segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

CRISES E CONFLITOS








CRISES E CONFLITOS


Arroio Canoas, no início da sua colonização, viveu uma situação peculiar; foi o ponto de encontro entre os alemães que vinham subindo a serra, e os italianos que vinham descendo.
 Se observarmos, com atenção, os movimentos migratórios ocorridos em Arroio Canoas podemos perceber que houve uma queda de braço entre as duas etnias para determinar quem ocuparia a região. É claro que isso não foi um movimento explícito e organizado.
Os alemães chegaram antes e ocuparam as terras do Sagrado, Coblens, Canoinhas e Navegantes. Os habitantes de toda a região formavam uma única comunidade religiosa católica, a do Sagrado Coração de Jesus. Os evangélicos também tinham uma comunidade religiosa onde hoje é Navegantes que, no entanto, não prosperou.
Cerca de vinte anos depois, vieram os italianos. Com a chegada deles muitos alemães retornaram para as suas localidades de origem. Em Coblens permaneceu a família Gräf, no Sagrado a família Käfer e em Navegantes a família Metz.
 Um pouco mais tarde muitos alemães: Schommer, Weschenfelder, Thums, Hensel, Gosler e outros voltaram, principalmente, para o Sagrado. Ai foi a vez dos italianos se retirarem. No Sagrado permaneceu a família de Santo Chies.
 Não sabemos, ao certo, o que determinou essa dificuldade de convivência. Certamente, a língua prejudicou a comunicação, a diferença de costumes e hábitos de convivência e outros aspectos da cultura determinaram essas atitudes preconceituosas.
 No entanto, segundo Diogo Guerra, a grande causa das intrigas entre as duas etnias foi uma disputa de domínio entre Jesuítas e Capuchinhos. A história registra que, em pouco tempo, Arroio Canoas trocou cinco vezes de paróquia entre Garibaldi, Tupandi e São Pedro da Serra. Essas trocas hora agradavam os italianos e hora, os alemães, criando toda essa situação de conflito. Os mais idosos contam que em determinada época, os ânimos ficaram tão exaltados que os domingos foram repartidos entre as duas etnias podendo ocupar a igreja e fazer seu culto e orações, alternadamente, os italianos e alemães. Essa situação criou muitas desavenças e abriu feridas que, ainda hoje, não estão, totalmente, cicatrizadas.
Porém, esses conflitos aconteciam no plano religioso mas não no relacionamento interpessoal. Lembro que meu pai tinha muitos amigos italianos. Especialmente, lembro de Giocondo Chies que vinha passear, ao menos uma vez por semana, na casa do meu pai. Lembro, também, do Velho Zan, nosso vizinho, e depois, Orestes Scottá com os quais mantínhamos um ótimo relacionamento.
 Porém, se essa situação, por um lado, nos criou dificuldades, por outro, fez com que o nosso povo desenvolvesse uma personalidade peculiar. Arroio Canoas, hoje, não é alemã e nem italiana; é as duas coisas. Temos, aqui, quatro comunidades que sofreram influências das duas etnias. Em Coblens, Canoinhas e Navegantes predominam os italianos e no Sagrado a influência alemã marca mais a população, seus costumes, cultura e tradições.  
Sei que, por ai afora, mora muita gente que ainda guarda viva, no seu coração, a chama do amor pela sua “terrinha”. Não deixe que se apague. guarde esse vínculo. Traga, também, seus filhos para os nossos eventos para que vejam as coisas bonitas que fazemos e, para que desenvolvam, também, o amor pela terra que é o berço da cultura dos seus antepassados.

 Por outro lado, está na hora de sepultarmos, definitivamente, as atitudes preconceituosas que fomos incentivados a desenvolver tornando-nos joguetes nas mãos das duas ordens religiosas.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

ARRISQUE SEMEAR

Contou sobre uma enorme abóbora que colheram de um pé que ela plantara.



