LEDO ENGANO
Ele era poderoso. Homem rico e influente na política da república.
Então houve um escândalo. O sujeito matou a própria esposa. O processo se estendeu por um longo tempo. Muitas diligências e Investigações. Promotores, advogados, evidências e provas. O fato ganhou notoriedade nacional. Houve debates na imprensa e todos acompanhavam o caso.
Os promotores conseguiram reunir provas e evidências irrefutáveis. Ninguém mais duvidava da culpa do réu. Então veio a sentença:
- Condenado a 30 anos de prisão e perda dos direitos políticos.
O povo respirou aliviado.
Finalmente um graúdo na prisão! A justiça, agora, valia para todos. Um homem rico e poderoso estava preso.
O povo foi para as ruas festejar. Orgulhosos, portavam a bandeira e as cores da república. Num grande cartaz lia-se:
- “AINDA HÁ JUÍZES NA REPÚBLICA”.
O cartaz fazia alusão a famosa frase do Moleiro de Sans-Souci, imortalizada por François Andrieux: “AINDA HÁ JUÍZES EM BERLIM”.
A história conta que um oleiro era proprietário de um moinho aonde Frederico II, (Friedrich der Große), rei da Prússia, pretendia construir seu palácio de verão. O caso foi parar na justiça e o oleiro teve ganho de causa. Então ele teria proferido o ditado que ficou famoso: “AINDA HÁ JUÍZES EM BERLIM”.
Mas na república os advogados de defesa não dormiram. Reviraram a constituição, dissecaram leis, vasculharam decretos e jurisprudências em busca de alguma brecha. E acharam:
De acordo com a peça acusatória, o réu teria cometido o crime no quarto. A defesa encontrou evidências de que não foi no quarto, mas sim na cozinha. Baseados neste fato pediram a anulação do processo.
O condenado era muito rico e poderoso, e os juízes não eram os de Berlim.
O povo cabisbaixo voltou para casa.
A república viveu breves momentos de eufórica esperança.
LEDO ENGANO.
Espero, um dia, poder contar o final dessa história. Isso se até lá ainda estiver vivo.
Um conto de ficção. Qualquer semelhança é mera coincidência.
Perfeito como sempre! Certeiro! Amo seus textos!
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