domingo, 18 de outubro de 2020

VESTIDA DE NOIVA II



 

 

 

 

 

VESTIDA DE NOIVA

 

O universo é composto por um número infinito de elementos. Podemos chamar a isso de natureza. Em geral, natureza, para nós, é a terra com todos os seus elementos; ar, água, solo, matas, minerais e etc., mas ela é muito mais. É todo o universo, o espaço infinito e todos os corpos que o habitam convivendo em harmonia. Planetas, sois, cometas, satélites, tudo se move numa dança perfeito sempre em busca do equilíbrio.

O Grande Arquiteto fez tudo isso. Não somente confeccionou os elementos, mas traçou um caminho evolutivo, rumo à perfeição. O universo não está parado. Move-se num constante vai e vem, e por meio de tentativas, de recuos, recomeços, e de aprendizados vai em busca da harmonia.

 Quando algo, na natureza não funciona ela é descartada. O que faríamos, hoje, com os dinossauros? Algumas coisas precisam ser extintas para possibilitar outras. Não há dogmas. Tudo, na natureza, está sujeito ao processo de aprendizado por tentativas. E como fazemos parte dessa natureza também estamos envolvidos neste processo evolutivo.

 No começo habitávamos cavernas. Descobrimos que era mais confortável sentar numa pedra do que simplesmente no chão. A cadeira é o resultado de um longo aprendizado.

Quando observamos a natureza, pode parecer que há exageros e desperdícios. Estamos na primavera e nesta época as plantas se preparam para procriar e garantir a sobrevivência da espécie. Repare na quantidade de flores de uma ameixeira. Pela janela da minha cozinha a vejo toda enfeitada. Milhares de flores brancas, tal qual uma noiva. Bastariam meia dúzia delas para produzir uma semente. Todas as outras serão descartadas. Numa ejaculação somente um esperma vai fecundar o óvulo. Os outros milhares são rejeitados.  Todo esse exagero tem um único fim; perpetuar a espécie.

Mas nós também participamos da criação. Somos “coarquitetos” do universo. Quando criamos um objeto ele passa a ter um espírito, mesmo que, aparentemente, morto. imagine-se numa sala grande sem objeto algum. objetos vivem, reagem e emanam no ambiente suas vibrações. Uma casa não habitada aos poucos falece. Seu espírito precisa de interação.

Algumas reflexões a partir de uma ameixeira vestida de noiva.

 

 

 

segunda-feira, 12 de outubro de 2020

HÉRCULES -2





 



 

 

HÉRCULES -2

 

 

Ele era preto como a noite. Foi parido num dia frio e chuvoso de inverno por uma cadela de rua que revirava as latas de lixo a procura de algo para comer. Juntamente com ele nasceram mais três irmãozinhos que, no entanto, não sobreviveram devido ao rigor do inverno daquele ano.

 

Quando Miguel abriu a porta para descer do carro um filhote de cachorro saltou para dentro e se escondeu debaixo do banco. O pai de Miguel, às vezes, vinha para a cidade e naquele dia levou o filho, de nove anos, para passar uns dias na casa de um primo.

O pai tentou tirar o filhote de dentro do carro, mas Miguel, usando todos os argumentos do seu repertório, conseguiu convencer o pai a levar o cachorrinho para casa e adotá-lo.

Hércules, este foi o nome que o menino escolheu, logo se adaptou a nova morada e cresceu forte e saudável. Seu novo lar era uma pequena propriedade rural onde ele tinha espaço para correr e desenvolver todas as suas habilidades. Corria atrás de preás, caçava camundongos, ia junto para a roça, enfim tinha uma vida para fazer inveja a qualquer cachorro.

Só de uma coisa não gostava. Botaram-lhe, no pescoço, uma coleira. Acontece que às vezes ele tinha que ser amarrado para não estragar alguma plantação ou, principalmente, quando uma cadela na vizinhança entrava em cio. Então, toda a cachorrada comparecia e a disputa pela cadela era acirrada. Várias vezes, Hércules voltou para casa todo esfolado.

