UM FANTASMA NA JANELA DO SÓTÃO II
Tia Clara ainda era menina quando
saiu de casa. Os padres a encaminharam para uma congregação religiosa onde ela
pode estudar e, em troca, trabalhava para as irmãs: limpeza, cozinha, roupas
das irmãs e, até, fazia hóstias como contou certa vez quando lhe perguntamos
sobre o que fazia no colégio das freiras.
As irmãs perceberam que a menina tinha jeito
para lidar com doentes. Então, a encaminharam para um cursinho rápido de
enfermagem. E foi assim que ela se tornou enfermeira no Hospital Santa Casa.
Apesar de morar em Porto Alegre
durante quase toda sua vida, nunca esqueceu os parentes e a terrinha. Sempre
que podia dava um jeito de vir nos visitar.
Já era inverno e sabíamos que a Tia
viria. Meus irmão mais velhos odiavam quando ela vinha por que sempre tinham
que ceder seu quarto enquanto eles iam dormir no sótão. Especialmente o meu
irmão mais velho, o Nelson, odiava dormir no sótão. Dizia que por volta da meia
noite, sempre, aparecia um fantasma na janela. (Um kexpenz, em alemão.)
Naquele dia, voltando da roça, encheu
os bolsos com pedras especialmente escolhidas para dar cabo desse intruso
indesejado, caso se atrevesse aparecer novamente na janela.
E não deu outra. Quando o nosso
relógio de parede deu doze badaladas anunciando meia noite, Nelson acordou e
viu; Era um fantasma mulher com uma túnica toda branca e cabelos pretos que lhe
encobriam o rosto. Estava sentada na soleira da janela descansando uma das
pernas no parapeito.
Primeiro Nelson quis gritar, mas daí
lembrou das pedras. E pensou:
- Hoje vou dar uma lição nesse
bisbilhoteiro. Disparou toda a munição que havia recolhido na volta da roça.
Todos acordaram. Imagine o prezado
leitor: meia noite, interior, no meio do nada, silencio sepulcral e de repente
aquela saraivada de pedras contra a janela do sótão. Papai saltou da cama e
subiu a escada correndo. Sem demora, toda a família estava lá em cima. Até Tia
Clara subiu mas como era manca de uma perna chegou por último. E logo foi
perguntando:
- O que foi isso, aquela barulheira?
Então Nelson falou:
Garanto que este aí nunca mais vai
voltar.
No dia seguinte o assunto foi o
fantasma. Ninguém quis acreditar que realmente estivesse alguém na janela.
- Vai ver que foram ratos, disse
mamãe.
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