UMA SEMANA ESPECIAL
TIA CLARA
UMA SEMANA MUTO ESPECIAL
Era verão e época de férias. Estávamos ansiosos naquela segunda feira porque a Tia Clara viria nos visitar mais uma vez. Porém, desta vez, havia motivos adicionais: ela ficaria a semana toda e traria o Aristides, um dos filhos da família que morava na frente do terreno onde Tia Clara comprara os fundos e se construíra uma casinha. Ela morava lá desde muito tempo e viu os filhos daquele casal crescerem, e os amava como seus próprios filhos.
Então o ônibus parou em frente a nossa casa. O Getúlio desceu primeiro para tirar as malas do bagageiro e em seguida, o Aristides e por fim, Tia Clara. Subimos correndo para abraçá-los e ajudar com as malas onde, com certeza, a Tia também trazia os nossos presentes, coisa que ela jamais esquecia.
Naquele dia tivemos pouco tempo para brincar com o nosso amigo. Somente alguns chutes com a bola que fora um dos presentes da Tia. Nós não tínhamos muita habilidade com a bola, mas o Aristides era um craque. Fazia jogadas incríveis, nos driblava do jeito que bem entendia e empilhava gols um atrás do outro numa goleirinha que improvisamos no pátio da nossa casa. De noite, a Tia nos contou que ele estava freqüentando a Escolinha do Grêmio e tinha potencial para se tornar um craque e dar muitas alegrias à torcida tricolor.
Tia Clara era gremista. Nós não sabíamos bem o que significava ser gremista, mas como ela era, então devia ser uma coisa boa e por isso todos nos tornamos, também, gremistas.
De manhã, levantamos cedo e, a pedido do amigo, fomos para a estrebaria onde as vacas dormiam. Aí o Aristides, na sua ignorância de menino da cidade, queria saber sobre muitas coisas que ele não conhecia. Depois de vários esclarecimentos quis saber, também, o que era aquilo ali.Expliquei-lhe que era o banquinho para tirar leite. Por um momento ele ficou pensativo e então perguntou como fazíamos para sentar a vaca num banquinho tão pequeno. Rimos até não poder mais deixando o nosso amigo encabulado.
Mas a desgraça maior ainda estava por acontecer. Quando a nossa irmã desceu para tirar o leite eu ia segurar o rabo da vaca para não atrapalhar enquanto ela tirava leite. Então, muito prestativo, Aristides se ofereceu para fazer o meu trabalho porque isso era uma novidade para ele. De repente, a vaca, com as duas patas traseiras, deu dois passos para frente, encurvou a coluna e tentou levantar o rabo que Aristides segurava. Para o azar e a desgraça do menino a vaca estava com diarréia. O desfecho do episódio não vou contar porque o prezado leitor pode imaginar o que aconteceu. O nosso amigo estava desesperado. Foi despindo suas roupas melecadas e enquanto corria para o banheiro vomitou todo o café que acabara de tomar. Durante meia hora ficou em baixo do chuveiro se esfregando com sabonete e passando perfume para tentar tirar o cheiro horrível que impregnava sua pele.
A desgraça do menino foi motivo para muitas risadas durante toda a semana. No começo Aristides se incomodava com as brincadeiras, mas depois levou na esportiva e ria, também, da experiência inusitada que vivenciara.
Na nossa infância nunca tivemos mordomias e nem confortos. Trabalhávamos na roça desde pequenos e tudo era conseguido com muito trabalho e sacrifício. Porém, foram anos felizes e recordo, com saudades, este e muitos outros fatos que ilustram a maneira saudável como fomos criados.