uma escadinha de 9 filhos e todos em casa. De manhã, escola e de tarde, roça.

Depois do meio dia, o casal costumava tirar uma sesta. Nesta hora a tropinha ficava livre quando não tinha algum castigo a cumprir. Seguidamente, alguém,  ou todos tinham que arrancar caxumba no pátio.

Agora, você imagina essa gurizada toda reunida, as tantas coisas que inventavam.

 Naquele dia resolveram atrelar o Rex ao carrinho de lomba. Rex era um cachorro enorme, mas o que ele tinha em tamanho ele também tinha em preguiça. Lá se dizia que ele não deitava, ele se deixava cair.

Pois bem, o Rex deveria puxar o carrinho de lomba com alguém pilotando.

Com a corda que o pai usava nos bois (die lein) conectaram o cachorro ao carrinho de lomba.

 Agora faltava um piloto voluntário. O Jair, o menor de todos, se apresentou para a façanha. Todos concordaram porque era o mais leve e por isso o mais indicado para a tarefa. João e Jacó seguravam o Rex enquanto Jair se preparava para ocupar seu posto. As meninas também participaram incentivando o Rex.

 Quando Juca, que era o mais velho e comandava toda a operação, recebeu o “OK” do Jair, ordenou:

 Soltem o Rex!

O cachorro parece que não entendeu o espírito da brincadeira. Meio encabulado, de cabeça baixa, se deitou. O Gerson sugeriu largar uma galinha na frente para ver se ele se dignava a persegui-la. A reação foi a mesma. Nenhum movimento.

A estas alturas o casal já havia levantado e, sentados na área, tomavam chimarrão. Estavam curiosos com o desenrolar e o desfecho da brincadeira. Então Seno sugeriu:

- Gehd holt die Katz! (vão pegar o gato!) Logo o Carlos chegou com o bichano em baixo do braço. Agora sim o Rex estava excitado.

O pequeno Jair se agarrou, com força, no carrinho e ele mesmo deu a ordem:

-Soltem o gato!

Aí o cachorro saiu a perseguir o gato numa disparada maluca puxando atrás de si o carrinho de lomba pilotado pelo pequeno Jair, de olhos arregalados e gritando desesperado sem saber ao certo o que estava acontecendo. Seno e Norma saíram correndo, preocupados com o desfecho da brincadeira.

O gato pulou o murinho de pedras do parreiral e o Rex atrás até que o carrinho bateu violentamente no muro despedaçando-se todo. O cachorro libertou-se da corda que o mantinha preso ao carrinho e continuou a perseguir o gato que se salvou subindo numa laranjeira logo acima.

Jair, por sorte, sofreu somente alguns arranhões.

Afinal, ainda acabou bem o que podia ter custado muito caro.

Se você duvida da veracidade desta história então espere um dia encontrar-se com Jair. Procure por uma cicatriz no seu rosto logo acima do nariz entre as duas sobrancelhas. A prova é irrefutável.

 

 

 

segunda-feira, 23 de agosto de 2021

A CONQUISTA Da medalha



 

 

A CONQUISTA DA MEDALHA

 

Arthur Hentz Bastos da Silva é aluno da Escola Senhor do Bom Fim em Arroio Canoas. Nasceu em Caxias do Sul, e aos 10 anos, veio morar com sua mãe em Arroio Canoas.

Ele gosta de tudo o que se refere ao espaço:  planetas, naves espaciais, observatórios, enfim, tudo o que tem relação com o espaço sideral é do seu interesse. Às vezes, passa muito tempo olhando o céu. As noites escuras do interior favorecem a observação quando descobre constelações, nebulosas e asteroides. Gosta de assistir, pela internet, tudo que trata do assunto satisfazendo assim sua curiosidade. Pelo noticiário fica sabendo de algum acontecimento extraordinário como: eclipses, passagem de algum cometa, “lua de sangue” e etc.

Quero parabenizar a Escola Municipal Senhor do Bom Fim que sempre procura incentivar seus alunos para a curiosidade.

Parabéns, também, aos dois alunos, Arthur e Cristina Chies Da Silva, que se distinguiram neste concurso nacional, fazendo jus a Medalha de prata.

Arthur me procurou pedindo que eu cedesse um espaço para a divulgação de um texto que escreveu sobre o assunto:

 

 

 

A CONQUISTA

Da medalha

 

 

Na escola eu estava muito nervoso pois iria ter uma prova desconhecida que nunca havia feito antes, a prova da OBA (Organização Brasileira De Astronomia e Astronáutica).

