O cavalo deles já era um matungo velho e muito assustado |
Casa de Arlindo Flach em Canoinhas - Barão |
O precipício. |
OS GURIS ARTEIROS DE ARLINDO FLACH
Arlindo Flach (Flach Lind) tinha uma tropinha
de gurizada medonha. Nos sábados de tarde e domingos tinham sempre que inventar
algo para se ocupar.
O cavalo deles já era um matungo
velho e muito assustado. Quando alguma coisa o espantava, corria para um
refúgio nos fundos do potreiro que confrontava com um precipício. Para dar
acesso ao refúgio havia uma trilha estreita entre o precipício e uma enorme
pedra atrás da qual o cavalo se escondia. Aquela passagem era perigosa, mas o
animal, de tantas vezes que já passara por aí, vencia, sem dificuldade, aquele
estreitamento.
Num sábado de tarde, o capeta
estava solto em Canoinhas. A gurizada, por si só, já era medonha imaginem então
com a ajuda do “coisa-ruim”. A maldade que planejaram era dar um susto
no matungo.
Todos os guris do interior
conhecem, e sabem fabricar certo instrumento com o talo da folha da abobreira
que emite um som grave e rouco. (Em alemão Pova Thudz).
Debulharam uns grãos de milho num
cocho para atrair o cavalo e então, o Juca, o mais velho, contou até três e
todos, ao mesmo tempo, assopraram no seu instrumento provocando verdadeiro pânico
no coitado do animal que fugiu numa disparada descontrolada em busca do seu
refúgio. Os guris, ainda não contentes, perseguiram o matungo dando gritos,
risadas e aquelas buzinadas. O Agostinho, que era o mais velhaco se postou em
cima da pedra que tinha que ser contornada e quando o cavalo apareceu assoprou
no seu instrumento. Com o novo susto o coitado do animal não venceu a curva e
caiu no precipício ficando pendurado em cima de uma árvore. Daí, se deram conta
da maldade que cometeram. Foram procurar o pai que queria saber como isso havia
acontecido. Todos tentaram culpar o Agostinho que dera o último susto no animal
de cima daquela pedra, mas ele se defendeu e acabou incriminando os demais irmãos
de modo que o pai ficou sabendo de toda verdade.
Por castigo, no domingo, em vez de
jogar futebol, tiveram que cavar um buraco no fundo do precipício para enterrar
o cavalo. O castigo foi merecido e os meninos aprenderam a lição. De noite, já
na cama, o Dionísio comentou com os irmãos:
- Passamos barato! Eu achava que o
“veio” ia pegar mais pesado!
As crianças daquele tempo tinham uma
infância saudável a pesar de não conhecerem luxo e nem conforto. E essa vida
cheia de dificuldades e limitações foi forjando seu caráter fazendo deles
homens de bem.
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