domingo, 19 de maio de 2019

Silêncio Comovente

















Silêncio Comovente



A nossa comunidade foi fundada em 1898. Os primeiros moradores construíram uma igrejinha e compraram um sino.
O sino, além de símbolo religioso em muitos lugares do interior ainda é, um meio de comunicação. Através dele os fiéis são chamados para os cultos, anuncia-se o falecimento de alguém da comunidade e três vezes ao dia toca-se as Ave-Marias para lembrar os moradores da sua condição de cristãos.
O nosso primeiro sino foi importado da Alemanha. Mas, ele não tocava suficientemente alto para cumprir com sua função comunicadora. Muitos colonos não o ouviam. Então, imaginaram que aumentando o badalo o som também seria ampliado e todos poderiam ouvi-lo. Havia por aqui um ferreiro de nome João Ernzen, pai de Armándio Ernzen, que executou a reforma. Porém, essa providência redundou num terrível fracasso, pois o sino não fora projetado para suportar as batidas de um badalo mais pesado e, em consequência, rachou. Foi necessário comprar um novo sino, desta vez maior e que, até hoje, está dobrando no campanário da igreja.
Nas comunidades do interior e nas pequenas cidades podem-se ouvir, ainda hoje, os sinos tocando nos campanários. Mas nas grandes cidades as igrejas foram engolidas pela arquitetura moderna e pelo progresso. As que não foram derrubadas estão escondidas entre prédios e enormes edifícios.
O sino da minha terra é inconfundível. Nenhum outro, no mundo, emite som mais comovente. A nossa memória tem o poder de registrar vivências desde os nossos primeiros anos de vida. 
Quando, no entardecer, ouço tocar as Ave-marias uma agradável sensação de nostalgia me invade. Não há silêncio mais comovente. Tudo para. Depois da última badalada o som ainda ecoa por instantes até cessar por completo.
Aqui na minha terra, ainda, é assim.



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