SÃO BERNARDINO
Conheci São Bernardino em 1968. Algumas choupanas e uma rua empoeirada no verão e barrenta nos dias de chuva. Naquele tempo, ninguém podia dar-se ao luxo de cultivar um jardim ou pintar sua casinha. A ordem era trabalhar. As dívidas precisavam ser pagas. Não havia qualquer tipo de incentivo governamental. Cada vintém tinha que ser arrancado da roça. E aí no meio do mato, afastado de tudo, os colonos precisavam se bastar. O homem tinha sobre seus ombros o peso da responsabilidade de fazer prosperar o seu empreendimento. Ele viera atrás de um sonho e impulsionado pelo espírito aventureiro embrenhara-se neste mundo selvagem onde não havia um mínimo de conforto.
Mas, as mulheres foram as mais sacrificadas, por que eram arrancadas do seu mundo para acompanhar o sonho do marido que nem sempre era o seu. Ela precisava esquecer o conforto, a segurança, a vaidade natural de toda mulher, anular seus anseios para se amalgamar ao projeto do marido. E além de toda a lida doméstica, ajudava na roça porque era necessário produzir, produzir e produzir.
Visitei algumas famílias e em cada rosto desses pioneiros pude ver a marca da dureza daqueles primeiros anos, e no olhar a saudade das “velhas colônias” que ficaram para trás. E então a visita, que deveria ser rápida, se estendia porque queriam saber de tudo e de todos.
No início a localidade era conhecida como “Vila Scheid” porque Aldino Leo Scheid foi o pioneiro e colonizador da região. Ele mesmo, em determinada ocasião, mudou essa denominação para São Bernardino por que o seu aniversário coincidia com o dia dedicado a São Bernardino.
Os primeiros colonos vieram em 1958 e em 1968 já 90 alunos frequentavam a escola. Algumas coisas, lá no início, eram importantes para a comunidade: casa comercial, escola, igreja e uma serraria. Nelson Hentz contou-me que Friedhold Joao Walker teve uma serraria. Ele foi um homem importante na comunidade a ponto de merecer uma homenagem: o ginásio de esportes recebeu seu nome.
Esses pioneiros, muitos ainda vivos, são os verdadeiros heróis de São Bernardino. Eles, em trinta anos transformaram humildes choupanas em mansões, estradas empoeiradas e lamacentas em ruas asfaltadas e um aglomerado de vinte casinhas humildes numa cidade encantadora. A população é educada e simpática e ao andar pelas ruas as pessoas me cumprimentavam com um cortês “bom dia”, “boa tarde” ou “boa noite”.
Alguns pioneiros: Schneider, Riffel Krindges, Wolfard, Fusinger, Ludwig, Fritzen, Weschenfelder, Haupentahl, Walker, Hentz e muitos outros.
Contei um pouco da história de São Bernardino. Se mudássemos, somente, os nomes ela caberia em centenas de localidades espalhadas pelo oeste de S. Catarina, Paraná, Mato Grosso e hoje até no Paraguai. E em cada coração desses aventureiros ainda palpita o amor pelo Rio Grande presente no chimarrão, Grêmio e Colorado, CTGs e na música tradicionalista.
Minha homenagem ao povo de São Bernardino e a todos os pioneiros dessa região toda.