segunda-feira, 25 de maio de 2015

AS FORMINHAS DA TIA CLARA

Ficavam lindos mas sem comparação com os biscoitos da Tia Clara.
Então a mãe cortava a massa em forma de retângulos e depois pintava. Ficavam lindos 

A mãe e as irmãs mais velhas passavam o glacê nos biscoitos


A mãe e as irmãs mais velhas passavam o glacê nos biscoitos


Eram forminhas para fazer biscoitos coloridos (Weinacht´s toss)

Eram forminhas para fazer biscoitos coloridos (Weinacht´s toss)

AS FORMINHAS DA TIA CLARA


A pedido de um amigo aí vai mais uma da Tia Clara.
Faltava uma semana para o Natal. Como acontecia todos os anos, a Tia veio nos visitar. Ela adorava passar as festas de Fim de Ano conosco. Por isso programava suas férias para que coincidissem com esta época.
 Ao desembarcar, veio carregada de pacotes certamente os presentes que trazia para nós. Corremos até a estrada para abraçá-la e ajudar com a bagagem. Curiosos, queríamos abrir os nossos pacotes mas a Tia não permitia.
-Somete na noite do natal. A mãe de vocês é a única que tem permissão de abrir o pacote do seu presente ainda hoje.
Eram forminhas para fazer biscoitos coloridos (Weinacht´s toss) em diversos formatos: pinheirinhos, papais noéis, Anjinhos, o Menino Jesus na manjedoura e outras.
 Colorir biscoitos é uma tradição que os imigrantes alemães, italianos e outros trouxeram da antiga pátria. Como as pessoas da nossa comunidade não tinha muitos recursos não podiam se dar ao luxo de comprar forminhas. Então a mãe cortava a massa em forma de retângulos e depois pintava. Ficavam lindos mas sem comparação com os biscoitos da Tia Clara.
Aquele foi um Natal inesquecível para nós. Na semana que antecedeu o natal fizemos muitos biscoitos. Nós, gurizada, não saíamos de perto e ajudávamos no que era preciso. A mãe e as irmãs mais velhas passavam o glacê nos biscoitos e a Tia, usando todo o seu talento artístico, espalhava o açúcar colorido conforme o desenho do biscoito.
As forminhas que Tia deu para a mãe fizeram o maior sucesso na comunidade. Durante muitos anos, minha mãe emprestava as forminhas para os vizinhos e famílias amigas.
Também, foi Tia Clara que nos ensinou o significado daquela faixa vermelha no horizonte. Ao entardecer, certo dia, nos chamou para dizer que aquilo eram os fornos do Papai Noel cozinhando os doces que, no Natal, seriam distribuídos para as crianças.  Nos ensinou, também, que ganhar presentes não era a coisa mais importante do Natal. Que era uma data importante para os cristãos por que celebrávamos o nascimento do Menino Jesus. Mas mesmo assim ganhar presentes era uma coisa muito boa para nós.

Esta é mais uma das belas recordações dos tempos felizes da nossa infância onde coisas muito simples, como as forminhas da Tia Clara enchiam de magia os nossos natais. 


terça-feira, 19 de maio de 2015

A VIDA PULSA





E enquanto o “MONITOR CARDÍACO” da nossa vida indicar pulsação, há vida


TUDO PULSA NA NATUREZA


Os astrônomos comprovaram que o universo está em expansão. É uma luta constante entre duas forças; a INERCIA contra a GRAVIDADE. A partir do BIG BANG, o universo está se expandindo. A ação da INÉRCIA faz com que a matéria se expanda, porém a GRAVIDADE age no sentido contrário. Um dia a GRAVIDADE vencerá a INÉRCIA e o universo voltará a encolher-se criando, novamente, condições para uma nova explosão, um novo BIG BANG. Isto é a pulsação do universo. Entre um extremo e outro deste ciclo transcorrem bilhões de anos.  
Tudo na natureza pulsa, desde o ínfimo átomo até o universo infinito. A pulsação é a manifestação da vida. É o constante “perde e ganha” de duas forças oponentes, porém complementares. Assim, o vermelho e o azul estão sempre em guerra mas ao mesmo tempo um é vital para a existência do outro. O que seria do Inter sem o grêmio, de Estrela sem Lajeado, Novo Hamburgo sem São Leopoldo, Bento Gonçalves sem Caxias, Bagé sem Uruguaiana?
 Por isso é que precisamos do inimigo, da traição, e da falsidade. Do perigo e da escaldante areia.
Da seca, da dor, e da mulher feia para que algumas privilegiadas possam exibir todo seu esplendor.
Saciar-se não faria sentido sem a fome e a sede, nem o alívio seria apreciado se não fosse a dor de dente. O que seria da sétima dissonante que arranha e machuca o nosso ouvido, se não fosse seguida pelo majestoso acorde fundamental?
Somos sempre atingidos pelos altos e baixos na nossa existência. Mal superamos uma dificuldade e já outra está aí nos desafiando. Na nossa vida sempre ocorrerão vitórias e derrotas. Épocas de vacas gordas e de vacas magras. É o pulsar do universo se manifestando em nós

Mas não nos aflijamos por isso. Tudo que vem pra nós um dia partirá e o que sai de nós voltará, ainda que modificado. Toda a superação de obstáculo retornará sob a forma de aprendizado e sabedoria, e todos os fracassos retornarão como novos desafios e novas oportunidades de crescimento. A final de contas estamos por aqui pra crescer. E enquanto o “MONITOR CARDÍACO” da nossa vida indicar pulsação, há vida. O traço horizontal inalterado significa morte.






segunda-feira, 11 de maio de 2015

DANDO ASAS À IMAGINAÇÃO



 Disse a vovó olhando por cima das lentes.


