segunda-feira, 9 de novembro de 2015

OS GURIS ARTEIROS DE ARLINDO FLACH


O cavalo deles já era um matungo velho e muito assustado

Casa de Arlindo Flach em Canoinhas - Barão

O precipício.  

OS GURIS ARTEIROS DE ARLINDO FLACH


 Arlindo Flach (Flach Lind) tinha uma tropinha de gurizada medonha. Nos sábados de tarde e domingos tinham sempre que inventar algo para se ocupar.  
O cavalo deles já era um matungo velho e muito assustado. Quando alguma coisa o espantava, corria para um refúgio nos fundos do potreiro que confrontava com um precipício. Para dar acesso ao refúgio havia uma trilha estreita entre o precipício e uma enorme pedra atrás da qual o cavalo se escondia. Aquela passagem era perigosa, mas o animal, de tantas vezes que já passara por aí, vencia, sem dificuldade, aquele estreitamento.
 Num sábado de tarde, o capeta estava solto em Canoinhas. A gurizada, por si só, já era medonha imaginem então com a ajuda do “coisa-ruim”. A maldade que planejaram era dar um susto no matungo.
 Todos os guris do interior conhecem, e sabem fabricar certo instrumento com o talo da folha da abobreira que emite um som grave e rouco. (Em alemão Pova Thudz).
Debulharam uns grãos de milho num cocho para atrair o cavalo e então, o Juca, o mais velho, contou até três e todos, ao mesmo tempo, assopraram no seu instrumento provocando verdadeiro pânico no coitado do animal que fugiu numa disparada descontrolada em busca do seu refúgio. Os guris, ainda não contentes, perseguiram o matungo dando gritos, risadas e aquelas buzinadas. O Agostinho, que era o mais velhaco se postou em cima da pedra que tinha que ser contornada e quando o cavalo apareceu assoprou no seu instrumento. Com o novo susto o coitado do animal não venceu a curva e caiu no precipício ficando pendurado em cima de uma árvore. Daí, se deram conta da maldade que cometeram. Foram procurar o pai que queria saber como isso havia acontecido. Todos tentaram culpar o Agostinho que dera o último susto no animal de cima daquela pedra, mas ele se defendeu e acabou incriminando os demais irmãos de modo que o pai ficou sabendo de toda verdade.
Por castigo, no domingo, em vez de jogar futebol, tiveram que cavar um buraco no fundo do precipício para enterrar o cavalo. O castigo foi merecido e os meninos aprenderam a lição. De noite, já na cama, o Dionísio comentou com os irmãos:
- Passamos barato! Eu achava que o “veio” ia pegar mais pesado!
As crianças daquele tempo tinham uma infância saudável a pesar de não conhecerem luxo e nem conforto. E essa vida cheia de dificuldades e limitações foi forjando seu caráter fazendo deles homens de bem.


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