domingo, 27 de junho de 2021

MINHA MULHER FICOU VIRGEM NOVAMENTE.

                                                                                

Danilo e esposa Aldoina

 Danilo e esposa Aldoina
 


 

 

 

 

 

MINHA MULHER FICOU VIRGEM NOVAMENTE.

 

Era uma manhã típica de inverno em Arco Verde. A umidade escorria das paredes do banheiro. Uma serração densa encobria toda a região a ponto de não permitir ver um palmo diante dos olhos.

O casal Mocelin ficou mais algum tempo na cama.

- Levantar pra quê? Com esse tempo nada tem pra fazer, disse Danilo em resposta a uma cotovelada da mulher que queria que ele levantasse.

Já eram dez horas, quando finalmente se animou a sair debaixo das cobertas.

A mesa, sempre farta, já estava posta para o café: queijo, salame, pão feito em casa, e “un bel bicchiere de vino”

Conheci Danilo Mocelin quando, numa certa ocasião, veio animar uma festa aqui no Sagrado. Danilo era um bom gaiteiro e graças ao seu talento sempre era convidado para comemorações, pequenos bailes e festas, coisa que ele adorava pois era um homem muito social. Em geral nada cobrava.

 - Pra mim é uma diversão, dizia ele.

 As vezes eu o acompanhava fazendo a segunda voz em algumas canções que ele cantava.

No final da festa, aqui no Sagrado, nos convidaram para um café. Tinha linguiça cozida na água, cuca e café preto. Foi aí que me contou a aventura que ele e sua mulher vivenciaram:

- Quando sentei à mesa para o café ouvi um barulho ensurdecedor. Corri para a janela e no campo de futebol do Auriverde, que fica contíguo à minha casa, alguma coisa havia pousado. Era um helicóptero do exército brasileiro. Teve que pousar por causa da forte neblina, e por sorte vislumbrou um campo de futebol.

 Desci até o campo, e como todo bom italiano do interior, convidei os dois militares:

- Entrem, o café já está na mesa.

Os militares ficaram impressionados com a acolhida, coisa muito comum entre nós, italianos do interior.

Já eram dez horas e a neblina cedeu seu lugar para uma linda e ensolarada manhã. Então, o piloto, em agradecimento pela gentil acolhida, convidou a mim e minha mulher para um rápido passeio no seu helicóptero.

 Aldoina disse que não ia andar naquela coisa, mas depois de tanto insistir, cedeu aos apelos e argumentos do piloto.

Sobrevoamos o vale do Cafundó e Boa Vista. O passeio estava espetacular. Agora, já sem a neblina, o sol iluminava todo o vale que já conhecíamos, mas nunca imaginávamos tudo isso visto de cima. Minha mulher estava extasiada e, não parava de reconhecer os locais que sobrevoávamos:

- Olha aí a igrejinha de Cafundó. Lembra que viemos a uma festa de Santa Luzia?

Tudo era maravilhoso até que o piloto começou a fazer manobras. O Helicóptero subia e descia, inclinava para um lado e para o outro. Aldoina se agarrava a qualquer coisa que estivesse ao alcance, e gritava desesperada.

De noite na cama, contou Danilo, tive uma grande surpresa. Aldoina, minha mulher, tinha ficado virgem de novo. Com as manobras do helicóptero ela fechou as pernas com tanta força que novamente ficou virgem.

 Danilo só contou o que aconteceu com a mulher. Quando perguntei- e tu?-, me disse:

- Eu nada.

Mas alguns vizinhos contam que dias depois encontraram uma cueca borrada na lata de lixo.

Danilo foi um homem muito sociável. Gostava de estar entre amigos e familiares. Nos fins de semana frequentava as bodegas em Arco Verde enquanto sua mulher o esperava em casa.

 Solange, uma das sobrinhas e minha amiga, disse que Aldoina era uma santa. Sua maior alegria era ver o marido se divertindo. E arrematou:

- Não se fazem mais mulheres como antigamente.

Obrigado, Solange, pelas importantes informações, sem as quais não seria possível este texto.

 

 

segunda-feira, 21 de junho de 2021

APERTAR BOTÕES é o que sabemos fazer


 

APERTAR BOTÕES É O QUE SABEMOS FAZER

 

 

 

“Como sempre, as grandes invenções passam por quatro fases: pela alma do sonhador, pela mente do teórico, pelas mãos do técnico e pelo dedo do povo para apertar os botões certos na hora certa.”

Esta citação está no meu livro “HOMO SÁPIENS NO PLANETA AZUL” e retrata uma verdade.

 Poucas pessoas, hoje, detêm o conhecimento. Realmente, nós, pessoas comuns, o que sabemos fazer além de apertar botões? Por exemplo, agora, ao digitar este texto estou apertando botões do meu computador. Faço nenhuma ideia do que acontece dentro do meu Notebook. Do emaranhado tecnológico que está atrás dos botões do teclado. Os circuitos integrados, as conexões e tantas coisas complicadas das quais nem sei o nome. A única coisa que sei é apertar os botões certos.

