terça-feira, 28 de junho de 2022

CAÇANDO UM TICO-TICO

Tenho uma câmera fotográfica (SONY)

 

 

CAÇANDO UM TICO-TICO

 

Houve época em que eu sentava junto aos mais velhos para ouvi-los falar de antigamente. Os anos passaram e hoje os papéis se inverteram. Cá estou eu contando histórias reais e fictícias sobre coisas que ouvi, e das vivências próprias de épocas passadas.

Nos últimos anos, as coisas mudaram muito rapidamente. Mesmo pessoas mais novas, vinte ou trinta anos, viveram experiências que hoje já estão ultrapassadas. Tenho uma câmera fotográfica (SONY) em perfeito estado de funcionamento, porém que não se usa mais. O celular a substitui, com várias vantagens. Nossos avós e bisavós nasceram e morreram sem terem vivenciado mudanças significativas.

Venho de um tempo em que não tínhamos energia elétrica na nossa casa. Eram tempos em que fabricávamos os nossos próprios brinquedos. Ainda que as crianças de hoje não consigam entender isso, mas éramos felizes. Era divertido e educativo.

Todo o guri, na época, tinha que ter uma funda; uma forquilha cuidadosamente colhida numa capoeira, um couro tirado de algum chinelo velho e duas tiras de borracha cortadas de alguma câmara de automóvel. As câmaras, na época, eram feitas de puro látex diferente das de hoje fabricadas com borracha sintética e, por isso, sem elasticidade, imprópria para fazer fundas.

Naquele domingo de tarde, como de costume, saímos para caçar pelos potreiros. Perseguíamos um tico-tico que para se salvar refugiou-se numa moita espinhenta no meio do nosso potreiro. Cercamos a moita e disparamos fundadas de todos os lados tentando acertar o coitado. Então o Flavio engatilhou sua funda e disparou um tiro poderoso que atravessou a moita indo acertar a cabeça de meu irmão Plinio no outro lado da moita. A pedra fez um estrago significativo no supercílio do guri deixando seu rosto todo ensanguentado. Nós todos ficamos apavorados. O Erno, que não podia ver sangue, desmaiou. Plinio mal podia caminhar. Meio cambaleando levamo-lo para cima. Estávamos preocupados com a explicação que daríamos à nossa mãe.

Então ela tratou de lavar o ferimento com água oxigenada e fez um curativo usando o kit de primeiros socorros que Tia Clara tinha deixado lá em casa na última vez que esteve nos visitando. Tia Clara era enfermeira no Hospital Santa Casa de Porto Alegre.

 Por sorte, ao atravessar a moita, a pedra perdeu força abrindo, somente, um pequeno corte. Por ter sido na sobrancelha sangrou muito dando a impressão de um ferimento sério. Plinio, ainda hoje, tem uma pequena marca acima do olho esquerdo. Um desavisado nada percebe, mas quem olhar com atenção vai perceber uma cicatriz muito discreta encoberta parcialmente com os pelos da sobrancelha.

 


 

segunda-feira, 13 de junho de 2022

O POVO DA REPÚBLICA Diante de um dilema



Urna eletrônica de terceira geração usado na Argentina


O POVO DA REPÚBLICA

Diante de um dilema

 

Nas salas de espera, há geralmente um aparelho de TV ligado. É uma forma de entreter as pessoas fazendo com que a espera não se torne excessivamente entediante.

Depois de muitos anos de observação comecei a perceber que, invariavelmente, o mesmo canal era sintonizado.

Caímos nessas armadilhas sem nos darmos conta. Depois de anos de domínio de uma mesma orientação, o vício foi sendo incrustado nas instituições.

O responsável para ligar o aparelho de TV, com certeza não é o prefeito, o secretário da saúde, o ministro ou alguém que ocupa um alto posto na hierarquia governamental.

