segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

UM DESEJO QUE QUASE VIROU TRAGÉDIA.



 

UM DESEJO QUE QUASE VIROU TRAGÉDIA.

Quando Norma estava grávida do Juca teve um daqueles desejos que as mulheres têm quando estão neste estado. Tinha vontade de comer um aipim com molho de pomba. Por isso pediu para o marido que fosse ao mato caçar.

Era uma época em que as pessoas não tinham a preocupação ecológica como hoje e, caçar uma pomba, era considerado coisa muito normal e aceita por todos.

Seno carregou alguns cartuchos e com sua 36 foi pro mato. Instalou-se num esconderijo bem camuflado e começou a chamar. Se alguma pomba estivesse aí por perto certamente viria procurar a companheira e ele poderia alvejá-la:

- Uh uhhh, uh uhhh, uh uhhh. ... O primeiro “uh” era curto e o segundo era um “uhhh” alongado. Quem foi caçador de pombas sabe exatamente como é.

Sem demora veio a resposta. Pelos cálculos, devia ser aí por perto, a uns 30 metros ou menos.

- Uh uhhh, uh uhhh. ...

Ele chamava e ela respondia. Considerando a distância de onde partia a resposta Seno tinha certeza que, sem demora, a caça pousaria num galho por perto em condições boas para o tiro. Chamou, chamou, mas a resposta vinha sempre do mesmo lugar. Não percebeu qualquer movimento de aproximação.

Depois de chamar por um longo tempo sem resultado, a paciência esgotou e resolveu abandonar o local. Porém, irritado, antes resolveu, pelo menos, espantar a pomba dando um tiro na direção de onde vinha a resposta. Pensando melhor, teve pena de desperdiçar a pólvora e o chumbo e resolveu somente jogar uma pedra na direção.

Mas aí foi um “Deus nos acuda”. Parecia um animal selvagem fugindo por entre galhos, taquaras, cipós e espinhos. O que seria aquilo?

Sem perda de tempo Seno correu atrás do bicho. Quando chegou na orla do mato viu. Era o vizinho que também estava aí caçando.

- Madona, disse ele, - tu quase me acertaste com a pedra!

Por sorte nada de grave aconteceu, mas imagine o presado leitor o que poderia ter acontecido se ao invés da pedra Seno realmente tivesse dado um tiro.

O vizinho, naquela hora, já havia abatido várias pombas e sabendo do desejo, deu uma de suas que Norma preparou com um pé de aipim que o sogro deu.

 

 

 

sábado, 19 de dezembro de 2020

IMPRUDÊNCIA DE PAPAI





 

 

Augusto Gossler filho de Pedro Gossler e Teresa Käfer.  

 

 

 

 

 

IMPRUDÊNCIA DE PAPAI

 

 

O fato aconteceu há muitos anos. Papai pendurou a espingarda carregada no corredor, pronta para ser usada quando os papagaios viessem.

Temos, aqui no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná um papagaio endêmico. É o papagaio-da-serra, papagaio-chorão ou simplesmente chorão. Seu nome científico é:(Amazona Pretrei).

Nos meses de abril a julho, este papagaio vinha em bandos enormes pousar sobre os pinheiros para se alimentar do pinhão que amadurecia por esta época.

Araucária Angustifólia é o nome científico do pinheiro brasileiro.

 Em muitas partes do mundo, existem florestas de pinheiros, mas a Araucária é exclusiva do Sul do Brasil, mais precisamente, na parte serrana do Rio Grande do sul, Santa Catarina e Paraná. Havia uma quantidade muito grande dessas árvores e em pouco tempo destruímos quase tudo.

Lembro que na nossa propriedade havia vários pinheiros e ficávamos na expectativa do aparecimento desses bandos de papagaios. Meu pai e os irmãos mais velhos atiravam com a espingarda e, algumas vezes, acertavam algum só de raspão na asa. Então fazíamos curativos para salvá-lo. eles eram nossos animaizinhos de estimação.

 Lembro que, em determinadas épocas, tínhamos três ou quatro papagaios engaiolados. Muitas vezes, no entanto, o tiro atingia mortalmente a ave. Então tirávamos as penas vermelhas das asas e do rabo para colocar no chapéu como enfeite.

