CRISES E CONFLITOS
Arroio Canoas, no
início da sua colonização, viveu uma situação peculiar; foi o ponto de encontro
entre os alemães que vinham subindo a serra, e os italianos que vinham descendo.
Se observarmos, com atenção, os movimentos
migratórios ocorridos em Arroio Canoas podemos perceber que houve uma queda de
braço entre as duas etnias para determinar quem ocuparia a região. É claro que
isso não foi um movimento explícito e organizado.
Os alemães chegaram
antes e ocuparam as terras do Sagrado, Coblens, Canoinhas e Navegantes. Os
habitantes de toda a região formavam uma única comunidade religiosa católica, a
do Sagrado Coração de Jesus. Os evangélicos também tinham uma comunidade
religiosa onde hoje é Navegantes que, no entanto, não prosperou.
Cerca de vinte anos
depois, vieram os italianos. Com a chegada deles muitos alemães retornaram para
as suas localidades de origem. Em Coblens permaneceu a família Gräf, no Sagrado
a família Käfer e em Navegantes a família Metz.
Um pouco mais tarde muitos alemães: Schommer, Weschenfelder,
Thums, Hensel, Gosler e outros voltaram, principalmente, para o Sagrado. Ai foi
a vez dos italianos se retirarem. No Sagrado permaneceu a família de Santo
Chies.
Não sabemos, ao certo, o que determinou essa
dificuldade de convivência. Certamente, a língua prejudicou a comunicação, a
diferença de costumes e hábitos de convivência e outros aspectos da cultura
determinaram essas atitudes preconceituosas.
No entanto, segundo Diogo Guerra, a grande
causa das intrigas entre as duas etnias foi uma disputa de domínio entre Jesuítas
e Capuchinhos. A história registra que, em pouco tempo, Arroio Canoas trocou
cinco vezes de paróquia entre Garibaldi, Tupandi e São Pedro da Serra. Essas
trocas hora agradavam os italianos e hora, os alemães, criando toda essa
situação de conflito. Os mais idosos contam que em determinada época, os ânimos
ficaram tão exaltados que os domingos foram repartidos entre as duas etnias
podendo ocupar a igreja e fazer seu culto e orações, alternadamente, os
italianos e alemães. Essa situação criou muitas desavenças e abriu feridas que,
ainda hoje, não estão, totalmente, cicatrizadas.
Porém, esses conflitos
aconteciam no plano religioso mas não no relacionamento interpessoal. Lembro
que meu pai tinha muitos amigos italianos. Especialmente, lembro de Giocondo
Chies que vinha passear, ao menos uma vez por semana, na casa do meu pai.
Lembro, também, do Velho Zan, nosso vizinho, e depois, Orestes Scottá com os
quais mantínhamos um ótimo relacionamento.
Porém, se essa situação, por um lado, nos
criou dificuldades, por outro, fez com que o nosso povo desenvolvesse uma
personalidade peculiar. Arroio Canoas, hoje, não é alemã e nem italiana; é as
duas coisas. Temos, aqui, quatro comunidades que sofreram influências das duas
etnias. Em Coblens, Canoinhas e Navegantes predominam os italianos e no Sagrado
a influência alemã marca mais a população, seus costumes, cultura e tradições.
Sei que, por ai
afora, mora muita gente que ainda guarda viva, no seu coração, a chama do amor
pela sua “terrinha”. Não deixe que se apague. guarde esse vínculo. Traga, também,
seus filhos para os nossos eventos para que vejam as coisas bonitas que fazemos
e, para que desenvolvam, também, o amor pela terra que é o berço da cultura dos
seus antepassados.
Por outro lado, está na hora de sepultarmos, definitivamente,
as atitudes preconceituosas que fomos incentivados a desenvolver tornando-nos
joguetes nas mãos das duas ordens religiosas.
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