domingo, 12 de maio de 2019

A VACA COM DIARREIA

Aristides segurando  o rabo da vaca
Tia Clara

O ônibus do Getulio





                                                                            A VACA COM DIARREIA

Era verão e época de férias. Estávamos ansiosos para receber a Tia Clara e o Aristides, um dos filhos da família que morava na frente do terreno onde ela tinha comprado os fundos e construído sua casinha. Ela morava lá há muito tempo e viu os filhos daquele casal crescerem. Ela os amava como se fossem seus próprios filhos.
Então o ônibus parou em frente a nossa casa. O Getúlio desceu primeiro para tirar as malas do bagageiro e, em seguida, o Aristides e, por fim, Tia Clara.  Subimos correndo para abraçá-los e ajudar com as malas onde, com certeza, a Tia também estaria trazendo presentes, coisa que ela jamais esquecia.
Naquele dia tivemos pouco tempo para brincar com o nosso amigo. Somente alguns chutes com a bola que fora um dos presentes da Tia. Nós não tínhamos muita habilidade com a bola, mas Aristides era um verdadeiro craque. Fazia jogadas incríveis, nos driblava do jeito que bem entendia e empilhava gols um em cima do outro numa goleirinha que improvisamos no pátio da nossa casa. De noite a Tia nos contou que ele estava frequentando a Escolinha do Grêmio e tinha potencial para se tornar um craque e dar muitas alegrias à torcida tricolor.
 De manhã, levantamos cedo e, fomos com a nossa irmã para a estrebaria onde ela ia tirar o leite das vacas. Aí o Aristides, na sua ignorância de menino da cidade, queria saber o que era aquilo ali. Expliquei-lhe que era o banquinho para tirar leite. Por um momento ele ficou pensativo e então perguntou como fazíamos para sentar a vaca num banquinho tão pequeno. Rimos até não poder mais deixando o nosso amigo constrangido.
Mas a desgraça maior ainda estava por acontecer. Eu já ia me postar atrás da vaca para segurar o rabo dela para que ela não atrapalhasse minha irmã enquanto tirava leite. Então Aristides, muito prestativo, se ofereceu para fazer o meu trabalho porque isso era uma novidade para ele. De repente, a vaca deu dois passos para frente, encurvou a coluna e levantou o rabo que Aristides segurava. Para o azar e a desgraça do menino a vaca estava com diarreia. O desfecho do episódio não vou contar porque o prezado leitor pode imaginar o que aconteceu. O nosso amigo estava desesperado. Foi despindo suas roupas melecadas e, enquanto corria para o banheiro, vomitou todo o café que ele tinha acabado de tomar.
Durante meia hora, ficou em baixo do chuveiro se esfregando com sabonete e passando perfume para tentar tirar o cheiro horrível que impregnava sua pele.
Na nossa infância nunca tivemos mordomias, nem luxos e nem confortos. Trabalhávamos na roça desde pequenos e tudo era conseguido com muito trabalho e sacrifício. Porém, foram anos felizes e recordo, com saudades, deste e muitos outros fatos que ilustram a maneira saudável como fomos criados.


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