segunda-feira, 29 de agosto de 2022

SÃO BERNARDINO Santa catarina

SÃO BERNARDINO

 

 

 

Conheci São Bernardino em 1968. Algumas choupanas e uma rua empoeirada no verão e barrenta nos dias de chuva. Naquele tempo, ninguém podia dar-se ao luxo de cultivar um jardim ou pintar sua casinha. A ordem era trabalhar. As dívidas precisavam ser pagas. Não havia qualquer tipo de incentivo governamental. Cada vintém tinha que ser arrancado da roça. E aí no meio do mato, afastado de tudo, os colonos precisavam se bastar. O homem tinha sobre seus ombros o peso da responsabilidade de fazer prosperar o seu empreendimento. Ele viera atrás de um sonho e impulsionado pelo espírito aventureiro embrenhara-se neste mundo selvagem onde não havia um mínimo de conforto.

Mas, as mulheres foram as mais sacrificadas, por que eram arrancadas do seu mundo para acompanhar o sonho do marido que nem sempre era o seu. Ela precisava esquecer o conforto, a segurança, a vaidade natural de toda mulher, anular seus anseios para se amalgamar ao projeto do marido. E além de toda a lida doméstica, ajudava na roça porque era necessário produzir, produzir e produzir.

Visitei algumas famílias e em cada rosto desses pioneiros pude ver a marca da dureza daqueles primeiros anos, e no olhar a saudade das “velhas colônias” que ficaram para trás. E então a visita, que deveria ser rápida, se estendia porque queriam saber de tudo e de todos.      

No início a localidade era conhecida como “Vila Scheid” porque Aldino Leo Scheid foi o pioneiro e colonizador da região. Ele mesmo, em determinada ocasião, mudou essa denominação para São Bernardino por que o seu aniversário coincidia com o dia dedicado a São Bernardino.

Os primeiros colonos vieram em 1958 e em 1968 já 90 alunos frequentavam a escola. Algumas coisas, lá no início, eram importantes para a comunidade: casa comercial, escola, igreja e uma serraria. Nelson Hentz contou-me que Friedhold Joao Walker teve uma serraria. Ele foi um homem importante na comunidade a ponto de merecer uma homenagem: o ginásio de esportes recebeu seu nome.

Esses pioneiros, muitos ainda vivos, são os verdadeiros heróis de São Bernardino. Eles, em trinta anos transformaram humildes choupanas em mansões, estradas empoeiradas e lamacentas em ruas asfaltadas e um aglomerado de vinte casinhas humildes numa cidade encantadora. A população é educada e simpática e ao andar pelas ruas as pessoas me cumprimentavam com um cortês “bom dia”, “boa tarde” ou “boa noite”.

Alguns pioneiros: Schneider, Riffel Krindges, Wolfard, Fusinger, Ludwig, Fritzen, Weschenfelder, Haupentahl, Walker, Hentz e muitos outros.

Contei um pouco da história de São Bernardino. Se mudássemos, somente, os nomes ela caberia em centenas de localidades espalhadas pelo oeste de S. Catarina, Paraná, Mato Grosso e hoje até no Paraguai. E em cada coração desses aventureiros ainda palpita o amor pelo Rio Grande presente no chimarrão, Grêmio e Colorado, CTGs e na música tradicionalista.

Minha homenagem ao povo de São Bernardino e a todos os pioneiros dessa região toda.

 

segunda-feira, 22 de agosto de 2022

PERÍODO DOS DESCARTÁVEIS

 



 

 

PERÍODO DOS DESCARTÁVEIS

 

Os historiadores costumam dar nomes próprios a determinados períodos da nossa caminhada aqui na terra. Temos, por exemplo, a “Idade da Pedra Lascada” assim denominada porque lá nos primórdios, o homem fazia objetos de corte lascando pedras. Depois veio a “Idade da Pedra Polida”, a “Idade dos Metais”, “Era do Gelo”, “Revolução Industrial”, e assim por diante. Talvez, no futuro, a época atual seja conhecida como “Era dos Descartáveis”.

Nos últimos trinta anos a tecnologia evoluiu com tanta rapidez que mal nos acostumamos com uma novidade e já nos é apresentada outra tornando obsoletas coisas que há bem pouco tempo eram a expressão máxima da tecnologia. Vejam, hoje, já estão nas prateleiras dos museus o disco de setenta e oito RPM, o disco de vinil, a fita K7. Até CDs e DVDs estão sendo substituídos por Pen drives. Hoje já podemos salvar nossos arquivos na “nuvem”. Fala-se em “Internet das Coisas”, em “Big Data”. São tudo novidades sobre as quais sequer ouvimos falar mas que em pouco tempo farão parte do nosso dia a dia.

