foram lavrar numa roça nova |
“Triwa met te relhe!” |
Canjerana com sementes |
Toco de canjerana, muito resistente à podridão. |
RELHO
NELES
Os imigrantes
europeus, italianos, alemães e outros, que se estabeleceram por esta região
eram todos pequenos agricultores. Praticavam a agricultura familiar utilizando
somente mão de obra da família.
Todo jovem casal adquiria um lote de terras e aí
iniciavam uma nova família. Os dois, finalmente, eram independentes. O homem
carregava sobre os ombros a responsabilidade de fazer prosperar sua propriedade
e a mulher cuidava da casa e ajudava o marido com afazeres como ordenhar,
cuidar das galinhas, capinar e muitas outras tarefas.
Naquela época, sempre,
os casais esperavam ansiosos por filhos homens. Os homens, na família, eram a
garantia de mão de obra. Quando a idade do pai começasse a pesar eles o
substituiriam, nos trabalhos mais pesados como: lavrar, lidar com os bois,
carregar balaios de milho e etc.
Na nossa família não foi
diferente e para o júbilo de papai os três primeiros nasceram homens; O Nelson,
o Anselmo e o Alvis. Porém, infelizmente, ou não, os dois primeiros não tinham
vocação alguma para agricultura. Nelson era um desastre para lidar com os bois.
Fora da roça era um moço calmo mas quando estava com os bois era um estresse
só. Ficava nervoso e quanto mais se exaltava mais os bois ficavam alvoroçados.
Certa manhã, quando já
tinham idade para isto, os dois mais velhos foram lavrar numa roça nova aonde
ainda tinha alguns tocos do mato que fora cortado. Anselmo, o segundo filho,
que era mais paciente com os bois, começou a lavrar. Não quis entregar o arado para
o irmão porque ele estava nervoso. É que na subida para a roça os bois se
assustaram quando uma perdiz lentou voo bem diante deles.
Tudo ia bem. Anselmo
lavrava e Nelson, com enxada, fazia os retoques pontuais que escapavam do
arado. Pela meia manhã, como de costume, foram comer o lanche que a mãe lhes
preparara. Duas fatias de pão de milho, uma sobre a outra, com chimia comum,
nata e um toco de linguiça.
Depois do lanche
Nelson quis lavrar. Já estava mais calmo e por isso Anselmo lhe cedeu o arado,
mesmo porque ele era o mais velho.
No início tudo ia bem,
mas aí aconteceu. Os bois pararam de repente. Sem que Nelson percebesse, o arado havia
trancado na raiz de uma canjerana. O nervosismo já estava novamente à flor da
pele. Com um enérgico “álo”, várias vezes deu ordens aos bois para que continuassem mas eles, sentindo que alguma coisa estava errada, ficaram parados. Daí Anselmo disse:
- “Triwa met te relhe!”.
É uma expressão em alemão que significa
relho neles!
Nelson não esperou uma
segunda ordem.
Com o relhaço os bois puxaram
com tanta força que o arado partiu ao meio.
Papai percebeu que os
dois não tinham jeito para a roça. Graças ao seu bom senso permitiu que saíssem
de casa para estudar. Anselmo foi professor, por algum tempo, em Campestre e
depois teve casa comercial em Arroio Canoas. Nelson foi professor em Boa Vista
e depois em Vila Scheid, hoje São Bernardino, no oeste catarinense, onde vive
até hoje.
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