DANDO ASAS À IMAGINAÇÃO
A VOVOZINHA


Sob a sombra de um frondoso cinamomo sentava uma vovozinha. Seu narizinho sustentava um par de óculos que ela precisava para ler. Ao seu lado, sobre uma cadeira, havia um maço de folhas amareladas pelo tempo, objeto da sua leitura.
-Vovó! Estás lendo de novo os textos do vô?  Já os leste tantas vezes!
Eram as duas netinhas que brincavam ai por perto: Hema, de doze, e Iris, de dez.
- Isso não é da conta de vocês! Disse a vovó olhando por cima das lentes.
Sentaram-se no chão diante dela e pediram:
- Fale-nos do vô! Ai ela falou, mais uma vez, do vô e das coisas lindas que aconteceram. Falou das dificuldades que passou ao lado dele, dos momentos felizes, dos planos, das vitórias e dos fracassos.
-Vovó! Foste muito feliz na escolha do companheiro.
- Pura sorte, pura sorte minhas netinhas. Nós não escolhemos a vida que vamos levar, é ela que nos escolhe. Quando a gente se casa pensamos que amamos o companheiro, mas é no convívio diário que o verdadeiro amor floresce. Aquilo que parece ser amor é somente fogo no rabo.
- Vovó, que desbocada!
- Muitas vezes deixamos de dizer verdades só porque o termo não é “politicamente correto”. É preferível dizer um palavrão do que somente meia verdade.
- E como era o vô?
- Ora! Falo dele todos os dias. Vocês também o conheceram. Saberiam dar uma palestra a respeito dele. O que mais querem saber!?
- Queremos saber, na cama! Sussurraram no ouvido dela. 
A vovó pegou a caixinha dos óculos e a jogou nas duas meninas que saíram correndo enquanto, de pé, ameaçava as duas com o cajado. E apontando o indicador para elas disse:
-Ele daria aulas de sexo, ainda hoje, a muito garoto atrevido! Ouviram suas tralhas! E voltou a sentar-se.
Então chamou as duas para bem perto de si. Ia contar-lhes um segredo. Mas, em vez disso arrotou forte nos seus ouvidos. Então elas:
-Louca! Mal educada! Porca!
Mas a pesar disso, e talvez por sua espontaneidade, elas a amavam tanto.  Então devolveram-lhe a caixinha dos óculos, abraçaram-na e, uma de cada lado, a beijaram carinhosamente.
Neste momento, duas lágrimas caíram do céu e misturaram-se à saudade dela.
O verdadeiro amor é assim: Eterno.

terça-feira, 5 de maio de 2015

O MIRAMAR NO AUGE




O MIRAMAR NO AUGE

Transcorriam os “Anos Setenta” e o “Miramar, antigo”, estava no auge da sua performance. Fazíamos sucesso, principalmente, na região alemã de Poço das Antas, Teutônia, Canabarro, Glória, Languiru, São Jacó, Linha Wink, Boa Vista Languiru e muitas outras localidades do interior de Estrela. O Miramar era sempre garantia de casa cheia. Analisando, hoje, o fenômeno poder-se-ia estranhar o fato de o Miramar fazer tanto sucesso justamente nesta região que, já naquele tempo, como ainda hoje, é um celeiro de músicos brilhantes e bandas qualificadas. Enquanto lá os músicos todos liam partituras, nós éramos, praticamente, analfabetos em conhecimentos teóricos. Porém o que nos faltava na teoria tínhamos sobrando no ouvido musical. A musicalidade corria solta nas veias dos irmãos Chies. Eles escutavam os últimos sucessos no rádio e com muita facilidade reproduziam as músicas. Principalmente, o Irani e o Verealdo passavam o dia escutando rádio. Não tínhamos à disposição gravadores por isso quando tocava uma música que interessava corriam para anotar a letra. Muitas vezes ela ficava pela metade. Então o jeito era esperar que a rádio tocasse novamente e assim três quatro e mais vezes até conseguir anotar toda a letra. Eram épocas difíceis para nós que tínhamos que aprender as músicas desse jeito. Porém, talvez, aí estava a explicação do nosso sucesso. Enquanto as bandas da região tocavam “músicas de bandinha” como dobrados, marchas, valsas etc. nós tocávamos os últimos sucessos tocados nas rádios. Isso atraia, principalmente, os jovens que vibravam com as constantes novidades do nosso repertório.
Éramos todos jovens e às vezes irresponsáveis. Foi o que aconteceu com o Verealdo num baile no salão do Gastão na linha Wink.  Estava ele cantando o sucesso da época “O VAGABUNDO” Engenheiros do Hawaii. Entusiasmado com os aplausos e a gritaria das mocinhas arriscou um repente. Em vez de cantar “um vagabundo como eu” cantou um “F. P. como eu”. Esse verso era cantada justamente no momento em que todos os instrumentos silenciavam de modo que todo o salão ouviu, claramente, o nosso cantor repentista ofender sua mãe e por extensão os seus irmãos . O público não se importou mas nós achamos aquilo imperdoável.
No final do baile fomos todos ao banheiro urinar. Como é comum, sempre tem uma torneira que larga água no mictório. Coube ao Lorivaldo urinar bem em frente ao registro. Então como é natural abriu o registro. Mas aquele registro não era da água do mictório. Era de um chuveiro bem acima de sua cabeça. Molhou-se todo.
Naquela madrugada, já em casa, depois de descarregar os instrumentos o Lori teve uma tarefa extra; secar seu uniforme que estava todo molhado. Mas o Vere teve tarefa mais difícil. Além de secar o traje precisou se livrar do cheiro forte de urina de tanto xixi que levou principalmente do Irani e do Marialdo os dois mais sensatos da turma.