domingo, 24 de março de 2013

As Caminhadas

achei uma cédula de dez reais na estrada

Achei uma cédula de dez reais na estrada

Uma nota de cem reais ficou presa num pé de milho entre o pendão e a espiga.

 alguns passos adiante encontrei mais uma, mas de vinte reais.
Casa de Gilberto Käfer



AS CAMINHADAS


Se as gerações passadas pudessem voltar, certamente, achariam ridículos muitos hábitos da vida moderna. No tempo deles, por exemplo, se caminhava para ir de um lugar para outro. Percorriam, até, quinze Km, a pé, para irem aos bailes na vizinhança e achavam isso uma coisa muito natural.
As caminhadas, hoje, são uma prática corriqueira. Os médicos as recomendam para compensar a falta de exercícios da vida sedentária moderna. Com alguma relutância no início, acabei aderindo, também, à prática. Caminho sete km todos os dias. Além dos benefícios à saúde, a caminhada é um momento de relax e lazer. Já escrevi um texto “As Flores do Campo” observando detalhes durante o trajeto que de outra maneira, certamente, passariam despercebidos.
O fato que hoje vou narrar, também, aconteceu durante uma dessas caminhadas.
 Ainda era de manhã bem cedo, quando próximo à casa do Gilberto achei uma cédula de dez reais na estrada. Recolhi a cédula e alguns passos adiante encontrei mais uma, mas de vinte reais. Um pouco adiante, uma de cinquenta e depois outra, porém, de cem reais. Então pensei cá com os meus botões: se existissem, a próxima cédula seria uma de quinhentos reais. Pois pasmem, aí, bem no meio da estrada, um cheque de quinhentos reais. E mais adiante mais um, de mil.
Recolhi tudo e fui falar com o Gilberto que acabara de levantar. Ele havia voltado da CEASA na noite anterior e ao desembarcar, todo aquele dinheiro lhe caiu do bolso. Durante a noite o vento norte se encarregou de espalhar aquela dinheirama toda. Descemos até a estrada para procurar mais dinheiro e numa roça aí perto a gurizada achou mais. Uma nota de cem reais ficou presa num pé de milho entre o pendão e a espiga.
Dias depois, o Gilberto veio agradecer e disse que contou o caso na CEASA. Então, um amigo ficou muito impressionado, não com o acontecido, mas com o fato de eu ter devolvido o dinheiro.
Esta história é verdadeira e aconteceu exatamente como a contei. Se alguém duvidar o Gilberto é testemunha. Foram achados nada menos que dois mil e quinhentos reais. 





terça-feira, 19 de março de 2013

ERMINDO ROESLER

 Roesler tinha uma caminhonete Ford ano 1948 com carroceria de madeira
que era considerada um artigo de luxo na época

Ermindo Roesler “Roesla Mind” era um homem proeminente na comunidade

A propriedade, hoje, pertence a Remo e Ilaine Roesler

Residencia de Remo e Ilaine

É um lugar maravilhoso e bem cuidado com açudes e belos gramados

Antigoa residencia de Ermindo

É um lugar maravilhoso e bem cuidado com açudes e belos gramados




ERMINDO ROESLER

Quando Salvador do Sul se emancipou de Montenegro, em 1963, houve muitas comemorações. Organizou-se uma carreata para recepcionar a Comissão Emancipadora que fora a Porto Alegre presenciar a assinatura da lei que criou o município.
Em Campestre, também, a euforia tomou conta da população que, entusiasmada, saiu às ruas para comemorar. Ermindo Roesler “Roesla Mind” era um homem proeminente na comunidade e ele tratou de organizar um grupo de amigos para acompanhar a carreata. Roesler tinha uma caminhonete Ford ano 1948 com carroceria de madeira que era considerada um artigo de luxo na época. Tinha três bancos e espaço para dezesseis passageiros.
 Quando a carreata passava por um povoado, a comitiva largava foguetes em sinal de alegria e entusiasmo pela conquista. Anselmo Hentz, hoje falecido, acendia os foguetes e os largava pela janela. Na subida do Morro do Kauereck o vento ficou frio e alguém empurrou o vidro fechando a janela. Ao passar por Linha Bonita Anselmo acendeu mais um foguete, mas, para seu desespero, viu que a janela estava fechada. O foguete numa disparada maluca foi dando voltas hora por baixo dos bancos, hora por cima da cabeça dos passageiros deixando atrás de si um risco de fumaça e de fogo. Por fim, se alojou em baixo do banco de Ermindo onde explodiu. O ar, na caminhonete, estava irrespirável e o estrondo ensurdecedor da explosão deixou os ouvidos de todos zunindo. Ermindo conseguiu parar o carro e então se virou para os passageiros e disse em alemão: “iets ist´s awa mol bal genuch!”(isto agora já é demais!).
Fui a Campestre em busca de dados para escrever este texto. Ermindo faleceu em 1986. A propriedade, hoje, pertence a Remo Roesler, filho mais novo de Ermindo, e casado com Ilaine. É um lugar maravilhoso e bem cuidado com açudes e belos gramados. Lá, no seu tempo, Ermindo foi agricultor e fabricava queijo. Foi, também, vereador em Salvador do Sul por dois mandatos.
Agradeço ao casal pelas informações e pela carinhosa acolhida. Agradeço, também, ao José Lef por me indicar o caminho, e pelas informações tão úteis para contar esta história.

domingo, 10 de março de 2013

UM FATO PITORESCO

 muitos foguetes foram estourados como sinal de alegria
Casa de Guido onde aconteceu o acidente



O Fix, que era ainda pequenino, só levava dois foguetes,
um em cada mão.

