Estavam levando várias toras para a Serraria dos Gehring |
Breque da nossa carreta |
Breque é um equipamento que freia as rodas da carreta. |
RACISMO?
Creio que não
No meu
tempo de guri, já muito sedo, recebíamos incumbências como: recolher os ovos,
tratar os terneiros, debulhar milho, dar água para os porcos e outras tarefas
simples que podiam ser feitas pela gurizada.
Quando
completei onze anos me deram a incumbência de cuidar do breque. Breque é um
equipamento que freia as rodas da carreta. Me senti orgulhoso porque era uma
tarefa de muita responsabilidade e se mal executada podia trazer graves
consequências nas decidas íngremes da nossa estrada de roça. Enquanto meu pai
ou um irmão mais velho conduzia os bois eu abria ou fechava o breque conforme a
necessidade.
Em
Campestre, também, um menino era responsável pelo breque. Chamava-se Rudi, da
família Altmann. Estavam levando várias toras para a Serraria dos Gehring. As
toras roliças eram presas em cima da carreta e para afirmar bem usavam um
arrocho “em alemão Bend redel”. Era uma vara de madeira, geralmente anjico, flexível mas forte. Altman,
o pai do menino, ia na frente conduzindo os bois e atrás, Rudi cuidava do
breque. Alguns vizinhos acompanhavam o transporte das toras para prestar ajuda caso fosse necessário. Quando já estavam quase chegando um senhor negro cruzou por eles. Rudi
nunca tinha visto alguém assim. Então pediu para o pai:
- Pai,
pai, para a carreta.
- Mas,
oque que houve, filho?
- Quem
era essa pessoa estranha que passou por nós?
- Era
um negro que mora lá em Poço das Antas.
E a
viagem continuou. Mas daí a pouco:
- Pai,
pai, para pai, para!
- Mas o
que foi desta vez?
- Eu
queria saber se os negros põem ovos ou as crianças nascem assim como nós.
Alguns colonos que estavam acompanhando a comitiva riram tanto que o menino
ficou todo encabulado.
- Ora
filho, eles são gente igual a nós. A única diferença é a cor da pele.
Esta é
uma história que os antigos contam por aqui em Arroio. Segundo Silfredo
Weschenfelder, Rudi ainda vive e mora na localidade de Pimenta. Há, mais ou
menos, meio ano ele teria festejado suas bodas de ouro.
Hoje,
as leis proíbem o racismo. É claro que o menino não cometeu uma atitude
racista. Somente nunca tinha visto uma pessoa negra.
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