Arrisque semear!




AS SEMENTES DO PADRE

"Este texto foi escrito em 2009"


Tudo começou na Festa do Centenário, em 1998. Sentamos e afinamos o nosso instrumental. A partir daí, afora algumas escaramuças, sempre mantivemos um bom nível de relacionamento com o nosso pároco.  Padre Asabido Ludwig nasceu e se criou na colônia, em Boa Vista, e conhece como poucos, o seu rebanho: a cultura, os costumes e tradições, a atividade profissional, os anseios e os temores, as superstições e crenças do nosso povo; tudo isso lhe é familiar.
Asabido traz toda essa realidade para dentro da igreja. E aí usa esse seu conhecimento para tornar seus ensinamentos atraentes e acessíveis ao povo simples. Longe de querer compará-lo com Cristo, mas, Ele, usava a mesma pedagogia para ensinar ao povo, valendo-se de parábolas baseadas no dia a dia do povo daquela época.
O “Alemão” é o nosso mecânico, e nas horas vagas, o nosso vereador. “Alemão” é o seu apelido, seu nome é Dalcir Ebelin. É casado com a Rosane filha de Luiz Ferrantti e Ermínia, moradores em Coblens, na Rua Pinheira.
 O casal tem duas joias raras: a Natiele e a Nicole.
Num dia desses a Nicole me contou uma história. Foi necessário o incentivo do pai para que soltasse o verbo.
 Contou sobre uma enorme abóbora que colheram de um pé que ela plantara.
-Plantei as sementes que o padre distribuiu na festa do Sagrado no ano passado. Plantei todas, mas só nasceu essa.
Naquela ocasião o Padre Asabido deu mais uma demonstração do seu talento para ensinar, a partir das coisas simples e acessíveis, para o nosso povo. E aquela menininha, ainda que não tenha conseguido entender a lição daquela analogia, guardará, para sempre, essa história no seu coração. E lembrará que aquela missa foi uma coisa boa e bonita. E as coisas boas e bonitas fazem bem para a nossa alma.
Quando você semeia nunca saberá quantas sementes vão vingar e nem aonde.

 Arrisque semear! Semeie idéias e esperanças. Semeie amor. Os resultados, muitas vezes, são surpreendentes e vêm da onde menos esperamos. 

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

A PROPRIEDADE DE TEOMIRO




moinho sendo restaurado
Além de instrutivo foi divertido

pontilhões

logo na entrada

Quatro arroios com cascatas


moinho sendo restaurado




Um mistério na propriedade de Teomiro


Este texto e de 2010.

 

