domingo, 1 de abril de 2012

PIQUENIQUE- primeira parte

Molinete, o presente da tia para papai
Tia Clara
Uma mata densa e exuberante, ainda hoje, encobre a regiao do Cafundó por onde passa o "Arroio Canoas".





PIQUENIQUE - primeira parte.

Era uma segunda feira de um verão escaldante. Estávamos almoçando quando o assunto do “piquenique” entrou em pauta. Papai já sabia há vários dias, que Tia Clara viria para fazer o tal do piquenique, mas esperou até o último momento para falar a respeito como, aliás, sempre fazia quando o assunto a ser discutido o deixava incomodado.
- Agora essa! Fazer um piquenique! Tem mais nada para inventar? Resmungou papai em resposta à explosão de euforia da criançada.
Então, quisemos saber oque era piquenique.
- Sei lá, disse papai. Ela ouve essas bobagens lá na cidade e quer trazer a modo pra cá. Se  quer fazer piquenique que o faça lá em Porto Alegre!
  Sempre que a Tia vinha ele ficava mal humorado. Eram irmãos, mas não conseguiam “comer no mesmo cocho”. Nós crianças, pelo contrário, adorávamos Tia Clara porque jamais se esqueceu de nos trazer presentes, coisas da cidade que, apesar de simples, faziam o maior sucesso entre a gurizada da colônia. Dessa vez trouxe anzóis, linha de pescar, e boias coloridas para não afundarmos nas águas do arroio, pois nenhum de nós sabia nadar. Para papai trouxe um molinete. Na noite anterior tirou-o da caixa para montá-lo. Meio contrariado, mas vencido pela curiosidade, papai se aproximou e acompanhou a montagem do equipamento. Até, em certa ocasião, arriscou um palpite quando a Tia encaixou de maneira errada uma pecinha. Quando tudo estava montado quis saber para que servia esse tal molinete.
- Hora, para pescar disse ela educadamente.
- Porque não usa simplesmente um anzol, perguntou papai com ar de entendido.
- É para arremessar o anzol para longe, coisa que não se consegue somente com anzol e linha. Papai riu e para debochar da tia disse:
- Para onde quer jogar o anzol se o arroio onde vamos pescar tem no máximo três ou quatro metros de largura?
Dessa vez papai tinha razão e tia Clara ficou sem resposta. Então, meu irmão mais velho salvou a Tia da situação vexatória em que se metera dizendo que seria um equipamento útil para quando fôssemos à praia.
- É isso aí, concordamos todos.
- E quando vamos à praia? Perguntou papai, rindo novamente.
- Um dia levo as crianças. É claro, somente as crianças porque não quero que gente grande como tu fique agarrada na minha saio, alfinetou tia Clara.
O assunto “molinete” acabou por aí porque mamãe, percebendo que os ânimos estavam acirrados, disse que estava tudo preparado para o piquenique e que fôssemos dormir porque já era tarde.
Demoramos um pouco para pegarmos no sono pois estávamos ansiosos com o tal piquenique que não sabíamos oque era e sequer tínhamos ouvido falar.
No dia seguinte partimos sedo para o arroio Canoas.
Toda a família foi. Papai meio a contragosto teve que ceder, pois queria que meus irmãos mais velhos e ele ficassem em casa para capinar na roça de milho. Mas diante do protesto deles e os argumentos de mamãe ele capitulou e concordou que todos fossem ao tal piquenique.
Quando íamos partir meu irmão mais velho disse:
- E as minhocas? 
Então tirei da minha mochila uma latinha e me fazendo de importante falei:
- Se não fosse eu! Fiquei todo prosa porque a Tia me deu um elogio deixando os meus outros irmãos com inveja.
O dia estava lindo e mesmo antes do nascer do sol partimos levando lanches, equipamentos e água potável. Apesar dos protestos de Tia Clara papai levou a espingarda com vários cartuchos carregados.
- Nunca se sabe, disse. Alguma cobra ou outro bicho perigoso...

O final dessa história vou contar na próxima edição desse jornal. Aguardem!



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