A prova era sobre o espaço: localização de planetas, constelações, cálculos em anos-luz entre outras coisas.

Durante a prova fiquei nervoso pensando se ia conseguir tirar uma nota boa. Enfim, acabei a prova. Restava esperar o resultado. Na segunda-feira dia16/08/2021 veio o resultado. Nota de 7.6 e a medalha de prata. Mais uma aluna da minha escola foi premiada, com medalha de prata.

A prova era nacional portanto eu estava competindo com alunos do Brasil inteiro o que me deixa ainda mais orgulhoso.

Estou fazendo este texto para sempre me lembrar desta conquista tendo apenas 13 anos.

Ainda não recebi a medalha, mas com toda certeza, assim que receber, irei registrar o momento tirando muitas fotos. Acho que vai demorar um pouco pois está vindo pelos correios.

Neste momento, não me arrependo de ter estudado sobre o espaço.”


 

segunda-feira, 16 de agosto de 2021

O MISTÉRIO DAS FERRADURAS Fogo-fátuo


 


 

O MISTÉRIO DAS FERRADURAS Fogo-fátuo

Em certa época havia por aqui um negro corcunda que fazia taipas. Os colonos o contratavam para cercar os potreiros. Certa noite meu irmão mais velho entrou em casa e disse que lá em baixo, no potreiro, estava acontecendo algo estranho. Umas bolas de fogo pairavam no ar e se moviam de um lado pro outro. Todos saímos para observar o fenômeno. Até o negro corcunda, que estava de visita, foi também. Nós o chamávamos de “Schwarz Mónuel”, “Manuel o Preto”. Quando ele viu aquilo disse que sabia o que era:

-Isso são ferraduras enterradas no banhado.

De fato, havia, no local da aparição um banhado.

A pesar de respeitar a sabedoria popular que, em geral, encerra muita filosofia, sou cético em relação a fatos extraordinários. Custo acreditar em milagres, crendices, fantasmas, magias, forças do além e etc. Porém, o nosso folclore está cheio dessas crenças que se fôssemos citá-las encheríamos várias páginas de um livro. Acreditamos no poder da arruda, no “treze” como o número do azar, não passamos por debaixo de uma escada, colhemos o chá de macela na Sexta Feira Santa antes do nascer do sol, e assim por diante.  Acho que a maioria das coisas “extraordinárias” que acontecem em nosso entorno não resistem a uma investigação séria. Por isso fui ao Google tentar achar uma explicação para o fato e, achei o seguinte:

(Fogo-fátuo (ignis fatuus em latim), também chamado de Fogo tolo ou, no interior do Brasil, Fogo corredor ou João-galafoice, é uma luz azulada que pode ser avistada em pântanos, brejos etc. É a inflamação espontânea do gás dos pântanos (metano), resultante da decomposição de seres vivos, animais ou vegetais.)

É a explicação científica. Essa versão do google pôs fim as discussões até que Eitor, que é o atual proprietário, resolveu fazer daquele banhado um açude. Duas máquinas trabalharam vários dias e removeram centenas de metros cúbicos de lama. Então ele veio me contar que achou uma ferradura em meio aquela lama toda. Logo me lembrei das três bolas de luz, da história do negro corcunda. Mas alguma coisa não estava batendo. Eram três luzes e uma ferradura.

 Pasmem os prezados leitores que dois dias depois o Eitor me perguntou se, antigamente, tínhamos um filhote de cavalo porque tinha achado mais duas ferraduras e uma delas bem menor. Senti um calafrio perpassar o meu corpo. Será que a versão do negro corcunda tinha algum fundamento? Tudo se encaixava perfeitamente, a não ser um pequeno detalhe: a origem da ferradura menor. Filhote de cavalo não usa ferradura. Então os mais antigos me disseram que, uma vez, o Padre Alfredo Bley vinha de São Pedro atender os fiéis da nossa comunidade montada no lombo de um burrico. Ficava hospedado na nossa casa e o asinino era solto no nosso potreiro. O enigma estava resolvido. A menor era uma ferradura do burrico do Padre Bley.