Quando Miguel soube que uma cadela estava em cio, pegou o cachorro e o amarrou no para-choque do carro. A vovó, sentada no seu quarto, da janela observava toda a movimentação quando viu o pai embarcar no carro. Imaginando o que estava prestes a acontecer, ainda, gritou mas ninguém ouviu seus apelos. No início Hércules conseguia acompanhar, mas logo o carro imprimiu velocidade e o coitado foi sendo levado de arrasto estrada afora. A vovó, desesperada, correu para o telefone e ligou para o vizinho que conseguiu parar o carro. Quando foram ver só encontraram mais a corda.

De noite, Hércules voltou para casa todo esfolado, mas não sem antes passar na casa da cadela em cio. Soube-se, mais tarde, que naquela noite ele ganhou o coração dela, não se sabe se por merecimento ou por pena porque quando nasceram os filhotes, vários deles nasceram com a cara, ou melhor, com o focinho dele.  Hércules se recuperou do trauma e viveu, ainda, por muitos anos a tempo de conhecer e curtir seus filhotes e netinhos.  

 


 

domingo, 4 de outubro de 2020

UMA TRAGÉDIA NA FAMÍLIA VOGT

 
  






 

UMA TRAGÉDIA NA FAMÍLIA VOGT

 

     A casa já estava pronta.

Como era costume na época, Valentim, depois do casamento, morou, durante um período, na casa dos sogros em Badenserthal. Durante esse tempo,  juntou algumas economias para comprar uma porção de terras do padrasto em Arroio Canoas. Muitas vezes passava temporadas por aqui construindo a casa, o paiol e demais benfeitorias necessárias para iniciar sua atividade de agricultor.

Ela estava grávida. Apesar da insistência da mãe, Otília quis ter seu filho na sua nova casa.

O pequeno Nelson nasceu em 28 de julho de 1929. A mãe Ana veio dar seu apoio durante o parto que foi assistido por Nicolina.

Tudo corria bem com o novo casal que estava jubiloso com o nascimento do pequeno Nelson. A família Vogt mostrou-se presente e várias vezes alguém vinha de Badenserthal visitar o novo casal e acompanhar o desenvolvimento do menino.

No primeiro aniversário de Nelson vieram a vó Margareta, um dos rapazes e as duas filhas menores, Agata e Escolástica, que ainda não conheciam o sobrinho, e queriam muito vê-lo.

Na despedida a vó segurou o pequeno com as duas mãos debaixo dos bracinhos e o ergueu até a altura do rosto. Contemplou-o por um longo tempo, depois beijou-o na testa, e aí o trouxe para junto de si e carinhosamente o apertou contra seu peito. Se despediu de Valentim e depois de Otília com um longo abraço e cochichou ao seu ouvido:

- Cuida bem da tua família. O Valentim é um bom homem.

Otília jamais podia imaginar que aquele seria o último abraço que daria na mãe.

Em 1931 um manto tenebroso caiu sobre a família Vogt. A febre tifoide (tifo), num curto espaço de tempo, ceifou impiedosamente a vida de dois irmãos e da mãe de Otília.

 O Nelson ainda era pequeno e ela já estava grávida de Anselmo. Decidiram que ela não iria aos funerais temendo contaminação.

Anna Margareta Vogt Rockenbach morreu aos 53 anos, Pedro Aloisio aos 20 e Henrique aos 17, e estão enterrados no cemitério de Badenserthal (Júlio de Castilhos).

A febre tifoide vitimou muitas pessoas na região. Em Arroio Canoas morreram três filhas da família Santo Chies.

Nelson foi professor em Boa vista e em São Bernardino SC onde vive ainda hoje com 91 anos.

A primeira vacina contra o tifo foi desenvolvida por Almroth Edward Wright em 1896.

A cloração da água foi uma medida importante no combate à doença.

Fontes:

- Google.

- Compêndio elaborado por João Schlindwein.

- Depoimentos de minha mãe Otilia, Agatha Vogt, Astor Vogt, Vilmar Käfer e Norma Royer.