Arroio onde fizemos o piquenique |
Tia Clara |
Para papai trouxe um molinete. |
CONVESCOTE
PRIMEIRA PARTE.
Era uma segunda feira de um verão
escaldante. Estávamos almoçando quando o assunto “convescote” entrou em pauta. Papai já sabia há vários dias, que Tia
Clara viria para fazer o tal de “convescote”,
mas esperou até o último momento para falar a respeito como, aliás, sempre
fazia quando o assunto a ser discutido o deixava incomodado.
- Agora essa! Fazer um “convescote”!
Tem mais nada para inventar? Resmungou papai em resposta à explosão de euforia
da criançada, apesar de, sequer, sabermos o que era isso.
- Sei lá, disse papai. Ela falou que
também pode-se dizer “piquenique”. Ela ouve essas bobagens lá na cidade e quer
trazer a modo pra cá!
Sempre
que a Tia vinha ele ficava mal humorado. Eram irmãos, mas não conseguiam “comer
no mesmo cocho”. Nós crianças, pelo contrário, adorávamos Tia Clara porque
sempre nos trazia presentes. Dessa vez trouxe anzóis, linha de pescar, e boias
coloridas para não afundarmos nas águas do arroio, pois nenhum de nós sabia
nadar. Para papai trouxe um molinete. Na noite anterior tirou-o da caixa para
montá-lo. Meio contrariado, mas vencido pela curiosidade, papai se aproximou e acompanhou
a montagem do equipamento. Até, em certa ocasião, arriscou um palpite quando a
Tia encaixou de maneira errada uma pecinha. Quando tudo estava montado quis
saber para que servia esse tal molinete.
- Hora, para pescar disse ela
educadamente.
- Porque não usa simplesmente um
anzol, perguntou papai com ar de entendido.
- É para arremessar o anzol para
longe, coisa que não se consegue somente com anzol e linha. Papai riu e para
debochar da tia disse:
- Para onde quer jogar o anzol se o
arroio onde vamos pescar tem no máximo três ou quatro metros de largura?
Dessa vez papai tinha razão e tia
Clara ficou sem resposta. Então, meu irmão mais velho salvou a Tia da situação
vexatória em que se metera dizendo que seria um equipamento útil para quando
fôssemos à praia.
- É isso aí, concordamos todos.
- E quando vamos à praia? Perguntou
papai, rindo novamente.
- Um dia levo as crianças. É claro,
somente as crianças porque não quero que gente grande como tu agarrada na minha
saia, alfinetou tia Clara. Mamãe,
percebendo que os ânimos estavam acirrados, disse que era hora de dormir.
No dia seguinte partimos sedo para o
arroio Canoas.
Toda a família foi. Papai meio a
contragosto teve que ceder, pois queria que meus irmãos mais velhos e ele
ficassem em casa para capinar na roça de milho. Mas diante do protesto deles e
os argumentos de mamãe ele capitulou e concordou que todos fossem.
Quando íamos partir meu irmão mais
velho disse:
- E as minhocas?
Então tirei da minha mochila uma
latinha e me fazendo de importante falei:
- Ah se não fosse eu!
O dia estava lindo e mesmo antes do
nascer do sol partimos levando lanches, equipamentos e água potável. Apesar dos
protestos de Tia Clara papai levou a espingarda com vários cartuchos
carregados.
- Nunca se sabe, disse. Alguma cobra
ou outro bicho perigoso...
O final dessa história vou contar na próxima edição desse jornal.
Aguardem!
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