UM RATO NO
VESTIDO DE TIA CLARA
Antes do advento dos
modernos métodos de armazenamento, os ratos e o caruncho faziam grandes
estragos no milho guardado nos paióis sem proteção alguma contra essas
pragas. Lembro que muitas espigas estavam completamente carcomidas pelo
caruncho sobrando, praticamente, só palha, sabugo e a casca do grão.
Era uma tarde chuvosa de
inverno e a Tia Clara estava lá em casa. Há vários dias a chuva não dava
tréguas e ninguém mais aguentava ficar trancado dentro de casa. Todos estavam impacientes
e não havia mais o que inventar para espantar a mesmice daqueles tediosos dias.
Então finalmente uma
ideia:
“De milhe stôs rom refe”. Era uma expressão, em alemão, que usávamos
e significava revirar o monte de milho para caçar os ratos que ficavam alojados
entre as espigas.
A ideia provocou um
alvoroço entre a gurizada. Finalmente, alguma coisa nova, e tão oportuna que
até Tia Clara ficou entusiasmada. E por mais que papai tentasse convencê-la do
contrário ela estava decidida a participar da caçada e não se deixou persuadir
pelos argumentos de papai.
Levamos o cachorro e
dois gatos para auxiliar na caçada. Tia
Clara se armou com um chicote. Disse que era a melhor arma para pegar ratos.
O monte de milho já era
pequeno e nada de os ratos aparecerem. Todos nós estávamos excitados na
expectativa de aparecer o primeiro rato quando Tia Clara gritou:
-Aqui um!
Ela tentava acertá-lo e
batia, com seu chicote, para todos os lados. De repente gritou desesperada:
-Ele subiu pela minha
perna! Está escondido debaixo do meu vestido! Ninguém tinha visto o rato. Só
Tia Clara. Foi um tumulto geral. Alguns riam do desespero da tia e outros
também gritavam vendo-a naquele estado. Ela dava saltos, sacudia o vestido e
gritava. Por fim tirou o vestido, jogou-o num canto e em trajes íntimos correu
para cima e se trancou no quarto. Do rato nenhum vestígio. Papai concluiu que
tudo fora imaginação dela.
A caçada foi proveitosa.
Vinte e cinco ratos adultos e mais uma ninhada de filhotes. Deixamos tudo em
ordem e recolocamos o milho no seu lugar. Papai recolheu o vestido e subimos
para ver como estava a Tia. Depois de muito insistir conseguimos que saísse do
quarto e viesse para a cozinha onde estavam todos. Papai aproveitou para dar
sua alfinetada na tia. Disse que aquilo tudo foi só coisa da cabeça dela.
Então Tia Clara disse
que ia lavar seu vestido. Antes de mergulhá-lo na água deu uma sacudida. Então
o desespero voltou.
- Aqui está ele!
O rato continuava
escondido no vestido dela. Foi o vigésimo sexto da caçada.
Não tinha sido coisa da cabeça dela como papai
supunha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário