um dia nos convidou para uma audiência no seu rádio.
ALGUMAS RECORDAÇÕES DA INFÂNCIA.
1 – Muitas vezes, no mês de dezembro ao por do sol, o horizonte se tinge de um vermelho intenso. É uma visão espetacular, e quando crianças, queríamos saber o que fazia o céu ficar assim. Nossos pais diziam que era coisa doPapai Noel cozinhando os doces que seriam distribuídos no Natal.
2- Muito cedo, as crianças, na colônia, já ajudavam nas lides da roça. Lembro que uma das minhas atribuições era fechar o breque da carreta ao descermos os morros íngremes da nossa propriedade. Meu irmão maior ia na frente conduzindo os bois e eu, atrás, abria ou fechava o breque conforme necessário. Era um trabalho de grande responsabilidade por que se eu falhasse os bois não conseguiriam controlar a velocidade da carreta e certamente aconteceriam consequências sérias da minha irresponsabilidade.
3 - Lembro, com saudade, das noites frias de inverno quando sob a luz de um lampião a querosene toda a família se reunia em torno do fogão a lenha. Comíamos pinhão assado na chapa e os mais velhos tomavam chimarrão. Cantávamos canções populares e hinos religiosos.
Meu pai cantava no coral da comunidade. Em São Pedro, meu tio Francisco (te Hentz Franz), também cantava no coral e alguém trouxe um número da loteria que os cantores todos compraram juntos. Francisco, que era mais pobre, ficou ficou só com meia cota, e por isso ganhou só a metade do que os colegas ganharam, porém o suficiente para poder comprar um lote de terras melhor localizado e com melhores condições para o trabalho agrícola.
4 - Na escola jogávamos Barra ou Bandeira Velha. Aos domingos, pelos potreiros, procurávamos frutas silvestres: quaresmas (araticum), cerejas, pitangas e guabirobas. Com fundas, caçávamos passarinhos e procurávamos colmeias para chupar o mel. Num domingo encurralamos um tucano numa moita e nos postamos em torno dela disparando tiros de todos os lados até que um tiro atravessou a moita indo atingir a cabeça de Flávio no outro lado. O tiro partira da funda de Lauredo Erntzen. Por sorte, nada de grave aconteceu, pois, ao atravessar a moita, a pedra perdeu potência não causando danos significativos na cabeça de Flávio.
5 - Foi na casa de Orestes Scottá que ouvi rádio pela primeira vez. A propriedade de Orestes, hoje, pertence aos descendentes de Hugo Schommer, e parte da casa, durante muito tempo, serviu como paiol para a família Schommer. Antes, pertencia a Antonio Zan que era o nono (avô) de Teresa Maria Zan Manfredini, minha amiga e escritora. Orestes era o nosso vizinho e um dia nos convidou para uma audiência no seu rádio. O aparelho estava sintonizado na Rádio Difusora de Garibaldi. Lembro que ouvimos: “As Mocinhas da Cidade”, “Cana Verde” e propaganda de Pepsi-Cola.
Esses primeiros rádios funcionavam com válvulas (hoje transístores) e por isso consumiam muita energia que era fornecida por uma bateria. (A energia elétrica ainda não chegara a Arroio). Por isso o aparelho ficava ligado o mínimo possível. Para carregar, a bateria tinha que ser levada “lá no Checo”, pai de Reinaldo Deitos que tinha um equipamento para tal fim movido por águas do arroio canoas. As baterias eram transportadas a cavalo dentro de um saco e se usava uma pedra como contrapeso. Havia, também, quem as transportasse em bicicleta. Mais tarde alguns compraram cata-ventos.
7 - O pessoal do “MORRO”: Lalo, Jandir, Negrim, Lori, Eloides, Verealdo e algumas vezes eu, o Plínio, o Lauri Henich(Pelé Branco) e outros nos reuníamos, depois do meio dia, para jogar futebol. Quando não tinha bola (em geral não tinha), jogávamos com laranjas ou enchíamos uma meia com panos velhos. Dessas peladas saíram bons jogadores como Jandir, Verealdo, Eloides e, principalmente, o Lalo que foi o melhor centroavante que a região já teve e só não se tornou profissional de sucesso por falta de oportunidade.
8 - Algumas vezes, nos dias de chuva, a gurizada era convocada para um trabalho extra. Os colchões, naquela época, eram um saco feito com tecido resistente. Deixava-se um buraco no centro por onde se introduzia palha de milho. Periodicamente essa palha era trocada. Aí a nossa tarefa consistia em rasgá-la em tiras finas. Em alemão, “lohb rope”. A cada dois ou três dias, a mãe ou as irmãs mais velhas introduziam a mão pelo buraco do colchão e afofavam a palha. Depois veio o colchão de crina. Hoje, as espumas substituem, com vantagem, aqueles colchões. Mas lembro, ainda hoje, do cheirinho aconchegante da palha de milho. Era muito gostoso deitar num colchão com palha novinha.