Mais tarde a prefeitura de Montenegro forneceu máquinas modernas tocadas a motor |
Tia Clara |
Um homem numa colheitadeira, faz o trabalho de centenas de trabalhadores braçais. |
Depois surgiu uma máquina tocada à força humana ou animal. |
Mais tarde a prefeitura de Montenegro forneceu máquinas modernas tocadas a motor |
mas o ônibus já estava partindo e a porta fechada |
TIA CLARA E O VEXAME
Em épocas passadas, por todo este interior, os colonos,
além de muitas outras coisas, também, semeavam trigo. As propriedades
precisavam bastar-se tanto quanto possível. Hoje, ninguém mais pensa em
cultivar este cereal. Os agricultores compram a farinha e muitas vezes, até o
pão.
Lá no início da colonização, o trigo era trilhado com
mangual. Depois, surgiu uma máquina tocada à força humana ou animal. Dois homens fortes
giravam um equipamento que debulhava as espigas. O trigo saía junto com a palha
sendo necessário, depois, separar a sujeira dos grãos. Era, ainda, um processo
primitivo, trabalhoso e árduo.
Mais tarde, a prefeitura de Montenegro forneceu máquinas
modernas tocadas a motor facilitando a vida dos colonos. Hoje, um homem,
sentado com todo o conforto em sua ceifadeira, faz o trabalho de centenas de
trabalhadores braçais.
Em Arroio Canoas, Valentim Hentz era o responsável pela
trilhadeira. Depois do trigo recolhido na roça, a máquina passava pela
comunidade e, mediante o pagamento de uma taxa, cada um podia trilhar seu
trigo.
Quando Tia Clara soube em que dia a trilhadeira passaria lá
em casa deu um jeito de vir.
Ela adorava estas
ocasiões e sempre se mostrava muito prestativa. Recolhia algumas espigas que os trabalhadores
deixavam cair e recomendava que tivessem mais cuidado e abria o saco para
despejar o trigo debulhado.
Na trilhadeira havia
um ventilador que sugava o ar para produzir uma correnteza que separava os
grãos da palha. Tia Clara, num momento de descuido, passou perto do ventilador
que, juntamente com o ar, sugou, também, seu vestido e a saia de baixo (una
rock) deixando-a só em trajes íntimos. Ela tinha muito pudor e ficou
extremamente vexada com a situação. Todos tínhamos um grande carinho pela Tia,
mas ninguém conseguiu segurar-se e a gargalhada foi geral. Diante da atitude de
todos, ela saiu daí o mais rápido que pode. Não conseguia correr porque estava
manca devido a uma sequela que ficara de um tombo que levou quando ia aprender
a andar de bicicleta. Minha mãe acudiu-a e a conduziu para dentro de casa.
Depois de muito trabalho, meu pai conseguiu desvencilhar o
vestido do ventilador, porém não sem deixá-lo todo despedaçado. Tia Clara não saiu
mais de dentro de casa naquele dia. Mais tarde, nós gurizada fomos consolá-la.
Dissemos que foi uma fatalidade. Que ela não teve culpa e que não ficasse
aborrecida. Dissemos que a amávamos muito e que aquilo para nós significava
nada.
–Pois é, disse ela,
mas todos riram de mim. Então, pedimos desculpas.
No dia seguinte, ela
já esquecera o fato e voltou a ser a Tia de sempre. O vestido que mamãe teve de
emprestar-lhe ficou apertado nela, mas não houve outro jeito.
Quando embarcou no ônibus meu pai disse que ela deveria
fazer um regime por que seu vestido estava apertado. Ela ainda quis responder,
mas o ônibus já estava partindo e a porta fechada. Papai esperou o momento
certo para mexer com ela. Nós só vimos o dedinho dela apontando na direção de
papai, mas não pudemos mais ouvir os seus impropérios.
Quando o ônibus já havia partido, tivemos que rir. Mamãe
disse:
-Coitada!
Lembro-me da ceifadeira que passava lá em casa e a palha do trigo era ótima para um mês inteiro de brincadeiras.
ResponderExcluirAbraço.
Realmente Dionísio. Somos uma geração privilegiada. Apesar de poucos recursos, tivemos uma infância feliz.
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