voltava ao ataque dando a impressão que, desta vez, iria abocanhar o bicho |
como correr atrás da sombra dos urubus |
Bahito farejou e começou a cavar um buraco no meio da estrada. |
BAHITO
Creio
que nunca antes seu nome fora escrito. Mas achei que “BAHITO” tem muito a ver
com nome de cachorro.
Quando Pedro Chies nos
avisou fomos a Linha São João buscá-lo. Meu irmão Plínio e eu, pegamos um
atalho via Cafundó para encurtar o caminho.
O nome já fora escolhido uma semana antes. Foi
uma escolha nossa, meus dois irmãos mais novos e eu.
Ele era muito sensível e
por isso durante várias noites chorou de saudades. Bahito cresceu em tamanho
mas, no comportamento nunca deixou de ser criança. Era brincalhão, afável e
jamais teve uma atitude agressiva com quem quer que fosse. O Criador, ao
projetá-lo, caprichou no coração, mas se descuidou no cérebro. Bahito tinha uma
inteligência limitadíssima. Era uma ótima companhia para nós, mas meus irmãos
mais velhos e o pai estavam decepcionados. Fazia coisas que provocavam risadas
dos adultos como correr atrás da sombra dos urubus quando estes passavam voando.
Certa noite de inverno,
sentados ao redor do fogão, o pai sugeriu matá-lo.
-Serve para nada burro
do jeito que é.
Mas nós protestamos
veementemente e o assunto ficou por isso mesmo, até que um dia, de madrugada,
ele estava latindo feito um desesperado aí perto de casa.
- Será que finalmente
ele virou cachorro pensou papai?
Pegamos uma lanterna e a espingarda e fomos
ver. Ele latia e rosnava. Se aproximava da “fera” e em seguida recuava. Depois,
corajosamente, voltava ao ataque dando a impressão que, desta vez, iria
abocanhar o bicho. Por mais que olhássemos, nada podíamos ver o que deixava
Bahito tão enfurecido até que meu irmão percebeu que havia uma folha que se
mexia quando soprava uma lufada de vento. Era a hora que ele recuava. Quando o
vento parava, criava coragem e voltava ao ataque. Para a sorte dele a espingarda não estava com
papai porque, com certeza desta vez ele teria matado o nosso Bahito.
Numa outra ocasião, indo
para roça, vimos um gato do mato atravessar a estrada. Chamamos o Bahito e lhe
indicamos o local onde o gato tinha passado para que ele farejasse e seguindo o
rastro fosse perseguir o gato. Bahito farejou e começou a cavar um buraco no
meio da estrada.
Lembro com saudade do
nosso Bahito que, mesmo com um QI limitado foi, para nós uma ótima companhia e
motivo de muitas risadas para os adultos. Com certeza, ao ler este texto,
muitos dos prezados leitores se lembrarão de algum cachorro especial que fez
parte da sua infância.
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