O VELHO E A GRAVIDES DE DORA
Você faz ideia do que seja o tempo? Para alguns seres vivos um dia é uma vida toda. Usamos os ciclos para a contagem do tempo. Se a terra não girasse como contaríamos os dias, horas minutos e etc.?
Os ciclos são as pulsações do universo. Sem pulsações não haveria vida. Quando o eletrocardiograma não acusa mais pulsações é decretada a morte. Até a matéria, aparentemente inanimada, tem pulsações. Seus átomos estão em constante movimento.
As vezes nos damos conta de que estamos diante de um milagre; o milagre da volta. É quando percebemos que a natureza soberana retoma seu lugar depois de agredida e, aparentemente, subjugada. Aquela gravidez era efetivamente um milagre.
Ah o tempo! Afinal, o que importa o tempo? A natureza tem mil caminhos para trilhar, anos e séculos para esperar! Se a prepotência do homem cria obstáculos, com toda a paciência, a natureza os contorna. Sem pressa e sem alarde elege outro caminho. Ela é perfeita e insubjugável. Ela é frágil como uma criança recém-nascida, uma flor desabrochando e ao mesmo tempo, tem o poder aniquilador de um tufão, a força de uma tempestade. Ela irá retomar a soberania mesmo que para isso tenha que se valer de crueldade. Sofre, calada, os abusos de mil gerações e se vinga de uma só porque somos um tecido único desde o princípio. Quando parece derrotada ressurge vigorosa onde ninguém poderia imaginar. Ela é mestra por excelência. Ainda que nos indique caminhos aparentemente absurdos, seus ensinamentos acabarão prevalecendo.
Diante da gravidez de Dora o Velho ficou um longo tempo ajoelhado em compenetrado silêncio. Queria vivenciar, intensamente, esse momento do qual, talvez, somente ele tinha a exata noção do verdadeiro alcance. Estava diante do improvável, do surpreendente, diante de um milagre.
(Texto extraído do livro “REENCONTRO” pag. 113)