terça-feira, 16 de junho de 2015

BAHITO

 voltava ao ataque dando a impressão que, desta vez, iria abocanhar o bicho

 como correr atrás da sombra dos urubus 

 Bahito farejou e começou a cavar um buraco no meio da estrada.




BAHITO

  Creio que nunca antes seu nome fora escrito. Mas achei que “BAHITO” tem muito a ver com nome de cachorro.
Quando Pedro Chies nos avisou fomos a Linha São João buscá-lo. Meu irmão Plínio e eu, pegamos um atalho via Cafundó para encurtar o caminho.
 O nome já fora escolhido uma semana antes. Foi uma escolha nossa, meus dois irmãos mais novos e eu.
Ele era muito sensível e por isso durante várias noites chorou de saudades. Bahito cresceu em tamanho mas, no comportamento nunca deixou de ser criança. Era brincalhão, afável e jamais teve uma atitude agressiva com quem quer que fosse. O Criador, ao projetá-lo, caprichou no coração, mas se descuidou no cérebro. Bahito tinha uma inteligência limitadíssima. Era uma ótima companhia para nós, mas meus irmãos mais velhos e o pai estavam decepcionados. Fazia coisas que provocavam risadas dos adultos como correr atrás da sombra dos urubus quando estes passavam voando.
Certa noite de inverno, sentados ao redor do fogão, o pai sugeriu matá-lo.
-Serve para nada burro do jeito que é.
Mas nós protestamos veementemente e o assunto ficou por isso mesmo, até que um dia, de madrugada, ele estava latindo feito um desesperado aí perto de casa.
- Será que finalmente ele virou cachorro pensou papai?
 Pegamos uma lanterna e a espingarda e fomos ver. Ele latia e rosnava. Se aproximava da “fera” e em seguida recuava. Depois, corajosamente, voltava ao ataque dando a impressão que, desta vez, iria abocanhar o bicho. Por mais que olhássemos, nada podíamos ver o que deixava Bahito tão enfurecido até que meu irmão percebeu que havia uma folha que se mexia quando soprava uma lufada de vento. Era a hora que ele recuava. Quando o vento parava, criava coragem e voltava ao ataque.  Para a sorte dele a espingarda não estava com papai porque, com certeza desta vez ele teria matado o nosso Bahito.
Numa outra ocasião, indo para roça, vimos um gato do mato atravessar a estrada. Chamamos o Bahito e lhe indicamos o local onde o gato tinha passado para que ele farejasse e seguindo o rastro fosse perseguir o gato. Bahito farejou e começou a cavar um buraco no meio da estrada.
Lembro com saudade do nosso Bahito que, mesmo com um QI limitado foi, para nós uma ótima companhia e motivo de muitas risadas para os adultos. Com certeza, ao ler este texto, muitos dos prezados leitores se lembrarão de algum cachorro especial que fez parte da sua infância.




Nenhum comentário:

Postar um comentário