sábado, 30 de novembro de 2019

REVERÊNCIA À GRANDE MÃE NATUREZA










Obrigado, “Piti” e parabéns por saber ler, também, nas entrelinhas.

Nesta edição de 2019 fui um dos escritores homenageados.

Carlos Dayan Santarosa, prfeito Evandro Zibetti e patrona Marina Solé Pagot










REVERÊNCIA À GRANDE MÃE NATUREZA


Eles eram um povo altamente desenvolvido beirando a perfeição. Durante milhares de anos selecionaram os melhores em todas as áreas do conhecimento, e deles tiraram seus filhos. A clonagem tornou-se o único meio de procriação purificando assim a raça humana. E como o desuso provoca a atrofia, perderam completamente a capacidade de procriar sexualmente.
 E proclamavam orgulhosos:
 “ Desbancamos a natureza e assumimos as rédeas do nosso destino. ”
Mas a natureza é insubjugável. Sem pressa e sem alarde se vinga dos abusos, e basta um cochilo da nossa insensatez para que ela retome a soberania.
Reencontro completa uma trilogia com a qual quero prestar um culto à Natureza.
Quem prestar atenção irá perceber o pulsar da humanidade. Tudo pulsa desde o minúsculo átomo até o universo infinito. A falência e o recomeço. É sempre um “vai e vem”. A dor da morte se confunde com a dor do parto.
Sei que REENCONTRO foi alvo de muitas críticas por aqui, porém, tenho certeza que o problema não foi o conteúdo, e sim a escolha equivocada do público alvo. Mas meu livro não teve somente críticas negativas. Houve muitos retornos elogiosos. Luis Orlando Cagliare assim se manifestou:
 Peguei o livro do escritor Laurindo Vogt Hentz para ler apenas algumas páginas...adivinhem...tive que ler todo! Muito bom! Esse eu me dei de aniversário no dia de hoje! ”
E transcreveu uma pequena passagem:
"A natureza é incrivelmente perfeita. Ela não tem pressa. O tempo para ela significa nada e por mais que pareça subjugada, um dia restabelece o seu domínio com vigor redobrado exibindo toda sua pujança"(Laurindo Hentz).
Obrigado, “Piti” e parabéns por saber ler, também, nas entrelinhas.
Iraci Weber Eidt é escritora catarinense que mora em Florianópolis. Ela fez o seguinte comentário, entre muitos outros:
“Lindo! Amo sua literatura. Falta só sair o cheiro de mato das tuas letrinhas. O restante tem. Passa um filme dentro da minha mente, como se eu presenciasse a história, como se a vivesse. Gosto de ter minha mente aprisionada. Amo esta viagem que você proporciona. O simples é tão complexo! Obrigada por partilhar. ”
Em outra ocasião:
“Como sempre faz, você nos toma pela mão e nos conduz para dentro de suas narrativas. Então letras se transmutam em cores, cheiros e sentimentos. Um nó se forma na garganta e se desata no canto úmido do olho. Obrigada por repartir suas escritas. ”
Nos últimos anos tenho participado efetivamente da Feira do Livro de Carlos Barbosa. Nesta edição de 2019 fui um dos escritores homenageados. Por essa distinção agradeço sensibilizado aos organizadores da Feira em especial ao seu presidente Carlos Dayan Santarosa, ao prfeito Evandro Zibetti e a patrona da feira Marina Solé Pagot.
Aos organizadores da Feira do Livro de Barão agradeço pela homenagem e peço desculpas por não ter correspondido às expectativas.