Você conhece Teomiro Patzlaff? Teomiro é um senhor simpático que conheci num curso de Turismo em São Pedro da Serra. É proprietário de vinte e seis hectares de terra localizados em Campestre Baixo. Sua propriedade esconde um mistério. Há, lá, uma fundação que ninguém conhece a origem. Os mais antigos, como Artêmio Rauber, não sabem de que se trata. O enigma ainda não foi desvendado. Quando os primeiros moradores chegaram, a construção já estava lá. Há quem garanta que aquilo não é obra de seres humanos porque com a tecnologia da época seria impossível edificar paredes com requintes de perfeição como aquelas. As pedras se encaixam minuciosamente e os ângulos foram calculados com uma precisão matemática admirável. Quando pedi para Teomiro me levar à misteriosa construção ele alegou falta de tempo e difícil acesso. Talvez ele não quisesse revelar os segredos que aquela fundação esconde.
Teomiro pretende explorar a sua propriedade como ponto turístico. Fomos fazer uma visita para avaliar seu potencial e elaborar um plano de ação.
 A natureza foi generosa com a propriedade. Há três arroios com águas límpidas, e várias cascatas. Observamos uma diversidade biológica muito grande. A mata nativa está preservada o que é uma relíquia considerando ser um dos últimos resquícios da Mata Atlântica que, sabemos, está em extinção. Há, também, um moinho antigo que faz farinha de milho e que está sendo restaurado. O terreno favorece a implantação de trilhas e outras atividades como Rappel e arborismo.
 A atividade turística é complexa e exige investimentos públicos principalmente para garantir infra-estrutura e a coordenação de atividades, e investimentos privados para equipar os empreendimentos turísticos.
O curso tratou, principalmente, do Turismo Rural que tem como características principais a localização em área rural e em propriedades que exerçam esta atividade. Foi ministrado pela professora da Escola SENAC Bento Gonçalves, Janete Rotta Antunes que mostrou ter amplo conhecimento dos conteúdos desenvolvidos.
Aos anfitriões Gelcy, Patrícia e em especial à vice-prefeita Iara, nós e os nossos estômagos agradecemos sensibilizados. Mostraram-nos, na prática, como receber bem, arte esta que é um dos pilares de todo o empreendimento turístico bem sucedido.
Entre as várias pessoas que participaram do curso quero lembrar, especialmente, duas jovens bonitas, a Júlia e a Jéssica que estão cursando turismo na UCS e que com o seu conhecimento técnico contribuíram para o maior brilho do evento. Também quero lembrar duas senhoras, a Sueli e a Eloni que se mantinham um pouco reservadas, mas quando se manifestavam faziam-no com contribuições pertinentes falando baixinho e pausadamente.
 As três semanas de convívio com os colegas e professora me oportunizaram conhecer pessoas maravilhosas o que, certamente, marcará o início de uma amizade duradoura.
Teomiro, não esmoreças. A tua propriedade tem potencial, principalmente, pelo teu entusiasmo e determinação, pela natureza generosa e pelo mistério.  

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

A ESSÊNCIA É O QUE IMPORTA

Claudete com alguns dos seus filhos





A ESSÊNCIA É O QUE IMPORTA



Ser escritor é uma simples questão de treinamento. Todos nós temos histórias para contar, assuntos para discorrer. A nossa alma, muitas vezes, está ávida para compartilhar as coisas que vão no nosso íntimo; vivências, opiniões, aprendizados, segredos... A atividade de escrever é como qualquer outra: se aprende fazer fazendo.
Tenho uma amiga virtual que gosta de escrever.
A Claudete Brizola Palagi tem muita sensibilidade. Quando escreve põem o coração na ponta do lápis.
Repasso para vocês um dos seus textos:

A  ESSÊNCIA É O QUE IMPORTA


É muito fácil nos perdermos do essencial quando não enxergamos, apenas vemos.
Se não tomarmos cuidado, a vida passa por nós e não percebemos. Enxergar é saber observar o que realmente importa, o que realmente nos convém. Tenho percebido que a grande intenção do mal é nos cegar, colocar uma nuvem na nossa capacidade de enxergar, de reconhecer quem realmente somos.
 Uma pessoa que não se enxerga não avança, não cresce, não supera. Fica estacionada porque tem a incapacidade de se ver.
Preste atenção em você, em quem você é. Permita que o olhar que você tem sobre si seja verdadeiro. Pare de exigir de você aquilo que você não tem para oferecer, pois quando conhecer sua verdade terá a capacidade de crescer.
 Quando temos dificuldade de olhar para nós mesmos corremos o risco de assumir um personagem que não somos.
 Olhe-se, não tenha medo de quem você é. Abandone as suas ilusões e as substitua por esperança.
 Mas, se não souber lidar com suas verdades então corre o risco de desperdiçar sua vida com ilusões que não se realizam.
Quando não reconhecemos o que é pecaminoso em nós, machucamos o outro com o que temos de pior, nos acostumamos com o que é ruim, e fazemos o que é errado.

 Na realidade precisamos ativar nossa lente para olharmos nossas qualidades e também nossos defeitos. Somente assim seremos felizes, porque ninguém pode ser feliz distante de sua verdade!