Kikiri estava morto |
Tigrao estava todo esfolado |
Tigrão |
UM PASSO PARA TRÁS
Kokoró e kikiri
Tenho uma pequena criação de galinhas. Há algum tempo, nasceu uma ninhada. Eram várias galinhas e dois galos: O Kokoró e o Kikiri.
Como a maioria dos prezados leitores sabe, dois galos no mesmo terreiro não se aturam e se ninguém intervir brigam até as últimas consequências. É o que teria acontecido com os meus dois galos não fosse a sensatez de um deles. Kikiri analisou criteriosamente a situação e resolveu abdicar do seu direito de disputar a hegemonia do galinheiro. Achou por bem dar um passo para trás.
Kokoró comandava, absoluto, as ações no terreiro. A paz reinava entre os galináceos. Kikiri se contentava com as raras vezes que conseguia copular com alguma galinha se aproveitando de momentos de distração de Kokoró. Porém, quando este percebia a tramoia intervinha com rigor e Kikiri era obrigado a se recolher a sua condição de subalterno evitando assim contendas sangrentas.
Num dia desses, fui a Tupandi atendendo a um convite do meu filho para passar, com ele, o fim de semana. Ao voltar estranhei a presença de um galo estranho no meu quintal. Era o Tigrão do vizinho todo preto com ares de superioridade, forte e altivo. Seu nome, “Tigrão”, lhe fazia jus.
Mas havia algo de anormal. Ele estava todo esfolado e com a cabeça ensanguentada. Quando me viu vazou-se daí correndo para casa. De noite, quando fui fechar o galinheiro, dei por falta de Kokoró. O que teria acontecido?
No dia seguinte encontrei-o escondido num buraco. Estava morto.
Quando Tigrão invadiu o seu território, Kokoró, por não ter aprendido a dar um passo pra trás, enfrentou o invasor com coragem e galhardia. Tigrão era um galo velho, experiente com enormes esporas nas patas. Kokoró não foi páreo para ele. Kikiri testemunhou tudo mas, muito prudente, não se meteu na briga dos dois.
Hoje Kikiri reina absoluto no seu harém. Graças ao seu bom senso e ao aprendizado que a vida lhe ensino poderá transmitir seus genes para as futuras gerações que, a final de contas, é o verdadeiro motivo das contendas que os machos galináceos são impelidos a travar.
Talvez não somente galináceos.
Algumas vezes convém dar um passo para trás