Naquela manhã o povo acordou eufórico. O bom senso fora vitorioso nas eleições. Novamente havia esperança. O povo, pelas ruas, se manifestou com faixas de “ACABOU A ROUBALHEIRA”.

Mas, a administração austera trouxe muita insatisfação. Os viciados em facilidades não quiseram entregar o seu status, e passaram a lutar, bravamente, pelos privilégios perdidos.

 A administração da república, depois de muitos anos, estava viciada. Os agora derrotados, tiveram anos de tempo para aparelhar as instituições; a imprensa, o supremo, as universidades, o sistema educacional, tudo estava viciado. Os expoentes da cultura estavam revoltados pela revogação de leis que os beneficiavam e se engajaram na onda de protestos. Uníssonos tratavam de boicotar, criticar e colocar toda sorte de empecilhos. A abstinência os impelia para ações irracionais contra a república. Tudo valia desde que obstaculizasse a nova administração.

Diante do quadro o povo sugeriu impor o bom senso pela força entendendo que não havia outra alternativa. As ruas foram tomadas exigindo intervenção. Mas a serenidade do mandatário prevaleceu. Norteado pelo espírito democrático dirigiu-se a nação:

- Se eu fizer isso sei que serei ovacionado nos braços do povo. Mas a minha responsabilidade é grande e eu preciso pensar no dia seguinte.

E usou uma figura para justificar sua conduta:

Se tivermos um balde com água suja não devemos derramar toda a água porque junto com a sujeira também vamos sacrificar todas as coisas boas. A solução será acrescentarmos, constantemente, água limpa até que um dia haverá só água limpa no balde. É um exercício demorado e difícil, mas o único que poderá nos transformar em uma nação virtuosa.

A república está num dilema. O povo será chamado proximamente. Talvez decida por continuar a colocar água limpa no balde.

Mais um texto de ficção. Qualquer semelhança é mera coincidência.

 

segunda-feira, 6 de junho de 2022

A TEORIA DA VIDRAÇA QUEBRADA


 

 

A TEORIA DA VIDRAÇA QUEBRADA

 

A teoria foi estabelecida por James Q. Wilson e George Kelling que defendem que se uma vidraça de uma fábrica, casa ou prédio for quebrada e não imediatamente consertada, há grande possibilidade de outras vidraças também serem danificadas. De acordo com observações e experiências, concluíram que pequenas desordens evoluem para crimes cada vez maiores e isso é um fomento latente à atividade criminosa. Essa tendência se verifica nos dois sentidos. Um ambiente limpo e bem organizado convida os indivíduos a se policiarem para manter a limpeza ao passo que um ambiente sujo e desorganizado tende a relaxar os indivíduos que sem se preocuparem descartam seu lixo aí mesmo; um papel de bala, a latinha de refrigerante e etc.

Conheci São Bernardino lá na sua gênese. Eram colonos que vieram em busca de oportunidades, pois as terras das velhas colônias já não eram suficientes e não apresentavam mais a fertilidade de outrora.

 Havia sempre muito por fazer pois, as novas terras exigiam muito trabalho. Não havia espaço para luxo. Todo o esforço era direcionado para a roça pois as dívidas precisavam ser pagas. As casinhas de madeira, muito humildes, não eram pintadas.

Então em meio aos colonos um casal resolveu pintar sua casinha. Quando voltei pra lá poucos anos depois a grande maioria havia pintado sua casinha e todos cultivavam um jardim colorido em frente a casa como é da tradição das famílias alemãs.

Nos anos 80 e 90 a criminalidade atingiu índices alarmantes em Nova York. Para superar essa epidemia algumas metrópoles dos Estados Unidos adotaram a política da “Tolerância Zero” baseada na lei das “Janelas Quebradas”.

Você consegue segurar uma carreta parada num morro, mas quando ela começa a disparar morro abaixo, segurá-la é muito mais difícil.

Com muita propriedade, há um proverbio que diz:

- O mal deve ser cortado pela raiz, ou então:

- de pequenino se torce o pepino.