 Hoje, tenho consciência da atitude atroz e desumana do meu pai e irmãos maiores matando essas aves indefesas que somente queriam se alimentar para depois seguir sua trajetória.

 Além disso, era muito perigoso porque a espingarda sempre ficava carregada e de prontidão para que quando aparecessem os papagaios a arma estivesse aposto.

Me lembro que certa vez, por muito pouco, não aconteceu uma tragédia. A espingarda estava pendurada na parede do corredor, já carregada, e pronta para ser usada. Então um rapaz vizinho estava brincando com a arma sem saber que estava carregada e, acidentalmente, disparou-a. O tiro atravessou uma parede de tábuas e os chumbos foram se alojar na parede de alvenaria dentro da cozinha. Por muita sorte ninguém foi atingido. Poderia ter acontecido um acidente fatal. O nome do rapaz era Augusto Gossler filho de Pedro Gossler e Teresa Käfer. Nós o chamávamos de August, (Dem Gosla saine August).

 Com o susto, Augusto saiu correndo para casa e nunca mais veio nos visitar porque dias depois a família Gossler se mudou para as “terras novas”.

 Augusto, atualmente, mora em Tunápolis com filhos e toda a parentada dele.


segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

EXPLOSÃO NA CAMINHONETE - Emancipação de Salvador do Sul

                             Ermindo Rösler


                                            Remo Roesler, filho mais novo de Ermindo, e casado com Ilaine. 

                                                     Segundo Charles Wentz, Remo faleceu há pouco tempo.

 


 

ERMINDO RÖSLER 2

 

Quando Salvador do Sul se emancipou de Montenegro, em 1963, houve muitas comemorações. Organizou-se carreatas para recepcionar a Comissão Emancipadora que foi a Porto Alegre presenciar a assinatura da lei que criou o município.

Em Campestre, também, a euforia tomou conta da população que, entusiasmada, saiu às ruas para comemorar.

 Ermindo Rösler “Rösla Mind”, que era um homem saliente na comunidade, tratou de organizar um grupo de amigos para acompanhar a carreata. Rösler tinha uma caminhonete Ford ano 1948 com carroceria de madeira que era considerado um artigo de luxo na época. Tinha três bancos e espaço para dezesseis passageiros.

 Na volta de Porto Alegre, quando a carreata passava por um povoado, a comitiva largava foguetes em sinal de alegria e entusiasmo pela conquista. Na época, Anselmo Hentz era professor em Campestre e, por isso, também foi convidado para acompanhar a comitiva. Hentz era o encarregado para acender os foguetes que eram largados pela janela.

 Na subida do Morro Kauer Eck, o vento da noite ficou frio e alguém empurrou o vidro fechando a janela. Ao passar por Linha Bonita Alta, Anselmo acendeu mais um foguete mas, para seu desespero, viu que a janela estava fechada.

O foguete, numa disparada maluca, foi dando voltas, hora por baixo dos bancos hora por cima da cabeça dos passageiros, deixando atrás de si um risco de fumaça e de fogo. Por fim, explodiu em baixo do banco de Ermindo que dirigia a caminhonete. O ar estava irrespirável e o estrondo ensurdecedor da explosão deixou os ouvidos de todos zunindo. Ermindo conseguiu parar o carro no acostamento e então se virou para os passageiros e disse em alemão hunsrick: “jets ist´s awa mol bal kenuch!”(isto agora já é demais!).

Fui a Campestre em busca de dados para escrever este texto. Ermindo faleceu em 1986. A propriedade, hoje, pertence a Remo Roesler, filho mais novo de Ermindo, e casado com Ilaine. É um lugar maravilhoso e bem cuidado com açudes e belos gramados. Lá, no seu tempo, Ermindo foi agricultor e fabricava queijo. Foi, também, vereador em Salvador do Sul por dois mandatos.

Agradeço ao casal pelas informações e pela carinhosa acolhida. Agradeço, também, ao José Lef por me indicar o caminho, e pelas informações tão úteis para contar esta história.