Acender ou apagar a luz na nossa casa é uma coisa muito simples. Basta acionar o interruptor e a luz acende ou apaga. Muitos, se quer, sabem que este dispositiva chama-se interruptor. Não sabemos como esta energia elétrica é produzida, como é transportada por milhares de km, como é transformada de alta tensão para baixa. Se um dia fosse necessário quem de nós saberia gerar, se quer um KW de eletricidade?

Se você sabe manusear corretamente o volante do seu carro, os pedais do freio, da embreagem e do acelerador e a alavanca das marchas, então você sabe dirigir seu automóvel, apesar de conhecer nada a respeito do seu funcionamento e da complexidade dos seus sistemas e da interligação entre eles.

Vamos fazer um exercício de imaginação. Pense se algum dia, nós pessoas comuns, acabássemos numa terra onde só existem as coisas da natureza, e pudéssemos levar absolutamente nada junto. Nem roupas nem ferramentas nem qualquer metal, nada. O que faríamos com o que sabemos?  Estaríamos em grandes apuros. Certamente estaríamos de volta à Idade da Pedra Lascada. Talvez soubéssemos fazer fogo por que vimos em filmes  pessoas esfregarem dois pauzinhos até surgir uma brasa. Mas, além disso, poucas outras coisas.

Portanto não nos vangloriemos dos avanços tecnológicos da nossa época porque dela participamos com muito pouco. Talvez não muito mais do que apertar os botões certos na hora certa.

 

segunda-feira, 14 de junho de 2021

BANDIDO NÃO FICA VELHO e nem fala alemão











 

 

BANDIDO NÃO FICA VELHO e nem fala alemão

 

 

 

Em abril de 2014 saí por aí sem um roteiro preestabelecido. Queria conhecer um pouco o interior da nossa região.

Várias vezes saí da estrada principal seguindo por picadas onde meu carro mal podia trafegar.

O nosso povo sempre foi muito hospitaleiro. Não raras vezes, o transeunte era convidado para um chimarrão, ficar para almoçar e até para pousar durante a noite enquanto o cavalo descansava para prosseguir no dia seguinte.

Esse belo costume foi mudando e hoje o visitante é recebido com muitas reservas. A violência das cidades chegou à colônia.

Quando desembarquei um cachorro veio me dar as boas-vindas.

- Pode descer, ele não morde.

Um senhor de meia idade veio ao meu encontro. Quando o cumprimentei, seu rosto desanuviou e, de pronto, me convidou para um chimarrão. Perguntei se não tinha medo de ser assaltado. Então olhou para a minha cabeça grisalha e disse:

- Bandido não fica velho. Nem fala alemão.

E deu uma gostosa gargalhada. Senti que o clima de confiança estava estabelecido.

Seu nome era Orlando Kühn casado com dona Lourdes. Eram agricultores que ainda trabalhavam com tração animal, uma raridade nos tempos modernos. A propriedade fica no interior de São Vendelino. Orlando estava ajudando fazer silagem na propriedade de José Bart, seu vizinho. A família Kühn mora num lugar retirado, porém aprazível, em meio à natureza. O terreno é acidentado e, talvez, por isso a agricultura tradicional aí persista.

Dona Lourdes faz pão de milho e chimier de cana. Quando cheguei ela acabara de tirar os pães do forno. Pedi para comprar um, mas ela, gentilmente, deu-me um de presente.

Então, fomos ao potreiro ver os bois de canga. Fiquei impressionado com o tamanho da parelha. Nossos colonos têm um carinho todo especial com suas juntas a ponto de lhes darem nomes e conversar com eles. Os bois de Orlando chamavam-se Minero e Leão. A parelha de José Bart era Kaux e Minero. Algumas ordens são comuns entre os colonos. Hoit significa para a direita. Har para a esquerda. Hof quando o boi deve levantar a perna. Astra quando é para andar para trás.

Estive, também, na Linha Camilo. Lá mora a família Wortmann. Selmo é o pai e Marcos seu filho. Fui recebido com muito carinho e quando me reconheceram disseram que não perdiam um dos artigos que escrevo no jornal. Queriam saber se a história do “Disco Voador” era verdadeira.

 Marcos tem uma bela junta de bois que ele mesmo amansou. Tem, uma plantação de dois hectares de pêssegos e produz uma grande variedade de outros produtos.

Ao passar por Rodrigues da Rosa visitei Adelcio Schäfer que também lavra com uma bela junta de bois.

Por fim, Anesio Schäfer produz uma grande variedade de produtos na sua propriedade. Vi gansos, ovelhas, vacas e porcos. Colheu arroz, romã , milho, pinhão e muito mais.

Quando andamos por este nosso interior, a cada passo nos deparamos com aspectos que são uma verdadeira riqueza. Isso merece ser preservada.