domingo, 26 de junho de 2016

RELHO NELES

foram lavrar numa roça nova

“Triwa met te relhe!”

Canjerana com sementes

Toco de canjerana, muito resistente à podridão.





RELHO NELES

Os imigrantes europeus, italianos, alemães e outros, que se estabeleceram por esta região eram todos pequenos agricultores. Praticavam a agricultura familiar utilizando somente mão de obra da família. 
Todo jovem casal adquiria um lote de terras e aí iniciavam uma nova família. Os dois, finalmente, eram independentes. O homem carregava sobre os ombros a responsabilidade de fazer prosperar sua propriedade e a mulher cuidava da casa e ajudava o marido com afazeres como ordenhar, cuidar das galinhas, capinar e muitas outras tarefas.
Naquela época, sempre, os casais esperavam ansiosos por filhos homens. Os homens, na família, eram a garantia de mão de obra. Quando a idade do pai começasse a pesar eles o substituiriam, nos trabalhos mais pesados como: lavrar, lidar com os bois, carregar balaios de milho e etc.
Na nossa família não foi diferente e para o júbilo de papai os três primeiros nasceram homens; O Nelson, o Anselmo e o Alvis. Porém, infelizmente, ou não, os dois primeiros não tinham vocação alguma para agricultura. Nelson era um desastre para lidar com os bois. Fora da roça era um moço calmo mas quando estava com os bois era um estresse só. Ficava nervoso e quanto mais se exaltava mais os bois ficavam alvoroçados.
Certa manhã, quando já tinham idade para isto, os dois mais velhos foram lavrar numa roça nova aonde ainda tinha alguns tocos do mato que fora cortado. Anselmo, o segundo filho, que era mais paciente com os bois, começou a lavrar. Não quis entregar o arado para o irmão porque ele estava nervoso. É que na subida para a roça os bois se assustaram quando uma perdiz lentou voo bem diante deles.
Tudo ia bem. Anselmo lavrava e Nelson, com enxada, fazia os retoques pontuais que escapavam do arado. Pela meia manhã, como de costume, foram comer o lanche que a mãe lhes preparara. Duas fatias de pão de milho, uma sobre a outra, com chimia comum, nata e um toco de linguiça.
Depois do lanche Nelson quis lavrar. Já estava mais calmo e por isso Anselmo lhe cedeu o arado, mesmo porque ele era o mais velho.
No início tudo ia bem, mas aí aconteceu. Os bois pararam de repente.  Sem que Nelson percebesse, o arado havia trancado na raiz de uma canjerana. O nervosismo já estava novamente à flor da pele.  Com um enérgico “álo”, várias vezes deu ordens aos bois para que continuassem mas eles, sentindo que alguma coisa estava errada, ficaram parados. Daí Anselmo disse:
- “Triwa met te relhe!”.  É uma expressão em alemão que significa relho neles!
Nelson não esperou uma segunda ordem.
Com o relhaço os bois puxaram com tanta força que o arado partiu ao meio.
Papai percebeu que os dois não tinham jeito para a roça. Graças ao seu bom senso permitiu que saíssem de casa para estudar. Anselmo foi professor, por algum tempo, em Campestre e depois teve casa comercial em Arroio Canoas. Nelson foi professor em Boa Vista e depois em Vila Scheid, hoje São Bernardino, no oeste catarinense, onde vive até hoje.


segunda-feira, 13 de junho de 2016

REENCONTRO



Encontrei-as morando no Rio de Janeiro numa casa luxuosa na praia de Búzios



REENCONTRO


REENCONTRO é o terceiro livro da trilogia que começa com HOMO SÁPIENS NO PLANETA AZUL, depois, ELIS MÃE DE DOIS MUNDOS e REENCONTRO.
Transcrevo para vocês um pequeno trecho de REENCONTRO, que ainda não foi editado

