segunda-feira, 11 de maio de 2015

DANDO ASAS À IMAGINAÇÃO



 Disse a vovó olhando por cima das lentes.


DANDO ASAS À IMAGINAÇÃO
A VOVOZINHA


Sob a sombra de um frondoso cinamomo sentava uma vovozinha. Seu narizinho sustentava um par de óculos que ela precisava para ler. Ao seu lado, sobre uma cadeira, havia um maço de folhas amareladas pelo tempo, objeto da sua leitura.
-Vovó! Estás lendo de novo os textos do vô?  Já os leste tantas vezes!
Eram as duas netinhas que brincavam ai por perto: Hema, de doze, e Iris, de dez.
- Isso não é da conta de vocês! Disse a vovó olhando por cima das lentes.
Sentaram-se no chão diante dela e pediram:
- Fale-nos do vô! Ai ela falou, mais uma vez, do vô e das coisas lindas que aconteceram. Falou das dificuldades que passou ao lado dele, dos momentos felizes, dos planos, das vitórias e dos fracassos.
-Vovó! Foste muito feliz na escolha do companheiro.
- Pura sorte, pura sorte minhas netinhas. Nós não escolhemos a vida que vamos levar, é ela que nos escolhe. Quando a gente se casa pensamos que amamos o companheiro, mas é no convívio diário que o verdadeiro amor floresce. Aquilo que parece ser amor é somente fogo no rabo.
- Vovó, que desbocada!
- Muitas vezes deixamos de dizer verdades só porque o termo não é “politicamente correto”. É preferível dizer um palavrão do que somente meia verdade.
- E como era o vô?
- Ora! Falo dele todos os dias. Vocês também o conheceram. Saberiam dar uma palestra a respeito dele. O que mais querem saber!?
- Queremos saber, na cama! Sussurraram no ouvido dela. 
A vovó pegou a caixinha dos óculos e a jogou nas duas meninas que saíram correndo enquanto, de pé, ameaçava as duas com o cajado. E apontando o indicador para elas disse:
-Ele daria aulas de sexo, ainda hoje, a muito garoto atrevido! Ouviram suas tralhas! E voltou a sentar-se.
Então chamou as duas para bem perto de si. Ia contar-lhes um segredo. Mas, em vez disso arrotou forte nos seus ouvidos. Então elas:
-Louca! Mal educada! Porca!
Mas a pesar disso, e talvez por sua espontaneidade, elas a amavam tanto.  Então devolveram-lhe a caixinha dos óculos, abraçaram-na e, uma de cada lado, a beijaram carinhosamente.
Neste momento, duas lágrimas caíram do céu e misturaram-se à saudade dela.
O verdadeiro amor é assim: Eterno.

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