BANDIDO NÃO FICA VELHO e nem fala alemão
Em abril de 2014 saí por aí sem um roteiro preestabelecido. Queria conhecer um pouco o interior da nossa região.
Várias vezes saí da estrada principal seguindo por picadas onde meu carro mal podia trafegar.
O nosso povo sempre foi muito hospitaleiro. Não raras vezes, o transeunte era convidado para um chimarrão, ficar para almoçar e até para pousar durante a noite enquanto o cavalo descansava para prosseguir no dia seguinte.
Esse belo costume foi mudando e hoje o visitante é recebido com muitas reservas. A violência das cidades chegou à colônia.
Quando desembarquei um cachorro veio me dar as boas-vindas.
- Pode descer, ele não morde.
Um senhor de meia idade veio ao meu encontro. Quando o cumprimentei, seu rosto desanuviou e, de pronto, me convidou para um chimarrão. Perguntei se não tinha medo de ser assaltado. Então olhou para a minha cabeça grisalha e disse:
- Bandido não fica velho. Nem fala alemão.
E deu uma gostosa gargalhada. Senti que o clima de confiança estava estabelecido.
Seu nome era Orlando Kühn casado com dona Lourdes. Eram agricultores que ainda trabalhavam com tração animal, uma raridade nos tempos modernos. A propriedade fica no interior de São Vendelino. Orlando estava ajudando fazer silagem na propriedade de José Bart, seu vizinho. A família Kühn mora num lugar retirado, porém aprazível, em meio à natureza. O terreno é acidentado e, talvez, por isso a agricultura tradicional aí persista.
Dona Lourdes faz pão de milho e chimier de cana. Quando cheguei ela acabara de tirar os pães do forno. Pedi para comprar um, mas ela, gentilmente, deu-me um de presente.
Então, fomos ao potreiro ver os bois de canga. Fiquei impressionado com o tamanho da parelha. Nossos colonos têm um carinho todo especial com suas juntas a ponto de lhes darem nomes e conversar com eles. Os bois de Orlando chamavam-se Minero e Leão. A parelha de José Bart era Kaux e Minero. Algumas ordens são comuns entre os colonos. Hoit significa para a direita. Har para a esquerda. Hof quando o boi deve levantar a perna. Astra quando é para andar para trás.
Estive, também, na Linha Camilo. Lá mora a família Wortmann. Selmo é o pai e Marcos seu filho. Fui recebido com muito carinho e quando me reconheceram disseram que não perdiam um dos artigos que escrevo no jornal. Queriam saber se a história do “Disco Voador” era verdadeira.
Marcos tem uma bela junta de bois que ele mesmo amansou. Tem, uma plantação de dois hectares de pêssegos e produz uma grande variedade de outros produtos.
Ao passar por Rodrigues da Rosa visitei Adelcio Schäfer que também lavra com uma bela junta de bois.
Por fim, Anesio Schäfer produz uma grande variedade de produtos na sua propriedade. Vi gansos, ovelhas, vacas e porcos. Colheu arroz, romã , milho, pinhão e muito mais.
Quando andamos por este nosso interior, a cada passo nos deparamos com aspectos que são uma verdadeira riqueza. Isso merece ser preservada.
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