 Sei que é difícil, acreditar numa história dessas, mas quem duvida deve procurar o Eitor Hentz. Inclusive ele me disse que vai mandar fazer uma moldura onde ficarão expostas as três ferraduras. Quem sabe esteja nascendo, aí, uma lenda: A “Lenda das Três Ferraduras”. E talvez elas tragam sorte ao Eitor e a quem vier prestar-lhes sua homenagem.

Mas eu continuo não acreditando em fantasmas.

 

segunda-feira, 9 de agosto de 2021

CRISES E CONFLITOS


 

Igrea do Sagrado Coração de Jesus



 

 

 

 

CRISES E CONFLITOS

 

Arroio Canoas, no início da sua colonização, viveu uma situação peculiar; foi o ponto de encontro entre os alemães que vinham subindo a serra e os italianos, descendo.

 Se observarmos, com atenção os movimentos migratórios ocorridos em Arroio Canoas, podemos perceber que houve uma queda de braço entre as duas etnias para determinar quem ocuparia a região. É claro que isso não foi um movimento explícito e organizado.

Os alemães chegaram antes e ocuparam as terras do Sagrado, Coblens, Canoinhas e Navegantes. Os habitantes de toda a região formavam uma única comunidade religiosa católica, a do Sagrado Coração de Jesus. Os evangélicos também tinham uma comunidade religiosa onde hoje é Navegantes que, no entanto, não prosperou.

Cerca de vinte anos depois, vieram os italianos. Com a chegada deles muitos alemães retornaram para as suas localidades de origem. Em Coblens permaneceu a família Gräf, no Sagrado a família Käfer e em Navegantes a família Metz.

 Um pouco mais tarde muitos alemães: Schommer, Weschenfelder, Thums, Hensel, Gosler e outros voltaram, principalmente, para o Sagrado. Aí foi a vez dos italianos se retirarem. No Sagrado permaneceu a família de Santo Chies.

 Não sabemos, ao certo, o que determinou essa dificuldade de convivência. Certamente, a língua prejudicou a comunicação, a diferença de costumes e hábitos de convivência e outros aspectos da cultura determinaram essas atitudes preconceituosas.

 No entanto, segundo Diogo Guerra, a grande causa das intrigas entre as duas etnias foi uma disputa de domínio entre Jesuítas e Capuchinhos. A história registra que, em pouco tempo, Arroio Canoas trocou cinco vezes de paróquia entre Garibaldi, Tupandi e São Pedro da Serra. Essas trocas hora agradavam os italianos e hora, os alemães. Os padres de Garibaldi sabiam falar italiano e os de Tupandi falavam alemão.

 Os mais antigos contam que em determinada época, os ânimos eram tão exaltados que os domingos foram repartidos entre as duas etnias podendo ocupar a igreja e fazer seu culto e orações, alternadamente, os italianos e alemães. Essa situação criou muitas desavenças e abriu feridas que, ainda hoje, não estão, totalmente, cicatrizadas.

Porém, esses conflitos aconteciam no plano religioso, mas não no relacionamento interpessoal. Lembro que meu pai tinha muitos amigos italianos. Especialmente, lembro de Giocondo Chies que vinha passear, ao menos uma vez por semana, na nossa casa. Lembro, também, do Velho Zan, nosso vizinho, e depois, Orestes Scottá com os quais mantínhamos um ótimo relacionamento.

 Porém, se essa situação, por um lado, nos criou dificuldades, por outro, fez com que o nosso povo desenvolvesse uma personalidade peculiar. Arroio Canoas, hoje, não é alemã e nem italiana; é as duas coisas. Temos, aqui, quatro comunidades que sofreram influências das duas etnias. Em Coblens, Canoinhas e Navegantes predominam os italianos e no Sagrado a influência alemã marca mais a população, seus costumes, cultura e tradições. 

Sei que, por aí afora, mora muita gente que ainda guarda viva, no seu coração, a chama do amor pela sua “terrinha”. Não deixe que se apague. guarde esse vínculo. Estamos numa época excepcional devido ao Corona vírus. Quando isso tiver passado traga, também, seus filhos para os nossos eventos para que vejam as coisas bonitas que fazemos por aqui e, para que desenvolvam, também, o amor pela terra que é o berço da cultura dos seus antepassados.

 Por outro lado, está na hora de sepultarmos, definitivamente, as atitudes preconceituosas que fomos incentivados a desenvolver tornando-nos joguetes nas mãos das duas ordens religiosas.