Disse a vovó olhando por cima das lentes. |
DANDO ASAS À
IMAGINAÇÃO
A VOVOZINHA
Sob a sombra de um
frondoso cinamomo sentava uma vovozinha. Seu narizinho sustentava um par de
óculos que ela precisava para ler. Ao seu lado, sobre uma cadeira, havia um
maço de folhas amareladas pelo tempo, objeto da sua leitura.
-Vovó! Estás lendo de novo
os textos do vô? Já os leste tantas
vezes!
Eram as duas netinhas que
brincavam ai por perto: Hema, de doze, e Iris, de dez.
- Isso não é da conta de
vocês! Disse a vovó olhando por cima das lentes.
Sentaram-se no chão diante
dela e pediram:
- Fale-nos do vô! Ai ela
falou, mais uma vez, do vô e das coisas lindas que aconteceram. Falou das
dificuldades que passou ao lado dele, dos momentos felizes, dos planos, das
vitórias e dos fracassos.
-Vovó! Foste muito feliz
na escolha do companheiro.
- Pura sorte, pura sorte
minhas netinhas. Nós não escolhemos a vida que vamos levar, é ela que nos
escolhe. Quando a gente se casa pensamos que amamos o companheiro, mas é no
convívio diário que o verdadeiro amor floresce. Aquilo que parece ser amor
é somente fogo no rabo.
- Vovó, que desbocada!
- Muitas vezes deixamos de
dizer verdades só porque o termo não é “politicamente correto”. É preferível
dizer um palavrão do que somente meia verdade.
- E como era o vô?
- Ora! Falo dele todos os
dias. Vocês também o conheceram. Saberiam dar uma palestra a respeito dele. O
que mais querem saber!?
- Queremos saber, na cama!
Sussurraram no ouvido dela.
A vovó pegou a caixinha
dos óculos e a jogou nas duas meninas que saíram correndo enquanto, de pé,
ameaçava as duas com o cajado. E apontando o indicador para elas disse:
-Ele daria aulas de sexo,
ainda hoje, a muito garoto atrevido! Ouviram suas tralhas! E voltou a
sentar-se.
Então chamou as duas para
bem perto de si. Ia contar-lhes um segredo. Mas, em vez disso arrotou forte nos
seus ouvidos. Então elas:
-Louca! Mal educada!
Porca!
Mas a pesar disso, e
talvez por sua espontaneidade, elas a amavam tanto. Então devolveram-lhe a caixinha dos óculos, abraçaram-na
e, uma de cada lado, a beijaram carinhosamente.
Neste momento, duas
lágrimas caíram do céu e misturaram-se à saudade dela.
O verdadeiro amor é assim:
Eterno.
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