quinta-feira, 22 de novembro de 2018

A REUNIÃO


A REUNIÃO


                                                   Nikolaus Botzen está enterrado no cemitério do                                                     Sagrado Coração de Jesus, em Arroio Canoas-Barão




                                                 


                                                  A REUNIÃO


Por volta de 1916, quando Ottilia tinha 10 anos, os quatro moradores de Morgens Land tinham uma reunião marcada na casa do pai dela. Era um domingo de noite e o assunto seria a preocupação com os italianos. Eles já ocupavam as terras de Boa Vista (Arco Verde) e estavam comprando propriedades cada vez mais próximas.
- Daqui a pouco são nossos vizinhos, disse a Senhora Vogt abrindo a reunião.  E o que faremos então?
 A senhora Vogt fizera cuca no dia anterior e, como anfitriã, serviu aos visitantes. A farinha de trigo era coisa muito rara e por isso era reservada para os dias especiais como Natal, Páscoa e o Kerb. Aquela ocasião, no entanto, merecia algo especial. Ainda mais que neste ano a colheita de trigo fora boa.
A senhora Butzen concordou com Margarida Vogt e, também, achava que a situação era preocupante.
- Nós não ficaremos morando aqui, disse a Senhora Bervian. Daqui a pouco vão querer namorar com nossas filhas. Isso seria o fim.
Todas as mulheres concordaram com a Senhora Bervian. Se não houvesse outro jeito voltariam para  sua terra natal. Os homens já não eram tão radicais e mesmo não gostando da presença dos italianos achavam que não havia motivo para abandonarem tudo e procurar outras terras.
- Vocês homens acham que tudo está bem, disse a Senhora Bervian. Depois que acontecer alguma coisa grave ai será tarde.
- O que pode acontecer de tão grave com a presença deles, disse o Senhor Gräf?
- Eu já ouvi falar muita coisa dessa gente. Na última visita, meu irmão Florian disse que, não sei aonde, mataram uma pessoa a marteladas. Sabemos que são atrevidos e namoradores, e não respeitam as mulheres. Já pensaram o que pode acontecer com as nossas filhas?
Até agora só as mulheres haviam se manifestado. Então o Senhor Pedro Gräf disse que ele não sairia de Morgens Land.
- trabalhei muito nas minhas terras. Derrubei muito mato, fiz roças e agora que posso começar a plantar e colher... Não vão me fazer correr daqui com o rabo no meio das pernas. Então, a Senhora Gräf, que até agora ficara calada, disse:
- Como podes pensar tão pouco nas nossas filhas?
- Penso nelas. E se um dos filhos desses italianos chegar perto delas vai levar chumbo. Mas daqui eu não vou sair.
Estava claro que as mulheres eram mais radicais em relação à presença dos italianos que os homens. Eles não viam tanto motivo de preocupação.
 Então tomaram uma decisão; na próxima visita do padre falariam com ele e pediriam um conselho. Afinal ele era um homem estudado e devia conhecer melhor essa gente.
Durante o resto da reunião conversaram sobre amenidades. As mulheres aproveitaram para colocar as fofocas em dia e os homens discutiam sobre assuntos de roça.
 Junto com a cuca corria a roda de chimarrão. Os imigrantes alemães se acostumaram rapidamente com esta bebida, e ela passou a fazer parte dos seus costumes.
Das quatro famílias pioneiras de Morgens Land três voltaram para Badenserthal. Somente Pedro Gräf ficou por aqui. E por ironia do destino, Gräf teve uma família numerosa e a grande maioria dos seus filhos casaram com italianos. Os Vogt e os Bervian voltaram para Badenserthal. O Senhor Butzen faleceu muito cedo mesmo antes de voltar para para sua terra natal, mas sua família, depois do seu falecimento, também voltou. Nikolaus Botzen está enterrado no cemitério do Sagrado Coração de Jesus, em Arroio Canoas-Barão
Morgens Land, Cobléns, é uma comunidade próspera. Os Gräf, hoje, formam uma família numerosa e sua influência e atuação foi, e continua sendo relevante no contexto social e econômico de Cobléns.




domingo, 18 de novembro de 2018

CONTAMINAÇÃO

ao ver uma família plantando flores numa rua recém calçada.


ao ver uma família plantando flores numa rua recém calçada.


ao ver uma família plantando flores numa rua recém calçada.



