domingo, 15 de março de 2020

UM FANTASMA NA JANELA DO SÓTÃO II












  
UM FANTASMA NA JANELA DO SÓTÃO II

Tia Clara ainda era menina quando saiu de casa. Os padres a encaminharam para uma congregação religiosa onde ela pode estudar e, em troca, trabalhava para as irmãs: limpeza, cozinha, roupas das irmãs e, até, fazia hóstias como contou certa vez quando lhe perguntamos sobre o que fazia no colégio das freiras.
 As irmãs perceberam que a menina tinha jeito para lidar com doentes. Então, a encaminharam para um cursinho rápido de enfermagem. E foi assim que ela se tornou enfermeira no Hospital Santa Casa.
Apesar de morar em Porto Alegre durante quase toda sua vida, nunca esqueceu os parentes e a terrinha. Sempre que podia dava um jeito de vir nos visitar.
Já era inverno e sabíamos que a Tia viria. Meus irmão mais velhos odiavam quando ela vinha por que sempre tinham que ceder seu quarto enquanto eles iam dormir no sótão. Especialmente o meu irmão mais velho, o Nelson, odiava dormir no sótão. Dizia que por volta da meia noite, sempre, aparecia um fantasma na janela. (Um kexpenz, em alemão.) 
Naquele dia, voltando da roça, encheu os bolsos com pedras especialmente escolhidas para dar cabo desse intruso indesejado, caso se atrevesse aparecer novamente na janela.
E não deu outra. Quando o nosso relógio de parede deu doze badaladas anunciando meia noite, Nelson acordou e viu; Era um fantasma mulher com uma túnica toda branca e cabelos pretos que lhe encobriam o rosto. Estava sentada na soleira da janela descansando uma das pernas no parapeito.
Primeiro Nelson quis gritar, mas daí lembrou das pedras. E pensou:
- Hoje vou dar uma lição nesse bisbilhoteiro. Disparou toda a munição que havia recolhido na volta da roça.
Todos acordaram. Imagine o prezado leitor: meia noite, interior, no meio do nada, silencio sepulcral e de repente aquela saraivada de pedras contra a janela do sótão. Papai saltou da cama e subiu a escada correndo. Sem demora, toda a família estava lá em cima. Até Tia Clara subiu mas como era manca de uma perna chegou por último. E logo foi perguntando:
- O que foi isso, aquela barulheira?
Então Nelson falou:
Garanto que este aí nunca mais vai voltar.
No dia seguinte o assunto foi o fantasma. Ninguém quis acreditar que realmente estivesse alguém na janela.
- Vai ver que foram ratos, disse mamãe.  


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