...Só despertamos desse êxtase altas horas da madrugada. Luna disse que estava com frio. Cobrimo-nos e a aqueci com meu corpo ainda desnudo. Assim dormimos até sermos acordados por Fernanda que estava se preparando para partir de volta para a Terra.
Apesar da tristeza imensa que nos acometia, tínhamos consciência de que a atitude de Áquilus era a mais acertada. Ele precisava agir racionalmente, nessa hora, o que nós não conseguíamos fazer devido ao componente emocional que inibia o nosso bom-senso. De um modo especial, para Luna e para mim, a separação era dolorosa. Amávamo-nos intensamente... 
Três anos depois, quando já me desincumbira da minha missão em Orus, Também voltei para a terra. A primeira coisa que fiz foi procurar Luna e Fernanda. Encontrei-as morando no Rio de Janeiro numa casa luxuosa na praia de Búzios. Na primeira manhã, levantei cedo, sentei na sacada que dava de frente para o mar e tomei meu chimarrão matutino como há muito tempo não fazia. As duas ainda dormiam e também, o pequeno Wuiliam. Eu estava absorto e embriagado com aquele cenário deslumbrante e não percebi a aproximação de Luna. Abraçou-me pelas costa e me beijou com ternura. Deu meia volta na cadeira giratória em que eu estava sentado de modo que ficamos frente a frente. Então vi que o menino estava com ela. Sentou-o no meu colo e lhe disse:
Vamos, Wuiliam! Dê um abraço no seu pai!
Demorei alguns instantes para entender o significado do que estava acontecendo.
Abraçamo-nos, os três, e juro que em toda a minha vida não vivi outro momento tão sublime. Luna disse que a noite de despedida, em Orus, rendeu-nos esse fruto maravilhoso.
Sei que esse relato está, totalmente, fora da ordem cronológica. Mas, com a devida desculpa do meu querido leitor, confesso que não consegui deixar para o final do livro essa revelação tão comovente e significativa.


terça-feira, 7 de junho de 2016

O SÓTÃO

A casa onde moro, antes, pertencia a meu pai e, antes ainda, a Pedro Käfer o pioneiro de Arroio Canos. 
 foi rolando escada abaixo provocando um grande alvoroço
Mamãe colocou vários punhados de pinhão na chapa 
"te xímel hot sich nomo kewenzelt”

Por várias manhãs os potreiros amanheceram brancos


O SÓTÃO


Já era junho e o inverno prometia ser rigoroso naquele ano. Por várias manhãs os potreiros amanheceram brancos. Lembro que em alemão dizíamos:
- “te xímel hot sich nomo kewenzelt”. O que significa:- “O tordilho branco rolou na grama do potreiro”.
Foi numa semana assim que a tia Clara veio passear.
A casa onde moro, antes, pertencia a meu pai e, antes ainda, a Pedro Käfer o pioneiro de Arroio Canos. Havia três quartos. Meus pais ocupavam um, as meninas outro, e mais um para nós os guris.
 Quando alguma visita vinha pousar aqui em casa, nós, os guris, tínhamos que ceder o quarto. Foi o que aconteceu, também, na semana da visita da Tia Clara. A mãe espalhou alguns colchões de palha de milho, “xtrohsak”, no sótão e foi lá que tivemos que nos alojar. Em geral não gostávamos desta situação, mas como era para a Tia Clara, ninguém reclamou. Somente um detalhe preocupava a nossa mãe. O irmão mais velho estava com conjuntivite. “Vai que ele passa frio naquele sótão e a doença piora!”, pensava ela. Menos mal que tínhamos várias cobertas de penas de ganso sobejando de modo que todos ficaram bem protegidos do frio.
Meu irmão mais velho sempre levantava mais cedo pois tinha como compromisso tratar toda a bicharada. Naquela manhã a conjuntivite estava mais aguda e as pálpebras estavam grudadas de tal modo que ele nada conseguia enxergar. Levantou assim mesmo para se desincumbir da sua tarefa com os bichos. Quando chegasse na cozinha lavaria os olhos. Como nada enxergava, foi tateando à procura da escada para descer do sótão. Confiava na sua intuição pois já descera aquela escada tantas vezes! Imaginando que já estivesse posicionado para pisar no primeiro degrau, deu o passo mas seu pé não achou o degrau e foi rolando escada abaixo provocando um grande alvoroço. Todos acordaram e vieram correndo para saber o que tinha acontecido.
 Depois de exaustivamente examinado pela Tia concluiu-se que nada de mais grave havia acontecido. Somente uma bola se formou na testa em consequência de uma batida num dos degraus da escada. Daí meu irmão se deu conta que, mesmo sem se lavar, os olhos estavam abertos.
Naquela manhã todos levantaram cedo pois ninguém quis voltar para a cama. Papai fez fogo no fogão a lenha e todos nos aconchegamos no seu entorno. Mamãe colocou vários punhados de pinhão na chapa e enquanto a cuia passava de mão em mão comíamos os pinhões que papai abria com um martelo próprio para isso que ele mesmo fabricara.

O assunto naquele dia foi o tombo do meu irmão.