segunda-feira, 19 de outubro de 2015

RACISMO? Creio que não

Estavam levando várias toras para a Serraria dos Gehring
Breque da nossa carreta

Breque é um equipamento que freia as rodas da carreta.





RACISMO?
Creio que não

No meu tempo de guri, já muito sedo, recebíamos incumbências como: recolher os ovos, tratar os terneiros, debulhar milho, dar água para os porcos e outras tarefas simples que podiam ser feitas pela gurizada.
Quando completei onze anos me deram a incumbência de cuidar do breque. Breque é um equipamento que freia as rodas da carreta. Me senti orgulhoso porque era uma tarefa de muita responsabilidade e se mal executada podia trazer graves consequências nas decidas íngremes da nossa estrada de roça. Enquanto meu pai ou um irmão mais velho conduzia os bois eu abria ou fechava o breque conforme a necessidade.
Em Campestre, também, um menino era responsável pelo breque. Chamava-se Rudi, da família Altmann. Estavam levando várias toras para a Serraria dos Gehring. As toras roliças eram presas em cima da carreta e para afirmar bem usavam um arrocho “em alemão Bend redel”. Era uma vara de madeira, geralmente anjico, flexível mas forte.   Altman, o pai do menino, ia na frente conduzindo os bois e atrás, Rudi cuidava do breque. Alguns vizinhos acompanhavam o transporte das toras para prestar ajuda caso fosse necessário. Quando já estavam quase chegando um senhor negro cruzou por eles. Rudi nunca tinha visto alguém assim. Então pediu para o pai:
- Pai, pai, para a carreta.
- Mas, oque que houve, filho?
- Quem era essa pessoa estranha que passou por nós?
- Era um negro que mora lá em Poço das Antas.
E a viagem continuou. Mas daí a pouco:
- Pai, pai, para pai, para!
- Mas o que foi desta vez?
- Eu queria saber se os negros põem ovos ou as crianças nascem assim como nós. Alguns colonos que estavam acompanhando a comitiva riram tanto que o menino ficou todo encabulado.
- Ora filho, eles são gente igual a nós. A única diferença é a cor da pele.
Esta é uma história que os antigos contam por aqui em Arroio. Segundo Silfredo Weschenfelder, Rudi ainda vive e mora na localidade de Pimenta. Há, mais ou menos, meio ano ele teria festejado suas bodas de ouro. 

Hoje, as leis proíbem o racismo. É claro que o menino não cometeu uma atitude racista. Somente nunca tinha visto uma pessoa negra.

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