Sempre havia algo para ser inventado. 



UM FATO PITORESCO.



Quando os filhos do Guido eram pequenos, os tempos eram  diferentes. As crianças tinham que usar a criatividade para brincar. Não havia brinquedo comprado. Com bananeiras faziam bois, carroças e casas. Laranjas se transformavam em bolas de futebol ou pegavam uma meia velha e a enchiam com panos e palha. Corriam atrás de preás, procuravam balões de abelhas para chuparem o mel e caçavam passarinhos. Sempre havia algo para ser inventado. Qualquer coisa era transformada em brinquedo.
 Certe vez, houve uma grande comemoração na comunidade. Nosso Clube havia se sagrado campeão mais uma vez. E, como acontece nestas ocasiões, muitos foguetes foram estourados como sinal de alegria pela conquista e, também, para provocar os adversários.   No dia seguinte, a gurizada foi juntar os foguetes que haviam sido estourados durante as comemorações. Os guris do Guido é que, por primeiro, se deram conta de que aqueles foguetes estourados poderiam servir para alguma coisa. De manhã, bem sedo, os quatro subiram ao clube e recolheram tudo o que conseguiram carregar para casa. Quem comandou a operação foi o Antenor, o mais velho. Encheram três sacolas e muito felizes foram para casa. O Antenor o Eitor e o Ili, que estava em casa de férias, carregaram as sacolas, e o Fix, que era ainda pequenino, só levava dois foguetes, um em cada mão.
 Naquela semana havia muito para brincar. Festejaram conquistas, casamentos, festas e, também, o kerb. Porém, depois de uma semana, aquilo já não tinha mais graça. Então, o Eitor teve a ideia de queimar os foguetes no fogão à lenha onde a mãe estava fazendo a comida. Eram onze horas quando se ouviu um estouro fenomenal. A mãe havia saído para recolher os ovos e ao voltar, quando entrava pela porta da cozinha com os ovos, aconteceu a explosão. Entre os foguetes havia um que, ainda, tinha estourado. Os anéis do fogão, a panela de feijão e todo o almoço foram pros ares. A comida estava espalhada por toda a cozinha. Um bife estava grudado no teto e outro no vidro da janela. Com o susto a mãe largou o balaio e todos os ovos se quebraram.
 Por sorte ninguém se feriu e o fogão não sofreu danos significativos. Na casa de Guido, naquele dia, só se comeu pão na hora do almoço. Sequer, sobrou um ovo para fritar.

segunda-feira, 4 de março de 2013

UMA EXPERIÊNCIA TEMERÁRIA

O meu cabelo ficou reto em pé
como se tivesse feito um penteado Punk.


Comprei um tonel novo num posto de gasolina
 e tratei de prepará-lo para a experiência

UMA EXPERIÊNCIA TEMERÁRIA








O fato que vou contar aconteceu comigo. Há alguns anos, li numa revista sobre fontes alternativas de energia. Entre outras, tratava do biogás. Interessei-me porque parecia ser um processo simples e porque a matéria prima para produzir o gás era o estrume de vaca abundante nas propriedades agrícolas.
Decidi então fazer uma experiência, em pequena escala, para comprovar a tecnologia e mostrar aos colonos os benefícios do biogás e sua viabilidade. Comprei um tonel novo num posto de gasolina e tratei de prepará-lo para a experiência. Encheria o tonel com estrume, e com a fermentação o gás se formaria e se acumularia na parte superior do tonel. Para dar vazão ao gás teria que fazer um furinho na parte superior e soldar um canudinho de metal onde encaixaria a mangueira para conduzir o gás para onde quisesse. Fiz o furinho sem problemas, mas quando aproximei o maçarico aceso para fazer a solda houve uma grande explosão. Havia restos de tíner no tonel que, com a chama, incendiou e fez o tonel explodir. O estouro foi ouvido a três km de distância. Com a explosão o fundo do tonel foi arrancado e bateu violentamente contra uma parede de alvenaria e depois subiu, furando o telhado. No dia seguinte encontraram o tal fundo do tonel na roça do Miguel Royer a uma distância de mil metros. Quando o fundo bateu na parede saltou areia do reboco que me atingiu no rosto com tal violência que fiquei com o rosto todo ensanguentado. O meu cabelo ficou reto em pé como se tivesse feito um penteado Punk. Levaram-me para o hospital do jeito que eu estava. Por azar me encontrei com  o meu amigo Verealdo que se espantou vendo-me naquele estado. Ainda hoje dá risadas quando se lembra do fato e da minha aparência. Por sorte tudo não passou de um grande susto. Uma enfermeira muito carinhosa passou iodo no meu rosto e deu um jeito nos meus cabelos.
Mas não desisti da ideia. Dias depois construí o meu biodigestor. Enchi uma câmera de caminhão com o biogás que ficou esquecido no depósito do Vanderlei por muito tempo. Um dia ele me contou que abriu a válvula da câmera e pôs fogo na saída. Na medida em que o gás saia produzia uma chama azulada.
A experiencia deu certo, porém o método não era funcional por causa da dificuldade de abastecer o tonel com estrume.