Igreja de S. Bernardino


percebi que um dos moradores havia pintado sua casinha







                                            CONTAMINAÇÃO




O termo contaminar, geralmente, se refere a transmissão de doenças, mas pode também significar influência sobre indivíduos e, muitas vezes, sobre uma população toda.
Foi isso o que aconteceu em São Bernardino.
 Conheci a localidade em 1968. Algumas choupanas e uma rua empoeirada no verão e barrenta nos dias de chuva. Naquele tempo, ninguém podia dar-se ao luxo de cultivar um jardim ou pintar sua casinha. A ordem era trabalhar. As dívidas precisavam ser pagas. Não havia qualquer tipo de incentivo governamental. Cada vintém tinha que ser arrancado da roça. E aí no meio do mato, afastados de tudo, os colonos precisavam bastar-se. Cada um desses pioneiros carregava sobre os ombros o peso da responsabilidade de fazer prosperar seu empreendimento. Eles vieram atrás de um sonho e impulsionados pelo espírito aventureiro embrenharam-se neste mundo selvagem onde não havia um mínimo de conforto.
De tempos em tempos eu visitava São Bernardino pois lá morava, e ainda mora, meu irmão Nelson Hentz que foi professor e um dos pioneiros da localidade.
Em certa ocasião, lá no início, percebi que um dos moradores havia pintado sua casinha. Nas visitas seguintes mais colonos estavam seguindo o exemplo, e o que era somente umas choupanas sem graça foi se transformando numa aldeia com casas muito simples, porém pintadas, e pátios com jardins multicoloridos.
É a contaminação. O vizinho, talvez por vergonha ou inveja, também pintou sua casinha. E como se fosse um vírus, a ideia se espalhou e, aos poucos, foi contaminando toda vila.
No Sagrado, em Arroio Canoas, o povo cuida com esmero do embelezamento da comunidade. A praça e os arredores da igreja estão sempre bem cuidados.
 Certo dia me surpreendi ao ver uma família plantando flores numa rua recém calçada. Era a família de Remídio Käfer e seus vizinhos Ricardo e Isolde. Quero parabenizar as duas famílias pela ideia feliz e muito louvável.
A iniciativa da família Käfer certamente irá contaminar o Sagrado.

sábado, 10 de novembro de 2018

ARTE, MANIFESTAÇÃO DO ESPÍRITO.

Antigo projetor de filmes

Antigo projetor de filmes



 ARTE, MANIFESTAÇÃO DO ESPÍRITO.


Arte é o ato de expressão do espírito. É a organização de elementos em movimento. A arte expressa equilíbrio e harmonia, é paz, é perfeição, é a materialização do mundo espiritual. Através dela Deus se manifesta.
 Quando falamos em arte logo nos vem à mente um quadro na parede, uma escultura ou uma música de Beethoven. Mas arte é muito mais.
  Luiz Gasparetto, numa de suas palestras, diz que arte deve estar também no nosso cotidiano. Quando você for tomar um cafezinho faça-o com arte. Sinta o cheiro, use uma xícara adequada, tire o tempo para degustar e apreciar o ato porque se não for assim não estará tomando um cafezinho, estará despejando água suja no estômago.
Seja, também, um artista nos seus relacionamentos. Saia um pouco do seu mundo material e acesse seu espírito. É lá que se origina toda a ação qualitativa. O bom artista sabe que deve buscar sua inspiração no mundo espiritual.
Até 1912 convencionou-se dizer que existem “seis artes”: arquitetura, escultura, pintura, música dança e poesia. Então, o intelectual italiano, Ricciotto Canudo, propôs incluir o cinema nesta lista como a “Sétima Arte”. Por isso conhecemos, hoje, o cinema como a Sétima Arte.
Entre a nossa gente o cinema causou impacto. Lá pelos anos cinquenta e sessenta eram exibidas fitas nas nossas colônias. Algumas vezes, em salões ou ao ar livre pois as pessoas, sempre, acorriam em grande número. Era uma novidade impressionante. A Norma lembra que era uma menininha quando viu cinema pela primeira vez. Foi no Salão do “Fridchen”. Era uma fita que orientava os colonos no cultivo da batatinha. Lembra que mostrava o cuidado que se deveria ter na escolha da semente, no distanciamento e armazenamento. Claudino Käfer viu a fita “JACINTA FRANCISCO E LÚCIA”.
 Renato Chies contou que nos anos cinquenta e sessenta tinha um amigo no consulado alemão e através dele conseguiu emprestado todo o equipamento, inclusive uma combi, para passar fitas por todo o interior de Salvador do Sul.
Vejam, são cinquenta ou sessenta anos quando a nossa gente viu, pela primeira vez, cinema. Nas colônias, foi um acontecimento tão grande que deixou muitas pessoas impressionadas a ponto de ainda hoje lembrarem, com detalhes, o que foi mostrado. Hoje, qualquer criança com seu celular, é capaz de produzir um filme.
Como tudo, também a “A SÉTIMA ARTE”, evoluiu muito rapidamente. Creio que essa rapidez com que as coisas mudam tenha uma implicância no comportamento da sociedade moderna. Sempre precisamos de novidades. E quando não podemos tê-las constantemente, nos frustramos. 
Talvez, seja essa a principal causa de depressão que acomete grande parte da população de hoje.