segunda-feira, 25 de novembro de 2019

UMA MESA QUE CONTA HISTÓRIAS 2














UMA MESA QUE CONTA HISTÓRIAS 2

Quem me contou foi Ari Ritter.
 Com a morte da esposa Helena Schommer, o pioneiro Pedro Käfer casou novamente. Disse ao filho mais velho Kilian:
- Hoje vamos a Campestre pegar a nossa nova mãe.
Luiza Hilgert Käfer também viuvara com a morte de José Hentz
Segundo Ritter, ao trazer para casa a família da sua nova esposa juntaram nada menos que 19 pessoas debaixo do mesmo teto. Na hora da janta um contratempo; não teve lugar para todos na mesa.
No dia seguinte Käfer foi a Boa Vista encomendar uma mesa nova onde caberiam todos.
Essa mesa tenho aqui em casa. Meu pai, Valentim Hentz, herdou-a porque ficou responsável pela guarda da vó Luíza depois do falecimento de Pedro.
Calcula-se que ela tenha, pelo menos, cem anos. Foi fabricada toda em cedro e não apresenta sinais de deterioração.
Com o advento da modernidade e a diminuição das famílias, durante muito tempo, a mesa foi descartada ficando jogada num depósito da nossa sociedade até que a resgatei. Apesar de eu não ser um profissional do ramo, depois de vários dias de trabalho ela está restaurada.
A mesa, durante muito tempo, serviu a família de Pedro Käfer e depois à família do meu pai que também era numerosa. Me lembro que durante muitos anos, foi a nossa mesa de jantar. É grande como as mesas de antigamente porque as famílias eram numerosas. Nas três refeições do dia, toda a família sentava à mesa. Não se admitia que alguém faltasse pois era um momento sagrado, uma oportunidade de reunir todos. Fazia-se uma oração antes e depois das refeições.
Nos tempos atuais as inovações são tão rápidas e constantes que mal nos acostumamos com uma novidade e já outra bate à nossa porta. São tempos em que conservadorismo e tradições são ofensas, principalmente para os mais jovens que tudo querem mudar.
Por outro lado, as pessoas com mais idade se agarram aos valores tradicionais e se sentem ameaçados.
Existe um ditado em latim de Aristóteles: “Virtus in medium est”.
  Uma sociedade saudável é aquela que sabe dosar com equilíbrio a ânsia dos jovens pela inovação e o esforço dos mais idosos pela conservação do status quó”




domingo, 17 de novembro de 2019

O CHUPIM 2








O CHUPIM 2

Quem mora no interior, certamente já viu, no início do verão, um ou dois passarinhos pretos piando de bico aberto atrás de um tico-tico. São filhotes de chupim pedindo comida.
 A má fama desse passarinho é notória.
Os chupins, para chocarem seus ovos e criarem os filhotes, procuram, ninhos de tico-tico. Destroem os ovos do tico-tico e no lugar deles põem os seus, para serem chocados. Algumas vezes, na mesma ninhada, têm filhotes de tico-tico e de chupim. Essa atitude deu-lhe fama de preguiço, explorador, desalmado e parasita. Por isso é xingado e condenado por todos.
Foi isso o que aconteceu, num domingo de tarde, quando a nossa família estava reunida sob um frondoso cinamomo comemorando o aniversário de Tia Clara. Dois filhotes de chupim, com o dobro do tamanho, perseguiam um tico-tico pedindo comida. O coitado, quando encontrava um petisco, alimentava ora um ora outro. E aí, como não podia ser diferente, o assunto era o chupim. O “vira-bosta” ou“Keilsreiter”, como também é conhecido, estava no banco dos réus. Só havia advogados de acusação. Todos viam, na conduta do “vira-bosta”, motivo de condenação, e a sentença morte foi proferida por Tia Clara ao dizer que um passarinho assim não merecia viver. Meu pai, que dificilmente concordava com a Tia, dessavez endossou suas palavras.
Quando todos os impropérios possíveis já haviam sido proferidos contra o réu, Norma, que é uma pessoa afável e bondosa, e tem um coração de ouro, disse:
- O tico-tico é um passarinho que, com toda a certeza, vai para o céu.
Fez-se, então, um silêncio. A frase de Norma caiu sobre o mar de acusações como um balde de água fria sobre a fervura. Cada um dos acusadores começou a repensar suas posições.
- Como podíamos condenar o chupim sem conhecer a história desse relacionamento? Disse Tia Clara e confessou, envergonhada, que sempre costumamos ver, somente, as coisas negativas de um acontecimento. Tio Ignácio que viera de São Salvador e que também fora um dos acusadores ferrenhos, passou para o outro lado e com ares de filósofo declarou:
-Não sabemos por que o tico-tico se sujeita a essa exploração.  Será uma dívida com o chupim? Será um simples ato de amor? Não sabemos. Nenhum de nós esteve lá no dia em que foi feito esse acordo. E é por isso que não temos o direito de julgar. Durante milhares de anos esse relacionamento deu certo. Quem somos nós para questioná-lo?
Aí, tio Ignácio elogiou a Norma pela feliz observação a respeito do assunto e perguntou se ela tinha algo mais a dizer.
- Tenho sim, disse. Há três coisas nesse mundo pelas quais eu tenho uma verdadeira paixão: Os passarinhos, as flores e as crianças.
 Durante a sua vida a Norma conviveu intensamente com as suas três paixões. Tem dez filhos e um monte de sobrinhos e netos que, também, a chamam de “Muti”. Mora em meio à natureza onde tem a companhia dos passarinhos. E ajudada pelo seu marido, sempre tem o pátio e o jardim floridos com muitas e lindas flores.
Certamente o prezado leitor deve conhecer mulheres e homens como Norma. Não são doutores em Teologia, não são professores nem catequistas, mas com a sua simplicidade e sabedoria são capazes de nos legarem preciosidades como esta.