As pessoas mais antigas têm dificuldade para se adaptar a esta nova realidade. Consideram um desperdício, por exemplo, os copos descartáveis. Veem, nos bailes e festas, milhares de copos usados uma única vez e depois jogados no lixo.

Conheço pessoas que remendam chinelos de dedo quando a tira arrebenta. Trago comigo a lembrança de um amigo muito especial, o Astor Haubenthal, hoje falecido. Quando fui visitá-lo ele remendou meu chinelo porque a tira havia arrebentado. Já faz mais de dois anos e continuo usando o chinelo.

Não é raro ver jovens com coleções de vinte ou trinta pares de tênis. Em épocas passadas as pessoas tinham um par de sapatos. A cada pouco, a moda muda, o celular recebe um acréscimo, o automóvel vem com novos detalhes ou recebe uma nova tecnologia. Sabemos que por trás de tudo isso estão os meios de produção. A economia precisa girar, dizem os economistas.

Mas essa ânsia por mudanças não ficou só no plano material. Uma vez os relacionamento eram duráveis. O prezado leitor deve conhecer pessoas que já estão no seu terceiro ou quarto relacionamento. Não é raro “casamentos” durarem dois, ou até, menos anos. Ouvi uma mocinha dizer que conheceu uma porção de novos amigos. Perguntei pelo nome deles. Ela não lembrava. Uma vez amigo significava outra coisa.

A palavra desapego está na moda. Alguém inventa uma frase e todos aceitam isso como definitivo e certo. Somos imitadores e por aceitação social procuramos acompanhar a boiada.

Este texto não tem a pretensão de julgar, mas sim constatar fatos. Acho que estamos numa crise, mas como sempre sairemos dela melhores do que entramos.

 

terça-feira, 9 de agosto de 2022

O TEMPO Contar o tempo

ampulheta

 

Papa Gregório XIII



 

  O TEMPO

 Contar o tempo

 

Aferir o tempo é uma invenção do homem. Apesar de não ser próprio da natureza humana, desde muito, o homem se preocupou em contar o tempo.

Sabemos que alguns índios usavam “luas” como unidade para medir o tempo. Já ouvi falar em “taquaras” para determinar a idade de uma pessoa.

 Um dos mais antigos instrumentos de contagem do tempo é a ampulheta, ou relógio de areia.

 O Calendário que hoje está em vigor na maioria dos países é o calendário “Gregoriano”, em homenagem ao Papa Gregório XIII que o adotou oficialmente em 24/02/1582.

Imagino que, lá nos início da humanidade, não se contava o tempo. Simplesmente se vivia a vida. Hoje, você precisa se comportar conforme o seu tempo.

 Existe um espírito dentro de nós que detém o poder da vida. Aliás, somos este espírito. O corpo é somente a habitação. Ele não obedece à contagem do tempo. Quem envelhece não somos nós, é a nossa morada, o nosso corpo. O espírito é eterno e não degenera.

O preconceito social é que nos impõem limites. A sociedade nos padroniza; com determinada idade a criança deve caminhar; não é normal que a criança não fale aos dois ou três. Para tudo estabelecemos limites baseados na idade cronológica dos indivíduos. E quem foge desse padrão não é normal. Se você tem dezoito não pode namorar uma mulher de quarenta. Não importa o sentimento, importa a diferença de idades. Estabelecemos um tempo para ir à escola, poder dirigir, votar, casar e morrer.

Essa contagem é que determina o que deve acontecer nas nossas vidas. Não respeitamos a natureza de cada um.  Você fica ansiosa se, aos quatorze, ainda não ficou mocinha. O que diriam se soubessem que aos dezoito ainda é virgem e aos vinte e cinco não achou alguém para namorar? Se aos trinta e cinco ainda não tem filhos? Não tem uma profissão?

De repente você se dá conte que já está em idade de morrer e então se conforma e desiste dos sonhos, dos planos, não porque não tem saúde e disposição, mas porque foi estabelecido que com essa idade já é hora de abandonar tudo e se preparar para morrer.

A contagem do tempo é perversa. Se pudéssemos deixar a natureza conduzir as nossas vidas, sem pressões, sem julgamentos... Se pudéssemos conduzir nossas vidas sem o pré-estabelecido respeitando o ritmo que a natureza estabeleceu para cada indivíduo, sem ansiedade respeitando o tempo de maturidade de cada um...

Nós somos um espírito, e espírito não conta o tempo, não tem idade.